segunda-feira, 1 de outubro de 2001

Sim, eles existem de verdade!!!

"Ortodoxia é não pensar"
George Orwell, 1984

Até ontem eu cria que aqueles senhores engravatados que apareciam na TV falando bonito era pura representação para aparecer nos noticiários. Eu realmente não imaginava que os senhores Fernando Henrique Cardoso, Pedro Malan e Armínio Fraga (para citar só alguns) quando falavam das diretrizes econômicas de nosso país, de sua inserção no comércio internacional, estivessem falando sério. Eu jurava que quando eles falavam de economia estavam dando uma "zoada básica". Queriam mostrar seu senso de humor. Mostrar que eram uma terceira via do humorismo nacional: nem Casseta, nem Simão. Afinal, de seus pomposos discursos, metade era totalmente incompreensível e a outra era tão absurda que impossível não rir. Mas hoje a Verdade me foi revelada.
Estava eu calmamente "prestando atenção" na aula de filosofia, já quase chegando em Marte, quando algo me trouxe de volta à Terra. Furlan havia comentado sobre a coerência de (nosso presidente de fato) George W. Bush, que pedia aos estadunidenses que continuassem viajando de avião, ao mesmo tempo que concedia a dois militares de médio escalão o direito de abater aviões de passageiros, e abriu um parênteses para dizer que hoje tudo era feito em função do dinheiro, do capital – até agora me pergunto o que isso tem a ver com o conceito de finitude em Heidegger, mas tudo bem. Resolveu então pedir a opinião do estudante de economia da sala. Tento ser o mais fiel possível ao transcrever suas palavras: "toda relação de troca é boa para ambos os lados". Os presentes tentaram argumentar contra tal idéia (é... eu não era o único ingênuo na sala). Usou-se o argumento do valor agregado, de que o Brasil sai perdendo exportando banana e importando computador. Resposta do colega economista (mais ou menos como foi dito): "se o Brasil sabe produzir banana melhor que computador, e os EUA, computador melhor do que banana, o Brasil tem mesmo que vender banana e comprar computador, que assim ele sai ganhando". Para embasar sua resposta "uma regra de três simples prova isso". Eu quis contar para ele que o mundo é ligeiramente mais complicado que uma regra de três simples mas desisti: esse seguidor da seita neopitagórica chamada neoliberalismo (o mundo é redutível a uma regra de três simples!) não dava sinais de que compreenderia.
A discussão teve outras pérolas, mas não vale a pena transpô-las aqui: em qualquer "jornal" da Globo você pode escutá-las – e com a certeza que de fato eles acreditam nas incongruências que dizem.
Isso que ele é aluno da U$P. Imagine como não é na GV ou na PUC. O tipo – e não parece ser um caso isolado – sabe de cor e salteado a cartinha neoliberal. E é de um fundamentalismo de deixar Bin Laden com inveja. Diga-se de passagem, a mesma ortodoxia, o mesmo fundamentalismo dos excelentíssimos senhores que hoje governam nosso país.
Mas não sei porque estou escrevendo isso. Eu, assim como meus estimados colegas, deveríamos sair logo da universidade (aliás, que coisa inútil é universidade do Brasil, salvo a FEA e a Esalq) e ir plantar banana. Eis a forma do Brasil chegar ao primeiro mundo! (Vejam o exemplo de nossos vizinhos da América Central, todos países com excelente padrão de vida). De quebra ainda podemos ser homenageados com uma música do Radiohead!
Oh Banana Co. We really love you and we need you

Ribeirão Preto, 01 de outubro de 2001

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