quinta-feira, 11 de setembro de 2003

Nota do Autorock

Semana passada fui a um festival de bandas alternativas/independentes aqui em Campinas, o Autorock. Gosto de música alternativa - que insisto em chamar de pop/rock alternativo, o que causa sérias desavenças conceituais com minha namorada - mas antes me limitava as bandas internacionais, cujas músicas eu baixava pela Internet. Mogwai, Stephen Malkmus, Black Rebel
Motorcycle Club, e outras bandas afins que minha mãe denomina-as com o simpático rótulo de "bandas que não existem", apesar delas existirem.
Foi nesse festival que minha namorada me introduziu ao submundo da música alternativa nacional, ao "underground", aos "subterrâneos do pop" nacional. Não tenho cacife musical, apesar dos meus (poucos) anos de piano e dos meus (poucos) meses de programador da Rádio Muda (a rádio-livre dos alunos da Unicamp: www.radiomuda.hpg.com.br), por isso não vou fazer aqui qualquer comentário quanto a qualidade musical ou algo parecido.
Assisti a dois dos quatro dias, e gostei muito. Som bom para quem gosta desse tipo de som. Inclusive me arrependo amargamente de não ter comprado cds das bandas Thee Butcher's Orchestra e Del-o-Max. Entretanto, apesar do bom som, dos shows empolgantes, uma coisa me chamou a atenção: banda alternativa nacional quase não canta em português. Pelo nome das bandas já dá para perceber isso: Thee Butcher's Orchestra, Suite Number Five, Grease, Space Invaders, Forgotten Boys, Shame, Garage Fuzz e aí vai. Nome de banda em português, apenas seis das 25.
(Para deixar esta crônica ainda mais incompleta e superficial (bem que minha namorada dizia que ela acabaria assim), não assisti ao show de nenhuma dessas cinco).
Das nove bandas que assisti (algumas das mais famosas do circuito alternativo), apenas duas colocavam a língua de Camões entre as músicas em inglês, Grease e Carbona (esta uma das mais pop do circuito alternativo e com várias músicas em português).
Não sei qual é a dessas bandas, se é algum dia fazer sucesso, ou permanecer restrito às pessoas que usam All-Star. Seja qual for o caso é uma pena que o rock nacional tenha tantas bandas boas cantando em inglês. Parece uma certa falta de auto-estima nacional, vergonha de cantar em português, já que o Brasil nunca foi celeiro de grandes bandas como Foo Fighters, Queens of the Stone Age, Sonic Youth, Pixies e outras que fazem a cabeça do pessoal alternativo. Nunca foi, e dificilmente será, enquanto esse pessoal continuar tentando fazer poesia com uma língua que não a sua, e continuar ignorando toda a musicalidade da língua "brasileira".

Campinas, 11 de setembro de 2003

sexta-feira, 29 de agosto de 2003

Ludibriado!!!

Fui ludibriado! Em toda minha vida, nunca gostei de ser rotulado de esquerda. De quem é essa frase? Roberto Campos? Roberto Marinho? Miriam Leitão? FHC? Serra? Não, é do excelentíssimo senhor Luis Inácio Lula da Silva.
Companheiro Lula, se o senhor nunca foi de esquerda, nunca gostou do rótulo, quer dizer que toda sua campanha eleitoral, que recebeu mais de 60 milhões de votos, foi mentira? Mentira deslavada que o senhor assume assim, de cara limpa, sem o menor pingo de vergonha? O senhor devia renunciar! Pregou o maior golpe na população brasileira e não sente o mínimo de remorso? Por que não nos avisou durante a campanha que a esquerda não era a sua praia? Será que é porque iria perder as eleições caso tivesse dito? Mas eu disse de certa forma, na carta ao povo brasileiro, você pode responder. E é verdade, a sua carta ao povo brasileiro, não foi mais que o comprometimento com o status quo atual, ou seja, uma carta bem de direita. Mas o senhor poderia ter sido mais explícito, no debate da rede Globo, por exemplo. O senhor poderia ter dito Olha Serra, admiro muito você, que foi de esquerda durante os anos de ditadura, fugindo do país por causa disso, inclusive; e mesmo como ministro do FHC você sempre teve uma postura crítica à política, como nós. Mas eu gostaria de deixar claro a diferença entre eu, Lula e você: eu nunca fui de esquerda, e se faço barulho por causa do governo FHC é por pura pirraça, é porque ele tem o bolo, e quem quer o bolo sou eu, pra dividir com meus companheiros.O senhor deveria ter sido sincero, Lula.
Fui ludibriado 2! A reforma [da previdência] é justa economicamente, justa moralmente, justa eticamente. Era preciso alguém com coragem para fazê-la e eu tive coragem.Calma lá, companheiro Lula! A sua reforma é a mesma do Collor segundo as palavras do relator da reforma collorida , é a mesma do FHC, que graças ao PT não foi aprovada. O que você teve não foi coragem, foi medo, covardia, aprovou aquilo que antes dizia ser contra, diz ser eticamente justo o que o senhor disse explicitamente que era imoral num passado nada remoto. Não teve coragem, nem criatividade de propor nada diferente, algo realmente justo e viável.
Lula, sem dúvida bajulando a Rede Globo e a Veja do jeito que o senhor está o senhor conseguirá se manter por muito tempo no poder, que é, pelo que o senhor dá claros sinais, seu maior objetivo. Agora achar que vai isso vai passar batido da parcela mais ilustrada da população e da história, pode ter certeza que não.
Eu quero meu voto de volta!!!

Campinas, 29 de agosto de 2003