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quarta-feira, 2 de julho de 2014

O espetáculo envelheceu? O louvor de Ivana Bentes ao espetáculo.

Acompanho o Facebook da professora de comunicação da UFRJ Ivana Bentes há um bom tempo. Não se trata de alguém que eu admire, nem que eu concorde. Acompanho porque acho interessante alguém de dentro do establishment espetacular apoiar tentativas de criar formas heterodoxas de questionamento da ordem, coisa que professores marxistas que acompanho pela rede do senhor Zukenberg reprovam (para falar o mínimo). Estamos, em tese, no mesmo espectro político, o que não impede que eu tenha muitas críticas às suas colocações. Até hoje evitei explicitá-las para além do círculo de amigos por uma questão hierárquica: afinal, ela é uma doutora, pesquisadora e professora universitária, enquanto eu sou um reles mestre em filosofia, estudante de iluminação cênica e metido a escrever. Se hoje me atrevo a redigir algumas de minhas críticas e publicá-las, é porque ela resolveu se meter numa área para a qual estou qualificado para discutir, dentro da chancela acadêmica a partir da qual fala: Guy Debord e a sociedade do espetáculo. []Não falarei aqui da sua produção acadêmica, que desconheço, e sim do que chega ao grande público leigo, o que não deve ser desprezado nem visto como secundário, a se acreditar no que ela fala a esse público - o que lhe garante o rótulo de ativista. Facebook, entrevistas, mesas-redondas, penso eu que, dentro da sua concepção, são momentos de um mesmo pensamento que se pretende prático e, portanto, se recusa a se engessar em artigos acadêmicos herméticos. Antes de chegar na postagem recente no Facebook, trago minha visão sobre outros dois momentos da professora Ivana. 

 1. II Congresso de Jornalismo Cultural - Ivana x Veja 
A primeira vez que tive contato com Bentes foi no segundo Forum de Jornalismo Cultural, promovido pela revista Cult, no TUCA, em 2009. Ela participava de uma mesa-redonda com Carlos Graieb, editor-executivo da revista Veja. Foi talvez a mesa mais constrangedora a que já assisti. Graieb falou primeiro, calmamente defendeu posições grosseiramente conservadoras, principalmente a hierarquização dentro da mídia: segundo ele, o editor daria credibilidade àquilo que é publicado, e evitaria que os leitores fiquem perdidos em meio a uma miríade de informações contraditórias e contestáveis. Terminou sua fala provocando: "acho que a professora Ivana deve ter algo a dizer". E tinha. Apesar de não ter deixado de tuitar enquanto o editor de Veja falava, prestou atenção e criticou de maneira enfática a hierarquização defendida por ele, toda a midia tradicional - não hesitou em nomear e adjetivar a revista Veja -, defendeu a pesquisa na internet, louvou o fim da mediação que o Google dava com toda a sua liberdade. O público aplaudiu a professora-ativista: ela tinha detonado os precários argumento de Graieb. Abriu-se para debate, e este precisou de menos de um minuto para derrubar toda a fala de Ivana, sem possibilidade de revide: "você acha mesmo que o Google faz isso pelo bem da humanidade? Ela é uma empresa, igualzinho a Veja, quer lucro, vende os primeiros resultados pra quem pagar mais. O que há de horizontal nisso?" E ainda completou: os blogueiros mais lidos seriam os que fizeram seu nome da imprensa tradicional. Silêncio na platéia. "Inocente, pura e besta", segundo a própria Bentes, em entrevista à revista Cult 188, foi como ela chegou ao Rio. Parece que ainda guarda um bom tanto das suas raízes. 

