A internet tornou-se parte importante da arena política, isso é inegável. Uma mostra foi a eleição para presidência dos EstadosUnidos de Barack Obama, que soube fazer bom uso da rede, principalmente para arrecadação de fundos pra campanha. No Brasil, temos presenciado este ano reiteradas discussões – classificá-lasde “quente” seria eufemismo –, cuja repercussão tem reverberado muito além da internet: nos meios de comunicação tradicionais, como também foi responsável pela articulação do protesto “churrascão da gente diferenciada”, por exemplo.
De modo que a internet pode ser encarada como um paliativo – apresentado pelo status quo como suficiente – para a falta de legitimidade das instâncias representativas das atuais democracias – legitimidade aqui não no sentido legal, antes nosentido “moral” –, como dão mostras não apenas os índices de abstenções, votos brancos e nulos de eleições pelo mundo, como o efervescente ano de 2011, seus ni-ni espanhóis, estudantes chilenos, turba londrina, e por último o Occupy Wall Street – para não falar dos mimados-vagabundos-mascarados da USP e de Harvard, que invadem reitorias.
Os exemplos acima não foram ao acaso. O Brasil, até os recentes eventos da USP, curiosamente vinha num contínuo contra-fluxo, comper da de visibilidade dos seu principais movimentos sociais “de rua” – como MST e MTST. Na sociedade do espetáculo, um movimentode massa perder visibilidade implica quase necessariamente na perda de poder – serve de ilustração a grande disputa pelo edifício São Vito, em São Paulo, sinônimo de discussão sobre moradia popular e direito à cidade, que foi ignorado pela imprensa, e passou despercebido pelo respeitável público.
Me volto à mais aclamada das manifestações do ano, depois da primavera árabe, o Occupy Wall Street,que se disseminou por diversas cidades dos Estados Unidos e do mundo. O “Empty Wall Street” promovido pelo governo, com apoio da corte suprema do país, que declarou legal a proibição de acampar em locais públicos, deixou claro que a internet pode ser auxiliar na arena política, mas está longe de ser seu palco principal – que continua sendo a rua.
Comonos séculos passados, quem está com a rua está com o poder de fato, e as demonstrações desta semana mostram que não é preciso sequer estar armado. Buscou-se no discurso médico-científico a alegação do risco de doenças, e no discurso do medo (que já prescinde de cientistas) a necessidade de segurança, sob o pretenso aumento da violência (brigas, mortes, drogas), a legitimidade para ouso da repressão policial; sem precisar, assim, admitir que o verdadeiro motivo para o esvaziamento dos locais públicos é o fato da efetividade da representatividade democrática e desse poder descolado da população estarem sendo não apenas questionados, mas corroídos por algumas milhares de pessoas acampadas em uma ou algumas praças.
Retomo a discussão mais em evidência por estestristes trópicos, semana passada: por que a PM e não uma estação de metrô na USP?
Pato Branco, 16 de novembro de 2011.