segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A sensação de insegurança

Este domingo uma amiga, a Aline, me chamou para uma festinha bicho-grilo na república de uns amigos dela que fica a trinta metros da minha casa. De bicho-grilo nada tenho. O mais próximo que chego é meu ethos de habitante de cidade pequena: gosto do silêncio, de ouvir os sons da natureza, de assistir a pores-do-sol. Talvez outro ponto comum seja minha preferência por música andina. De qualquer forma, aceitei o convite de bom grado e passei momentos agradáveis escutando o pessoal tocar. Mas não é da festa que quero falar.
A república fica numa casa de quartos grandes e janelas pequenas, sala e cozinha espremidas e um enorme quintal cheio de árvores. Antes desse pessoal havia ali a república de uma outra amiga. A diferença na atmosfera da casa é impressionante - e não falo aqui da decoração.
O portão sempre trancado; à noite, cadeado extra. No meio do terreno holofotes para certificar que não havia ninguém à espreita. Na casa, a chave garantia a segurança. Isso na época em que minha amiga morava lá.
Agora, durante o dia, ao menos, o portão fica destrancado. Os holofotes não estõa mais lá. Um puxado que acumulava entulho foi reformado e virou o quarto de um dos moradores - quarto sem portas nem janelas e com um fogão à lenha. Os carros desocuparam a grande garagem, que virou a sala, local de ensaio e de convívio.
Antes a casa transpirava medo na sua busca por segurança; hoje passa tranquilidade, grande receptividade (é comum bichos-grilos em andança pararem um tempo ali). Ainda que Barão Geraldo seja um bairro bastante visado por assaltantes, a sensação de segurança é maior agora do que antes.
Ao voltar da festa, destrancar-trancar os dois portões que separam minha casa da rua, senti inveja deles. Juntou uma saudade da minha infância, o portão de casa escancarado (ainda hoje é assim) e o maior risco ser o de perder o relógio ou um tênis vermelho por tê-los esquecidos a madrugada toda no pátio da frente.

Campinas, 14 de setembro de 2009

Publicado em www.institutohypnos.org.br

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Carta para a Folha: Polícia

"A foto na página C6 da Folha de 9/9, em que se vê um policial apontando uma pistola contra professores que manifestavam em frente à Assembleia Legislativa do Rio, não mostra uma 'confusão', como diz a legenda, mas um absurdo que permeia a mentalidade da polícia brasileira (e não só): fosse o Brasil um país realmente preocupado com a democracia de fato e esse tipo de 'confusão', arma letal apontada contra pessoas que fazem uso dos seus direitos constitucionalmente garantidos, ganharia a primeira página do jornal e causaria de imediato a demissão do policial e a queda dos seus superiores. Além de nova manifestação. E se é assim com professores, em manifestação no centro da cidade do Rio, noticiada pela imprensa, não é difícil imaginar como não é em Heliópolis. Mas para a imprensa, como para o Estado --enfim, para a nossa elite--, a violência é sempre culpa do crime organizado, o povo é sempre ignorante e facilmente manipulável, a democracia é sempre um valor a ser defendido a tiros de revólver contra quem quiser fazer uso dela."

Campinas, 11 de setembro de 2009