2. Respeitosamente vândala 
Bentes foi capa da edição 188 da revista Cult, de março de 2014. Como sói acontecer com entrevistas destinadas à apresentação ao grande público de um intelectual ou afim, não se aprofunda muito. Me pareceu antes delimitar o campo de onde ela fala do que exatamente esmiuçar suas críticas. Mesmo assim, não deixa de haver contradições incômodas. Um exemplo: ela termina dizendo que "temos que lutar contra a financeirização da vida", sendo que no início havia dito que "as favelas e periferias são o maior capital nas bolsas de valores simbólicas do país". Se precisamos lutar contra a financeirização da vida, por que sujeitar a análise dessa luta à gramática financeira hegemônica? Ao falar em "capital" e "bolsas de valores" para questões sociais, Bentes me soou uma versão radical-cult do Dimenstein, sem extrapolar o campo conservador que o colunista da Folha e da Globo se situa com seu entusiasmo pelo "capital humano" tupiniquim. Outro: ao mesmo tempo que ela defende a necessidade de sair do papel de intelectual do tédio, que do alto faz o julgamento da situação, regurgita um calhamaço de termos técnicos filosóficos - muitas vezes sem necessidade -, capazes de deixar qualquer um menos afeito à linguagem pós-estruturalista se sentindo um parvo carente de Luz. Mas o que mais chamou a atenção na entrevista à Cult, principalmente nas redes sociais, não foi algum trecho da entrevista, suas idéias, nada disso: foi a capa da edição, em que Bentes apresenta seu dedo médio ao distinto público. A capa me fez lembrar de um amigo que invadiu a reitoria da Unicamp, em 2004, baixou as calças e mostrou a bunda ao fotógrafo da Folha. Virou capa do caderno quotidiano. Contudo, meu amigo conseguiu uma polêmica mais rica do que a professora. De qualquer modo, polêmica pela polêmica me soa sempre muito pobre. 

