sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Luiza está na mesa, o BBB está no ar

Não sabia da história de “menos Luiza, que está no Canadá”. Devo culpar meus contatos no facebook, que passam o dia a compartilhar coisas dos mais diversos matizes, de denúncias sérias, artigos bons, a piadas de segunda, denúncias furadas e bobagens mil, e deixaram passar essa. Foi só hoje pela manhã, quando pipocaram nas atualizações dos amigos vídeo com Carlos Nascimento, no Jornal do SBT de ontem (19), que fui ver do que se tratava – isso após alguém ter comentado que era bom dar certa liberdade aos âncoras, feito por algum amigo que certamente não ouve BandNews FM, com o Boechat enchendo a voz para soltar diariamente seu senso comum de classe-média-fascistóide-indignada travestida de opinião séria e independente.

Assisti ao vídeo do Nascimento. Fui, então, atrás do que ele se referia: a reportagem no mesmo dia 19, no Jornal Hoje, e a propaganda em que era dita a famigerada (dizem) frase “menos Luiza, que está no Canadá”. A propaganda, de um apartamento de alto-padrão (alto-custo, para sermos corretos) em João Pessoa, é banal e boçal: não tenho dúvidas que a frase se encaixa bem melhor no contexto do comercial do que o apartamento no contexto urbano. A reportagem da rede Globo é constrangedora: conseguiram utilizar quatro minutos do jornal do meio-dia para falar abobrinhas quaisquer sobre Luiza, e o fato de ser a última notícia mostra a que veio: para ser o assunto comentado da edição – espectadores de tevê, pelo próprio meio, têm memória curta, vão lembrar mesmo da última notícia antes do intervalo.

Dito e feito, textos sobre o caso do estupro no BBB, que jorravam como o ouro a sair da bolsa de Peter Schlemihl, desapareceram. Que não tenha havido estupro, isso é de menos, a oportunidade de seguir discutindo problema seríssimo estava dada. Entretanto, a polêmica em torno do programa da Globo – e a conseqüente discussão sobre o estupro – estava encerrada, a questão agora era Luiza, que voltou do Canadá e foi notícia no Jornal Hoje. E no sistema da indústria cultural, funcionando justamente como sistema, até mesmo a crítica serve positivamente àquilo que teoricamente está depreciando.

Me irrito com minhas crônicas conclusivas – até porque, dizia Pessoa, a única conclusão é morrer –, porém me parece evidente que a Globo sabe se mexer no terreno da comunicação de massa, para muito além de televisão e seu portal na internet. Redes sociais incomodam, podem até acabar impondo uma pauta ou outra, mas, no Brasil, quem ainda manda é ela. E não é o facebook que vai contestar seu poderio. Não é xingar muito no tuíter que mudará algo. É ocupar (de verdade e não só a passeio) a rua, o espaço-território, real, o que ainda tem força: a ocupação da USP pode ser tida como exemplo: se manteve em evidência por tempo considerável graças à ação radical – inteligente ou não, se mostrou oportuna – de alguns grupos extremistas.

Quem acredita no poder revolucionário da internet, das redes sociais, deve ver esta tirinha de André Dahmer:



Campinas, 20 de janeiro de 2012.

ps: não há erro de português no título.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Educação para salvar o Brasil da obesidade

Sempre que escuto os termos “bispo” e “escola” ou “educação” juntos n'A voz do Brasil (sim, acreditem!, escuto o programa com alguma freqüencia, principalmente os jornais dedicados às casas legislativas), me arrepio imediatamente e já me preparo para o pior. Felizmente não foi o que aconteceu quando escutei a proposta do bispo Crivella (PR-RJ). A intenção do senador é boa – educação alimentar nas escolas –, porém abusa da boa vontade e evita a raiz do problema: como um rabanete, escondido na seção de verduras e – a depender do senador – nos livros escolares, pode competir com o um BigMac, estampado em toda a cidade, em todo lugar, gritando a toda hora na televisão? Se o bispo Crivella tivesse assistido a Super Size Me, filme de 2004 de Morgan Spurlok, teria se dado conta de que sua proposta é inócua sem proibir a propaganda de alimentos industrializados – algo que os congressistas suecos fizeram já há um bom tempo.

Menos esperançoso das boas intenções, o senador Wellington Dias (PT-PI) resolveu tratar do maior problema de drogas do país da maneira mais sensata: no relatório final da Subcomissão Temporária de Políticas Sociais sobre Dependentes Químicos de Álcool, Crack e Outros, encaminhado ao executivo, propôs que fosse proibida a propaganda de bebidas com teor alcoólico acima de 0,5% – o que impediria a propaganda de cervejas e bebidas ice. A relatora do trabalho, Ana Amélia (PP-RS) se opôs à idéia: disse ela que a autorregulamentação, tanto das indústrias de bebida quanto das agências de publicidade, dão conta de alertar os problemas do álcool e evitar maiores danos aos cidadãos. Sem dúvida, a frase “se beber não dirija” acaba por ofuscar todas as gostosas da propaganda de cerveja vinculadas imediatamente antes. Inclusive poderiam começar uma outra, de eficácia equivalente, também voltada para o problema de violência no trânsito: “se for bater não dirija”.

Queria estar errado, contudo, aposto um BigMac com cerveja que a proposta do bispo Crivela passa, e a de Wellington Dias, não. Primeiro porque apela para a educação, essa grande panacéia brasileira; segundo, porque não mexe no sagrado direito de expressão das empresas de publicidade – as quais, junto com a mídia, não conseguem entender por que ainda não tem uma cláusula pétrea na Constituição garantindo esse seu direito. Afinal, proibir propaganda afeta não apenas o produto anunciado, como toda a cadeia de produção da imagem a ser vendida, em especial, as emissoras de tevê.

E não há porque proibir propaganda: a criança obesa, o adolescente com diabetes precoce, o jovem que volta da balada dirigindo embriagado e avança contra seis pessoas no ponto de ônibus, o pai de família que bate na mulher ao voltar do bar bêbado, tudo isso pode ser resolvido com educação – uma época dir-se-ia “amor”, mas vivemos num tempo mais realista.

Campinas, 18 de janeiro de 2012.