quarta-feira, 9 de março de 2011

Sentir-se em casa

Uma coisa é ter uma casa – essas com paredes e teto, diferente da da canção infantil –, outra coisa é sentir-se em casa – esse sentimento que eu não vou saber explicar aqui. Para isso ter casa ajuda – não garante. E se em uma época a casa pode servir, em outra não mais: depende do momento, do humor, do contexto.

No meu caso, há momentos nos quais voltar para minha casa dos meus pais, em Pato Branco, é sentir-me em casa. Tem horas, isso não basta: preciso estar no meu quarto, onde acordei minha infância e adolescência. Outras, mais especificamente ainda, tenho que me trancar em companhia de meu piano – que ainda me tolera os dedos a cada ano menos ágeis. Mas tem vezes que ele – meu porquinho da índia –, é deixado fechadinho no seu canto, porque meu sentir-me em casa está antes de tudo na companhia dos meus pais e do meu irmão.

Contudo, como minha vida acontece a mil quilômetros de distância, Pato só tem a sensação de casa se for aproveitada por períodos curtos. Logo preciso voltar para Campinas, onde o sentimento ficava restrito quase que só à minha casa mesmo – onde moro já há mais de sete anos (é tempo para estudante) –, até porque Campinas não me inspira nada nesse sentido.

Diferentemente de Ribeirão Preto, onde uma série de lugares mo inspiravam, além de onde morava: a USP, a praça Camões, o Theatro Pedro II.

E de Ribeirão veio me visitar este final de semana um amigo a quem muitas vezes me refiro como “meu irmão mais velho”, o Paulo. Me pegou num momento tenso, com prazo do mestrado estourando, e essa tensão reverberando para todos os lados da minha vida pessoal. E um dos pontos que atinge é justo que não tenho me sentido em casa em lugar algum, sequer em minha casa – até pela vontade de mudar, que já não deixo mais guardada, como na música da Madredeus (apesar de não estar tão bem encontrada).

O final de semana em companhia do Paulo foi curto, não deu para pôr papo em dia (nunca dá), não deu sequer para discutir nossas últimas alegrias e tormentas, muito menos para debater temas filosóficos, epistemológicos ou de caso. Serviu apenas para reencontrá-lo, para um abraço: foi um breve sentir-me em casa – que eu tanto precisava.

Casa que há dez anos encontro como nenhuma outra, impressionantemente independente de variações de clima, de humor, de momento, de contexto...


Campinas, 09 de março de 2011.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

De onde surgem os sapos?

Sempre me perguntei de onde surgem os sapos. Porque é uma chuvinha mais forte e pronto, já tem um, às vezes dois, pelo meu quintal, que nada tem de atrativo a sapos ou rãs (que também dão seu ar da graça). E minha casa não fica tão perto do rio que passa no fim da rua: uns trezentos metros ou mais. Teriam que ser muito velocistas – e fortes – para vencer tão rápidos tamanha distância contra a corrente – que é uma subida quase sem boca de lobo, e a enxurrada desce forte para um sapo, imagino. Marreco ainda vá lá, apesar de eu nunca ter visto marreco nestas cercanias, para um ter batido em minha janela às três da manhã. Mas essa é outra história.

Aprendi na escola que sapos nascem girinos. Mas depois de grandes como eles se movimentam sem serem vistos? Teletransporte? Patas batráquias divinas os transportam pelo além? Por mágica? Isso até serem pegos por um carro no asfalto. Pois hoje, estendendo roupa agora à noite, vejo algo se mexendo de uma fresta do cimento próxima à casa– e fazendo um barulho consideravelmente alto para o tamanho da abertura. Logo brotou um sapo do buraco – bluf! Não chovia para o sapo ter aparecido – talvez tivesse decidido tomar uma fresca. O barulho vindo do buraco seguia, vez ou outra. Talvez fosse dia de faxina, e ele tivesse sido posto pra fora enquanto isso, não sei. Se era, invejei-o: minha casa precisava também de uma faxina para além da de rotina, porém meu tempo anda escasso, minha vontade, nem a isso chega, e não há ninguém para me pôr para fora e fazê-la por mim.

Bem, resolvido de onde surgiam os sapos pelo meu quintal a qualquer chuvinha, pensei que poderia dormir melhor sem essa batráquia questão, mas me dei conta que havia outra: como foram parar ali? A distância, a subida, a correnteza seguem as mesmas. E há quanto tempo estariam por ali – se é que não era outro solitário como eu –, para eu só agora perceber?

E onde há marrecos por estas bandas para um ter batido na minha janela às três da matina?


Campinas, 19 de fevereiro de 2011.