 3. Guy Debord envelhecido 
Dia 29 de junho a professora publicou em sua conta no Facebook: 
"Guy Debord envelheceu: Nós somos o espetáculo! Um dia o mundo será uma imensa Copacabana! O sábado do jogo sufoco do Brasil contra o Chile consegui fazer o mais incrivel sintese e reedição de um tropicalismo tardio (remixofagia) da nossa 'geléia geral brasiliera' na Av. Atlântica. O Ato que juntou o Copa da Rua com a Carnavandalirização misturou manifestante torcedor e torcedor manifestante e evoluiu em clima politico delirante. Porque fazer politica é uma das formas do delirio. Dessa vez a policia formou literalmente uma 'ala' ao final do cortejo, disciplinadamente, fechando e 'cortejando' a parada civico-contestatória. E estavam lá todas as pautas, das micropoliticas do desejo até as remoções nas favelas e a desmilitarizaçao da policia. Como diria Jean Luc Godard turistas e torcedores se encantavam e fotografavam, manifestantes protestavam, a comunidade LGBT e os pink bloc mostravam os corpos purpurinados e a policia policiava. E as centenas de jornalistas acompanhavam tentando decifrar o cortejo-obra da politica em linguagem pós realismo mágico. Sociedade do espetáculo? Guy Debord envelheceu: Nós somos o espetáculo! Seja para perturbar e criar tensões e confrontos, seja para sermos domesticados e neutralizados! Como decide? Não vai ser nos penaltis. O ato continuou pelas areias do Leme, parou para ver o jogo decisivo e continuou noite adentro. https://ninja.oximity.com/article/Futebol-sem-roupa-e-tropa-rosa-shock-n-1 
P.S. Debord continua inspirador, mesmo não acompanhando todas as consequências do seu discurso, muitas vezes usado de forma imobilizante." 
N'A sociedade do espetáculo, Debord põe os Conselhos Operários como uma demonstração, um embrião do que seria a sociedade pós-capitalista. Em tais conselhos, os produtores teriam controle sobre o que produzem, e haveria um clima de liberdade e festa permanentes, graças a essa condição de controle da própria história. Ivana parece aludir a essa festa dos Conselhos quando fala do manifestante torcedor unido ao torcedor manifestante em um delírio político. Atores sociais conscientes, assumindo a história como produtos de suas ações e comemorando em comum essa liberdade. Será? O que há é um carnaval que não perturba a ordem, apenas comemora a ampliação da política. Um ganho, sim, mas muito longe de ser uma vitória, e muito, mas muito longe de desqualificar as teses de Debord. 
Uma primeira falta é perceptível nessa descrição de Ivana: a Política. Talvez essa manifestação de torcedores manifestantes fosse político em junho de 2013, não o é mais um ano depois. Em junho de 2013 manifestações populares, ainda mais as manifestações parando as ruas das cidades eram uma excrescência que deveria ser combatida pelas forças da ordem, para manter o tráfego e a paz social. O MPL São Paulo conseguiu ampliar o estretíssimo campo político brasileiro, recolocando as ruas como parte da Ágora. Pouco depois, os defensores das táticas black blocs conseguiram impedir que a tomada das ruas perdesse seu caráter contestatório e político - em que inocentes cartazes atrapalhavam o trânsito em uma faixa e se tornavam rotina protegida pelos militares. Garis do Rio e metroviários de São Paulo, já em 2014, foram dois exemplos de aprofundamento dessa disputa política que, como caracteriza Rancière, consiste no processo de desestabilização da ordem imposta pelo poder - que distribuiu e legitima corpos e funções dentro de uma ordem hierárquica - em favor de uma lógica mais igualitária (os movimentos dos trabalhadores sem teto entram nesta mesma lógica, porém sua luta vem desde antes das revoltas de junho de 2013, por isso não cito como exemplo pontual). 
Na descrição do delírio político de Ivana o máximo que se vê é a afirmação dos ganhos políticos do último ano: não há embate, não questionamentos à ordem, não há disputa para ampliação da pauta do que é considerado como sendo legitimamente político, não há, enfim, política. Há uma festa, só. A política como delírio de intelectuais. (Reforço meu ponto de partida: a descrição da professora). Prova maior é a sua descrição da polícia militar: cortejava disciplinadamente essa festa, estava incluída nela. Nesse caso, ou temos uma revolução, ou temos uma contestação autorizada, porque não viola pactos e limites postos pelo espetáculo (governo, mercado e mídia) para seus súditos. E os críticos espetaculares do espetáculo louvam o poder quando imaginam questioná-lo. 
A leitura que Bentes indica ter feito de Debord, centrada no seu aspecto mais visível e mais sujeito à ideologização, reforça o desvio do seu pensamento que o próprio pensador já previa. No capítulo VIII d'A sociedade do espetáculo, "A negação e o consumo da cultura", Debord alertava tanto para "a crítica espetacular do espetáculo" (§196) quanto para o uso do conceito de espetáculo como "fórmula vazia da retória sociológico-política para explicar e denunciar abstratamente tudo, e assim servir à defesa do sistema espetacular" (§203). Nos Comentários de 1988, ele retoma: "A discussão vazia sobre o espetáculo - isto é, sobre o que fazem os donos do mundo - é organizada pelo próprio espetáculo: destacam-se os grandes recursos do espetáculo, a fim de não dizer nada sobre seu uso. Em vez de espetáculo, preferem chamá-los de domínio da mídia" (item III). Negar a teoria debordiana porque em um carnaval fora de época em que se gritavam palavras de ordem e a polícia militar acompanhava sem incomodar é uma leitura muito rasa - é um assujeitamento muito descarado para quem diz se revoltar contra essa política nos corpos -, e um uso ideológico que corrobora ainda mais a atualidade de Debord. 
Quando Bentes exclama "nós somos a mídia!", "nós somos o espetáculo!", a professora não mente, em certo sentido: sim, estamos submetidos à mesma lógica de especialização e alienação do trabalho que sustenta o espetáculo. Somos nós que o sustentamos e o aplaudimos. Sempre fomos, isso está dito por Debord desde a década de 1960. Estamos sujeitos à sua gramática, à sua linguagem, por isso a Mídia Ninja pode disputar de igual para igual com a mídia tradicional: porque fala àqueles que entendem a língua espetacular. É uma visão diferente, pode ser mesmo questionadora de certo status quo, mas não é subversiva. Assim como o Fora do Eixo, tão elogiado pela professora na sua entrevista à Cult: ou ela acha que formar uma empresa de promoção cultural paralela às grandes indústrias culturais é romper com a lógica de valorização do capital e com o trabalho alienado? Nos shows do Fora do Eixo no Studio SP, eu pagava pra entrar, os funcionários recebiam para trabalhar por tantas horas, tudo seguia o fluxo normal do capitalismo. Onde está o revolucionário? Até uma questão de impossibilidade objetiva, as experiências heterodoxas de questionamento da ordem que Ivana aplaude entusiasticamente não são anti-capitalista - e assumir isso não é um fracasso, mas uma potência para repensar novos atos. A afirmação efusiva de que somos os espetáculo, como se isso fosse uma novidade ou algo positivo, chega a ser preocupante a alguém que se pretende crítico e engajado. 
Lembro uma coisa que o professor Marcos Nobre disse em uma aula, ainda na minha graduação: "se você achou um erro num grande autor, releia, porque o mais provável é que você não entendeu". Bentes, ao cravar que Debord envelheceu, fala o contrário do que diz, mostra que não entendeu o cerne da crítica do francês, e reforça o poder do espetáculo. 

