sexta-feira, 19 de novembro de 2004

Como confundir estudantes com a elite reacionária ou Lula, o autista.

Quando na eleição do Lula, parte elitista da sociedade brasileira (não necessariamente a elite) reclamava que ele não possuía instrução, seria um troglodita no governo, sem classe nem finesse. Mas quem diria que Lula não apenas não era rude, como mostraria ter muito mais classe que FHC, o doutor letrado, cosmopolita de maneiras aristocráticas. Enquanto FHC desqualificava seus opositores de uma maneira um tanto raivosa, indelicada e vulgar, chamando-os de neobobos e termos afins, Lula, com a serenidade de um lorde frente a uma cara feia de uma de suas empregadas, chama seus opositores de meninos. E toda essa classe numa resposta de improviso a estudantes que o vaiavam num ato dia 15 de novembro!

Não sou muito adepto a teorias conspiratórias, mas começo a pensar se por acaso o mesmo grupo que seqüestrou FHC, deixando-o desde 94 até hoje nos porões do Palácio do Planalto, e colocando um sósia seu na presidência não fez o mesmo com Lula. Inclusive desconfio que tal grupo não tenha posto um sósia - nem de FHC nem de Lula - na presidência, mas a mesma pessoa com máscaras diferentes. Dizer que o PT federal e PSDB seria a versão tupiniquim do bipartidarismo indistinto estadunidense não me parece muito condizente, pois dizer isso seria dizer que ambos são “faces da mesma moeda”, onde o mais correto seria dizer que são “a mesma face da mesma moeda”. A mesma política econômica, baseada em juros altos e controle do crescimento; a mesma política social, baseada em bolsas-esmolas que aliviam mas não alteram a situação dos marginalizados pelo nosso capitalismo; a mesma prática política - o que faz o fato do congresso estar completamente parado por conta do fisiologismo não ser surpresa alguma; o mesmo discurso de desqualificação dos opositores; o mesmo blábláblá de defesa da nossa democracia capenga e mutilada, dizendo que ela está consolidada e enraizada no “povo brasileiro”.

Esse discurso democrático esteve também na resposta do Lula às vaias recebidas em Maceió, dizendo que as vaias eram a prova que a “democracia no Brasil veio para ficar”. Como falar em democracia em um país em que alguns grupos detém a quase totalidade dos meios de comunicação (para ficar apenas em um exemplo mais crasso)?

Convenhamos que apesar da elite dizer que o PT é um partido autoritário, ele é bem menos truculento que seu irmão gêmeo, o PSDB: na manifestação contra o Lula policiais militares e seguranças cercaram os manifestantes, isolando-os, enquanto que poucos dias antes a Polícia do governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin, descia o cacete contra uma manifestação pacífica de estudantes da PUC, taxada de perigosa (!?). Infelizmente para o governador, dessa vez a grande imprensa cobria a manifestação e as imagens acabaram nos noticiários da tv e nos jornais, que deram a notícia pela metade mas deram: ocultaram por exemplo, que os policiais estavam sem identificação, conforme informou a página do Centro de Mídia Independente - Brasil (www.midiaindependente.org) - diga-se de passagem, prática comum da PM paulista, como pode ser visto em fotos tiradas de outras manifestações (como a da assembléia legislativa de São Paulo.

Mas se o Lula é mais bonzinho que seus irmão do PSDB ele não é menos cínico: alegou que desqualificou os estudantes que faziam protesto porque imaginou que eles fossem da elite alagoana protestando contra seu governo. Teatro do absurdo: estariam protestando por que? Como disse a senadora do PSol Heloísa Helena: “A elite alagoana faz parte do governo”. Se eles tivessem algo para reclamar não iriam passar calor num protesto na rua, iriam direto para a sala com ar-condicionado do presidente.


Campinas, 19 de novembro de 2004

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