segunda-feira, 22 de dezembro de 2003

O nobel de economia

Tinha entrevista com o senhor ministro da economia Antônio Malan Palocci Filho na Folha de domingo. Eu li. Mais por masoquismo que por informação, afinal, é claro que dele não há muito o que tirar, visto não possuir idéias próprias, e se utilizarmos a definição de George Orwell, para quem ortodoxia é não pensar, podemos concluir que Palocci tem essa grave limitação características das amebas.
A entrevista, como era de se esperar, não é nada de mais, serve mais pra gente passar raiva. Diz ele que o momento mais difícil do ano foram os três primeiros meses. Óbvio: foi o período em que a parcela ilustrada da população ainda tinha esperanças no governo (porque o povo pode ser ludibriado com qualquer personagem de novela ou notícias inventada no Jornal Nacional).
Mas a melhor parte da entrevista, quando Palocci mostrou ao que veio, um momento para calar os opositores, os que dizem que ele não pensa, onde ele deixou claro que conhece a fundo os problemas brasileiros e tem uma fórmula para resolvê-los (fórmula muito bem embasada, por sinal), de uma clareza de pensamento e objetividade foi quando respondeu à seguinte pergunta: Avalia-se que o crescimento em 2004 pode vir sem gerar empregos. Outro risco é uma crise externa devido a uma possível valorização do dólar se houver alta dos juros americanos. Como conciliar crescimento, geração de emprego e a preparação para uma eventual turbulência? A resposta, curta, direta e precisa: Bater escanteio, correr até a área, cabecear e fazer o gol. Veja só, que discernimento! Quanta lucidez do seu papel, e dos problemas econômicos que o Brasil pode enfrentar! Palocci falou qual o problema, quais suas causas principais, como saná-lo, por quais meios, e aonde se vai chegar com toda esse plano econômico para o Brasil!
Além de não ter idéia própria, não pensar, Palocci não tem sequer originalidade nas suas metáforas. Poderia muito bem se demitir do cargo de ministro da economia e assumir o posto de papaio de navio pirata do Lula. Seria um ganho pro Brasil, sem dúvida.

Pato Branco, 22 de dezembro de 2003

segunda-feira, 15 de dezembro de 2003

Prioridades

Estava eu zapeando os canais pela tv quando me detive em um debate sobre os problemas da saúde pública. A discussão se deteve em dois eixos principais: a má formação de certos médicos, que precisam fazer cursos de aprimoramento mas não fazem, e a má distribuição dos médicos pelo país. Assim foi a discussão por vários minutos, até o âncora chamar uma nova notícia. Não houve em todo esse debate qualquer menção sobre verbas para a saúde, superávit primário, ou qualquer coisa do gênero.
Estranhou? Eu também. Claro que não se tratava de um debate sobre a saúde pública brasileira, e sim sobre a de Portugal um dos primos pobres da União Européia , mas mesmo assim, o fato de não se entrar em questão de se haverá verbas ou não, e onde serão gastas essas verbas caso sejam liberadas surpreende um brasileiro típico, acostumado com a tecnocracia fiscalista e liberal dos últimos dez anos. Não deixei de ficar surpreendido ao lembrar que a vida política de um país pode não se reduzir a fechar o caixa para pagar os juros no fim do ano ou agradar os mercados, podendo, inclusive, tratar do bem-estar da população. Tudo uma questão de prioridades. Em Portugal, o bem-estar da população; no Brasil, o bem-estar dos especuladores.
No dia seguinte, enquanto esperava minha namorada ser consultada, chegou um homem que precisava fazer alguns exames pelo INSS. A secretária, muito ocupada em lixar a unha, não se deu ao trabalho de olhar para o homem, para informá-lo que o INSS estava em greve e o médico não estava atendendo, que quando a greve terminasse ele deveria ir novamente ao INSS marcar uma nova data para os exames. Enquanto isso o governo Lula lamenta não ter podido cortar uma parcela da verba da saúde, tal como tentara, para agradar o maltrapido mercado. Prioridades.

Campinas, 15 de dezembro de 2003