São Paulo, 02 de julho de 2014

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Da alegria de voltar a bandejar

Tendo as aulas na UFABC começado, finalmente, pude voltar a bandejar – atividade que não realizava desde janeiro, quando me desliguei da Unicamp. Além de bandejar ter seus interesses sociais – que seja ver o movimento –, há, é claro, a questão financeira, a enorme economia que representa. Em uma semana de bandejão na UFABC gasto o equivalente a um almoço nas quebradas em que vinha almoçando um P.F. (se não ia a um por quilo, onde gastava mais). É certo, eu poderia ter economizado nesses quatro meses de São Paulo-sem-bandejão cozinhando em casa. Porém, além da preguiça e da atual falta de inspiração culinária, o fogão de casa é um tanto paciente – ou ao menos exige paciência -, levando, por exemplo, mais de cinco minutos para preparar um café expresso.

Retomando minha alegria acadêmica do voltar bandejar. Depois de meia hora na fila, sob o sol do meio-dia, para pôr créditos no cartão, adentro esse mítico local – que desconheço em suas particularidades. No cardápio, estrogonofe. Me recordo do bandejão da USP-Ribeirão, onde tal prato era a iguaria máxima, motivo para festa. Na Unicamp a festa – e que festa! – ficava por conta da feijoada – e que feijoada!

Unicamp
Ainda sem me enturmar, almoço sozinho – o que fazia também na Unicamp, apesar de bem enturmado por lá. O bandejão da UFABC dá a impressão de ainda ser provisório – ainda que um provisório caprichado, feito para provisoriar por longo tempo. Decepcionante mesmo que a bandeja não serve para pôr a comida, mas sustentar o prato, talheres e etecéteras. Como a entrada não se dá num nível superior, como na Unicamp, para as pessoas saírem a la “Another brick in the wall”, só que com bandejas, e não dominós (esses temos que ter já colado ao rosto para conseguir entrar na universidade), não há o interessante passatempo de almoçar vendo quem está entrando – quem sabe futuras Ruths ou paixões platônicas (Karinas, Carines... ao que tudo indica sou alguém que não gosta de grandes variações nominais). A comida não é ruim, mas o estrogonofe, cheio de gordura, deixa a desejar. Penso na economia que estou tendo, no rito mítico de bandejar, e engulo.

Na saída, ouço dois alunos comentarem: hoje o estrogonofe estava bom, que milagre! Vejo se não estão tirando sarro, não parece. Então digo a mim mesmo: é uma questão de adaptar o paladar! É só adaptar o paladar!


Santo André, 31 de maio de 2012.

ps: quando fui pela segunda vez ao bandejão, o que no da Unicamp é lenda acadêmica (aparece no cardápio mas nunca na bandeja), na UFABC é realidade: lasanha de beringela.

domingo, 27 de maio de 2012

As greves políticas e as greves justas.

Venho cá chutar cachorro morto e chover no molhado: é o que se faz quando se fala da imprensa nacional. Salvo os detalhes do momento, o que se tem é um movimento regular, contínuo, bem estruturado da mídia contra um partido que ela ainda vê como esquerda demi-comunista – isso vale tanto para o protofascismo de Veja quanto para o partidarismo não-assumido mas evidente de Folha.

O assunto desta semana foi greve.

Há várias na principal cidade do interior do Estado, talvez os leitores de Folha não saibam: Campinas, além das crises sobre quem ocupará a cadeira de prefeito na semana seguinte, vive caos na saúde, já há muito é um zero na cultura, teve há pouco greve no transporte que se serve do público, e segue com boa parte dos servidores públicos em greve. É onde fica a Unicamp, uma das principais universidades do Estado e do país, talvez perdendo só para a USP.

Vamos para a capital, onde as coisas acontecem, dizem. Onde oito milhões de almas são tidas como decisivas para o futuro dos dois principais partidos do país – em contrapartida, os dois principais partidos do país pouco se mostram interessados no futuro da cidade.

