terça-feira, 26 de setembro de 2006

Dossiês e flagrantes, conversa com dona Emengarda

Dona Emengarda (do Clube da Sogra), na sabedoria dos seus 86 anos, diz que já viu muita coisa neste mundo, mas diz muito do que sabe ela não viu. É por isso que sempre fareja algo além do que se vê. Os netos chamam-na de paranóica, dizem que ela é adepta da teoria conspiratória, mas ela não liga, sabe que eles são ainda muito jovens para saber que no escuro coisas também podem acontecer.
Um fato que dona Emengarda anda cabrera é o do tal dossiê apreendido enquanto era negociado com membros do PT. Não que ache que tenha qualquer armação nessa história. Ela sabe, há muito já dizia, que “política tem mais sacanagem do que cinema de rua do interior na sessão da meia-noite” (ela é ainda do tempo que rua tinha cinema). Nunca aceitou tranqüilamente o discurso do PT, apostava para ver que eles eram iguais, mas percebia-se nos seus olhos a vontade de estar errada. “É, meu filho, o pior da velhice é que a busca por novidades fica cada vez mais árdua”.
O que ela não está achando direito é que só o PT esteja andando pelos esgotos nesta campanha eleitoral. “PSDB, PFL e os demais pararam de fazer o que sempre faziam? Eles furavam os olhos até dos aliados!”. Ela lembra do dinheiro da Roseana, que sacramentou a candidatura de Serra, com apoio do PFL, em 2002. Pergunto se ela acha que o PSDB tinha também seu dossiê. “É o mesmo”, me responde, “esse mafioso, o tal do Vedoin, você acha que ele ofereceu o dossiê só pro PT? Segundo o delegado o negócio falava mal de todo mundo, do PT, inclusive.” Quer dizer, então, que a diferença foi que o PT conseguiu efetivar a compra? “Não vou afirmar nada, porque também não sei de nada. Mas você lembra que o Vedoin queria R$ 20 milhões pelo dossiê? O PT ia pagar R$ 2 milhões. Se ele estava esperando 20 e recebeu 2, não pode estar satisfeito, pode? Pra um vende o dossiê, pro outro, o flagrante, e, se bobear, ganha 40.” Fiquei pensativo. “Conheço o Bornhausen desde a época da ditadura, se quiser pode acreditar nele.”
É, ainda sou mais a dona Emengarda. Por mais que não saiba de nada, tudo o que ela não viu nos seus 86 anos não permitem duvidar dela sem provas contrárias.

Campinas, 26 de setembro de 2006

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