domingo, 8 de junho de 2003

Arrependimento...

“O programa do Serra era melhor do que o do Lula. Mais bem estruturado, mais claro. Talvez por isso ele tenha perdido.” Essa frase parece ser dita por um tucano, aliado do Serra, desiludido como a maioria dos brasileiros que possuem outra fonte de informação que não o Jornal Nacional com a ortodoxia do governo Lula. Porém, trata-se da fala do Francisco de Oliveira, sociólogo da U$P, que participou da elaboração do programa de reforma política do candidato... Lula.

Quem costuma acompanhar a Folha de São Paulo provavelmente deve achar eufemismo dizer que o programa do Serra é melhor, porque o programa do Lula, o programa que seria uma alternativa ao neoliberalismo dos anos Fernandinos, não existe. Pelo menos foi o que disse um dos cabeças do PT em artigo na página A3 da Folha, dias atrás: o PT vai tentar construir uma alternativa ao modelo vigente na base da tentativa e erro, foi o que mais ou menos disse Tarso Genro. Claro que a construção dessa alternativa depende ainda da coragem do Lula, Palocci e cia de romper com o modelo vigente, algo que parece muito distante, visto que o governo “beijou a cruz” da ortodoxia, nas palavras do filósofo petista Paulo Arantes.

Enquanto não constrói a alternativa, Lula tem feito um governo à sombra do seu antecessor: viagens internacionais (segundo o Estado de São Paulo de hoje Lula percorreu maior quilometragem que FHC), muito blablablá, Refis, reformas da previdência e tributária reacionárias, ACM, PMDB, e a imposição do pensamentos único (o mesmo dos anos FHC).

Se José “Rota na Rua” Genoíno resolver fazer um expurgo de verdade nos quadros do PT daqueles que pensam diferente dos cabeças do partido – e não apenas escolher três para cristo –, não vai sobrar tanta gente assim.

Ah, se arrependimento matasse...


Campinas, 08 de junho de 2003

quarta-feira, 28 de maio de 2003

Sobre certezas e sua eternidade

O mundo é mudança. Quantas vezes já não disse isso, quantas vezes não tornarei a repeti-lo, na esperança de me convencer do que eu já estou convencido. É preciso recordar-se sempre que o mundo muda a cada instante: por mais que tenhamos isso fresco na memória, não raro nos vemos acreditando na eterna imutabilidade do mundo. Crença que sabemos ser equivocada, mas mesmo assim nos agarramos com todas as nossas forças.

Às vezes caímos no extremo oposto: duvidamos de cada verdade: como o mundo é feito de mudanças, não há possibilidade de verdades, não há possibilidade de certezas. Outra vez entramos pelo caminho errado.

Verdades existem, sim. Certezas existem, sim. O que precisamos nos convencer é de que as verdades e as certezas não são eternas; elas podem ser verdadeiras hoje, mas falsas amanhã, isso, porém, não invalida a veracidade do hoje.

Ora, mas por que acreditar em certezas instáveis, que serão falsas amanhã, perguntarão alguns. Não tenho a resposta para tal pergunta, mas imagino que precisamos acreditar nessas certezas para conseguir viver. Acreditar nelas, torcer para que sejam certezas até o fim dos nossos dias, verdades nas quais nos apoiaremos, porém não podemos estar desarmados de que um dia tais certezas podem ruir.

E se nos abandonarmos a essas certezas e elas ruírem? Vai doer muito, sem dúvida. Por mais que estejamos “preparados”, vai doer. Por isso é bom sempre lembrar todo dia de que a vida é dinâmica, que as verdades não são eternas, mas fazer isso sem se entregar ao niilismo desesperado que essa ausência de verdades fixas pode nos levar; niilismo que prega preservar o peito para não sofrer, preservar o peito e não viver a vida na sua plenitude.

A dor, até certo ponto, faz parte da vida; faz bem para a vida. Uma vida só de alegrias não é vida, é ilusão.


Campinas, 28 de maio de 2003