Na quarta, tivemos uma “greve política” do metrô, conforme editorial da Folha (“Greve contra São Paulo”, 24/05/12). Adoro quando falam em “greves políticas”! De uma redundância maior que subir pra cima, tão esclarecedor quanto dizer que a cor vermelha é vermelha, que a água é molhada, que o sol é quente, e assim vai. O dia que me apresentarem uma greve apolítica – até a das mulheres de Atenas foi política –, farei questão de aderir. Até lá, terei de suportar um jornal que se diz a serviço o Brasil utilizar política como sinônimo direto de coisa ruim. Porém, pior do que falar em “greve política”, só os argumentos do editorial.

Primeiro, conforme a Folha, quem recebe salário acima da média brasileira não deve reclamar (se fosse acima do PIB per capta do Qatar, cerca de US$ 90 mil, eu até poderia concordar). Fica a dúvida porque quem recebe estímulos estatais bem superiores aos dos milhões de miseráveis do Bolsa-Família teria o direito: se a Folha pretende ser tão independente como apregoa, que comece recusando todo patrocínio de governos, empresas estatais ou que tenham ligação com o Estado.

Segundo: a determinação da justiça de 100% de funcionamento do sistema no horário de pico. Há alguma coisa errada numa no conceito de “greve” quando todo mundo é obrigado a seguir trabalhando. Contudo, a novalíngua da Folha não vê nenhuma contradição nisso: deve o jornal, então, reivindicar a mudança do artigo nos dicionários, que insistem em dizer que greve é “cessação voluntária e coletiva do trabalho”, a justiça do trabalho, de fato, rejeitou a possibilidade de greve – tenha tido razão ou não, é outra história. É fácil defender o direito de greve quando greve não implica em nenhuma mudança da rotina, em nenhum custo aos patrões.

Terceiro: Folha ignora que os metroviários fizeram uma contraproposta a essa estapafúrdia decisão da justiça: 100% dos funcionários trabalhando, mas com as catracas liberadas. O governo recusou, ameaçou usar a força policial contra os grevistas, caso isso ocorresse. Fica a dúvida: quem trabalhou para prejudicar os usuários foram os trabalhadores ou o governador Alckmin?

Outra greve são as das universidades federais. Essas, para Folha, não são políticas – logo, há de se acreditar que sejam justas. A acreditar que a Folha não use dois pesos, duas medidas, um professor universitário ganha menos do que um motorista de ônibus, assim sendo, tem direito a fazer greve – se não for, hora de chamar a polícia para pôr ordem (fiquei esperando um editorial e não veio).

Ao invés de apresentar um panorama com os pontos positivos e negativos das IFES – como fez um outro jornal do grupo, dedicado à elite e não à classe média inculta, que sequer sabe quem foi Hegel (ao menos assim pensa a Folha de seus leitores) –, o jornal se centra na Unifesp, que, pelo que dá a entender a reportagem, seria uma das piores universidades do país, sem qualquer infra-estrutura. Pior: se centra na Unifesp de Guarulhos, ignorando os outros sete campi. Por que será? Se a infra-estrutura do campus de Guarulhos é realmente péssima – se é que não soa ridículo falar em infra-estrutura para o campus de Guarulhos –, o mesmo não se pode falar do de Diadema, para ficarmos num exemplo de campus novo. Neste campus, o problema está na assistência estudantil, como ausência de bandejão, e não na qualidade dos prédios e laboratórios – equipados com o que há de melhor, conforme me disse um amigo que estuda lá (e é do comitê de greve).

Os motivos de não terem ido ver as condições da UFAM, UFCG ou de outra federal perdida nos rincões do Brasil, e ter se fixado no pior campus de uma que está praticamente na capital paulistana tem motivo bem evidente: atingir Fernando Haddad, atual ministro da educação e pré-candidato petista à prefeitura de São Paulo. Faltou só eles falarem “se Haddad não é capaz de dar condições a uma universidade, o que dizer a uma cidade?” Quer dizer, do jeito que vai, logo eles falarão isso – só o Haddad sair dos 3%.

O relativismo da Folha é aviltante a qualquer pessoa que não coadune com a burrice e a má-fé; de qualquer forma, sinaliza do que se pode esperar para as eleições municipais.

São Paulo, 27 de maio de 2012.