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sexta-feira, 13 de junho de 2014

13 de junho: tudo tomou seu lugar depois que a banda passou[Copa 2014 (toques)]


O dia seguinte foi um dia aparentemente normal. Poucas camisas amarelas no centro de São Paulo, que seguia como se fosse um dia comum. No máximo, qualquer confusão mental por conta do feriado não emendado na quinta: é segunda ou é sexta? No prédio de escritórios, um engravatado sai do elevador e fala para a funcionária que organiza a fila, vestida com uma camisa amarela sob o uniforme: Tira essa camisa. Seu tom não era de brincadeira. Talvez tenha sido um dos que xingaram a presidente da República, no dia anterior. A funcionária responde: Eu não. Ganhamos. Tudo bem que o pênalti foi roubado, mas importante é que ganhamos. Três a um, com direito a gol contra, pênalti duvidoso, virada, e dois gols do novo queridinho da Globo, agenciado pelo antigo queridinho da Globo (e agora comentador imparcial do seu cliente). Não me dei o desprazer de ouvir o jogo narrado pelo Galvão Bueno. Imagino que ele deve ou ter relevado o erro do árbitro - futebol é assim -, ou elogiado a malandragem brasileira, capaz de achar um jeito - qualquer jeito - de superar a adversidade. Esse é o jeitinho brasileiro! Creio já tê-lo ouvido mais de uma vez fazer esse louvor ao mau-caratismo que os donos do poder querem impingir como ethos tupiniquim, quando não é mais que sua própria moral - que o diga as acusações de vultosa sonegação de impostos por parte da Globo. Ganhou, e daí? Foi essa a pergunta que me fiz ao dar uma volta por São Paulo após o jogo. Pessoas de amarelo passavam contentes como se algo tivesse mudado. Carros passavam gritando, buzinando, cornetando, flamulando a bandeira nacional. Que nação é essa que respeita astros-pop futebolísticos, outdoors ambulantes, mas não a instituição da presidência da República? Que mereça vaias (e não xingamentos), eu concordo, mas quem tinha motivos para vaiá-la estava em casa ou no Anhangabaú. Que nação é essa feita de pessoas que dizem que o país não vai pra frente, se eximem de cumprir suas leis e comemoram, pachequistas, gol de pênalti roubado? Ganhamos o que?

São Paulo, 13 de junho de 2014.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

12 de junho: alguma coisa está fora da ordem [Copa 2014 (toques)]


Ouço no rádio que pela manhã houve protestos contra a copa. Ao sair de casa, pouco depois da uma da tarde, imagino que me depararei com mais um. Me engano. Sob sol e calor, noto algo estranho no clima da cidade. Pessoas e mais pessoas vestidas de amarelo barulham cornetas e mais cornetas. É clima de copa do mundo, mesmo. Mas não só. Vou até a Liberdade, ponto habitual de passeio de paulistano em finais de semana e feriados. O bairro está vazio, poucos restaurantes abertos - e os milhares de turistas esperados, servirão todos no estádio de Itaquera? A região da Sé está superpoliciada - mas não há ameaças de manifestações. Me pergunto como foi possível ter protesto num dia assim, de comoção nacional: devem ter sido os gringos - tanto que a PM até apresentou as nossas ótimas balas de borracha à jornalista da CNN. Na Luz e República, onde no dia anterior avistara muitas pessoas trajando o uniforme xadriculado vermelho e branco da Croácia em meio a quinquilharias verde-amarela vendidas por camelôs, trombo com apenas um - talvez atrasado pra ir para o estádio. O que há são pessoas de amarelo: reparo que há muitas com o uniforme da Colômbia. Praticamente só no alto Augusta e Paulista vou avistar outros uniformes: França, Alemanha, México, Chile, Irã, Japão e muitos da Colômbia. No Anhangabaú, a Fifa Fan Fest é encoberta aos transeuntes do Viaduto do Chá. Em frente ao Teatro Municipal, hare krishnas dançam e cantam. Turistas tiram fotos com potentes máquinas. Uma hare krishna faz o mesmo dos turistas com equipamento equivalente. Passa por mim um argentino com o uniforme do time do Papa. Quatro branquelos falam um idioma estranho, estão com os pescoços envoltos em cachecóis da Rússia - reconheço pelo distintivo da federeção sob o alfabeto cirílico. O termômetro marca vinte e oito graus. Vai ver são da região tropical da Rússia. No vão do MASP, cartazes de Fora Dilma citam as escrituras. São três da tarde, pessoas vestidas de verde-amarelo corneteiam na rua - os shoppings fecham as portas.

São Paulo, 12 de junho de 2014.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

11 de junho: o dia anterior [Copa 2014 (toques)]

Passo pelo viaduto sobre a Radial Leste, na rua Galvão Bueno, no bairro Liberdade. São cerca de cinco horas da tarde. Pessoas se aglomeram. Me aproximo, curioso. Vejo o trânsito parado - imagino ser alguma manifestação. Me equivoco: uma segunda moto da polícia militar chega para ajudar a que já está fechando a pista. Carros estão parados, por entre eles motos seguem até onde podem, e vão se acumulando. É a seleção! É a seleção! Algumas pessoas comentam. A aglomeração aumenta, celulares apontados para a via, na expectativa do ônibus da seleção. Carros e motos parados buzinam empolgados. Desponta da alça de acesso duas motos e um carro da polícia, logo após o ônibus. Algumas pessoas puxam o coro: É campeão! É campeão! É campeão! Acenam. Ainda não vejo cena de histeria no pequeno grupo sobre o viaduto quando alguém lança o aviso: É o ônibus da Croácia. Os gritos de campeão não cessam: vão diminuindo conforme as pessoas vêem que não se tratava de uma piadinha infame. Terminam em um suspiro geral de frustação quando não resta dúvida de que é a seleção croata que passa - mas as pessoas não deixam de tirar fotos. Consigo reparar em um dos jogadores, fone de ouvido, olhando a cidade de São Paulo - que, na minha opinião, se apresenta feia e desinteressante a quem a percorre motorizado por suas grandes artérias. Não há mais buzinas, nem gritos das pessoas no viaduto, e a caravana passa. O trânsito é liberado - as motos saem na frente, como em um enxame de insetos a se espalhar por todas as pistas. As pessoas seguem, decepcionadas por não ser a seleção brasileira, mas satisfeitas por terem tirado foto da seleção de alguma seleção qualquer. Se servir de consolo, alguns metros adiante há outra aglomeração. Não se trata de jogador ou seleção alguma: as pessoas anunciam ser a apresentadora Sabrina Sato, dentro de uma loja, fechada por três volumosos leões-de-chácara. Ao passar espicho o pescoço, não vejo nem a apresentadora nem ninguém especial. Quem sabe eles não tenham melhor sorte do que eu.

São Paulo, 11 de junho de 2014.