quarta-feira, 22 de março de 2006

Para que lado?

Faz tempo que penso em escrever algo sobre as últimas velharias do nosso país (que repetem de maneira vergonhosa a política do império), mas sempre me vem à mente uma tirinha da Mafalda. Nela a Suzanita chega para a Mafalda: “Oi, derrotista! Que há de ruim? Como andam a política, as guerras, as injustiças sociais e todas as calamidades que você vive se amargando? E o futuro como será: negro petróleo ou negro pólvora, hein? Até logo; vou sobreviver um pouco por aí antes que a humanidade se acabe de uma vez”, à qual responde: “Derrotista é você. Não acho que as coisas estejam tão mal a ponto de fazer piada com elas”.
Me pergunto: de que vale dar a gravidade merecida aos fatos? Por que buscar alguma seriedade no escárnio que se transformou, ou melhor, que se revelou, a vida nacional? Mas, quando tento pôr ao menos um ar mais leve (tenho a dona Emengarda pronta para analisar as eleições deste ano) me pergunto: cheguei a este ponto, derrotista? Chegamos a este ponto, em que só nos resta rir para não chorar?
E não falo de nenhum fato específico. É o governo Lula e seus arrombos revolucionários (“revolução” de 64, é bom deixar claro), tentando – no melhor estilo FHC – desviar o foco das denúncias do denunciado para o denunciador. É Lula na Inglaterra falando de Charles Miller ao invés de Jean Charles. É Alckmin e o PSDB com seu discurso incorporado ipsis literis da TFP. É a “alternativa Serra” e suas rampas anti-mendigo. É ver carta na Folha falando que votaria em Fleury para governador. É Ubiratan (para deputado 11.111) sendo absolvido. É a direita raivosa (direitos humanos para humanos direitos) crescendo. É a esquerda burra em disputas fratricidas por qualquer aparelho, em nome de uma sociedade futura que ela tem preguiça de pensar, quanto mais de agir. São os políticos um pouco (atenção ao advérbio “um pouco”!) mais lúcidos que se não desistem da política, tampouco conseguem grande projeção nacional (por interesse daqueles que detêm o poder de “projetar”). São economistas discutindo números, marxista discutindo Marx, a classe média discutindo Big Brother e futebol, e pessoas (dessas de carne e osso, que respiram, pensam, e que chegam até a ter sonhos e a acreditar em Deus) morrendo de fome.
Diante do nosso belo quadro social e político resta a pergunta: para que lado fica a saída?

Campinas, 22 de março de 2006

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