terça-feira, 7 de janeiro de 2003

A caravana


Saudades do tempo em que se dizia na política que o poder era como violino, pega-se com a esquerda e toca-se com a direita... na era da internet, do big brother, do viagra o poder agarra-se com a direta e toca-se com a direita.
Lula ganhou as eleições. Foi vendido como se vende pasta de dentes, se tornou um ícone pop (ele e o Enéas foram os dois mais pop das eleições), ganhou com um discurso vazio e sempre tentando agradar aos especuladores. O povo? Algumas propostas de impacto, midiáticas. As atitudes concretas sempre se direcionaram ao capital.
Agora Lula faz a caravana da miséria com seus ministros. Para variar, mais um evento midiático. A intenção até é boa, mostrar a verdadeira cara do Brasil para aqueles que decidirão o seu rumo. Só que esqueceram de chamar quem manda no Brasil: até onde sei, nenhum representante do FMI integra o grupo de tal caravana. Já os ministros, é estranho que não conheçam a face do país, que é mostrada em doses homeopáticas a cada esquina das grandes cidades brasileiras. Deve ser porque agora haverá equipes de televisão acompanhando a caravana que eles atentarão para o fato de no Brasil existir quem passe fome.
Enquanto Lula e a maioria de seus ministros aparecem bastante e fazem pouco, tem ministro já mostrando para o que veio. O ministro do trabalho, Jaques Wagner, disse que é contra a multa de 40% sobre o FGTS para demissões sem justa causa (não entendo muito de economia, vai ver que desonerar as demissões aumenta a oferta de empregos).
O governo é novo, mas as emissoras de tv são as mesmas. E para agradar a esses "mesmos" Lula segue a linha de seu antecessor, não apenas na questão trabalhista, como na televisiva: ambos fazem a alegria dos telejornais, um com seus belos discursos, outro com suas caravanas e abraços. Estou sendo um pouco precipitado - mas como dizem que a primeira impressão é a que fica -, parece que trocamos um sociólogo de gabinete, intelectual-de-orelha-de-livro por um astro pop.

Pato Branco, 07 de janeiro de 2003

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