sexta-feira, 4 de agosto de 2006

Ritmo

Ritmo. Uma das muitas coisas que caracteriza nossa atual sociedade é o ritmo. Parece ser um imperativo que tudo tenha um ritmo, uma cadência: a sociedade, a cidade, a fábrica, as pessoas. Geralmente o ritmo destas é ditado pelo ritmo das demais. E poderia ser diferente? É o que geralmente me pergunto, sempre em busca de uma resposta afirmativa.
Costuma-se dizer que em nossa sociedade há uma grande liberdade para as pessoas buscarem seu rumo, trilharem seu caminho, tornarem-se, em certa medida, senhores de seus narizes. Mas tente caminhar a passos de tartaruga, hesite entre escolher ir pela direita ou ir pela esquerda, pare, no meio da tarde, para ver uma gata carregando seus filhotes, e veja o que acontece. Se você tiver a oportunidade de ter tais liberdades, muito provavelmente não lhe ocorrerá nada, além de um grande peso na consciência.
Nosso mundo é hoje marcado pelo progresso, pelos carros que vão de zero a cem quilômetros por hora em seis segundos, pela vias expressas de mão única, separadas por canteiros e quase sem retornos; pelas oportunidades únicas de alguém que te ligou no celular na hora em que você entrava no cinema; pelas descobertas da ciência que se acumulam a cada dia, pelas decisões ousadas, pelas pessoas de convicções firmes.
Parar para contemplar a paisagem é desperdício, perda de tempo, e time is money! Hesitar sobre que decisão tomar é prova de fraqueza, e a garantia indubitável do fracasso, pois o mundo é dos fortes, dos audazes! Achar que errou e querer voltar atrás é suicídio na certa, é querer dar marcha ré em via expressa. Ir a um ritmo mais lento? Cada um faz o que quer, mas a vida vai passar por você, você vai sendo ultrapassado, se torna um retardatário, e quando você chegar as portas já estarão todas fechadas.
A vida tem um ritmo, ou você segue, ou você sobra. Àqueles que têm oportunidade de ir mais lento do que a “vida”, mais do que oportunidade, precisam de coragem e persistência. Mas um dia você pára. Se a “vida” tem um ritmo e a sua tem outro, o que fazer? Conviver, e não se adaptar. E você começa a notar as pessoas te “ultrapassando”, e não se incomoda, pois não está disputando uma corrida. E começa a se preocupar que está postergando seu futuro, e percebe aí a oportunidade de antecipar o presente. E começa a se questionar sobre quando a morte chegar, e não vê interesse na questão, pois a morte virá, independente do ritmo que se siga, e então, sim, as portas estarão todas fechadas.
Então um dia você se pergunta: por que eu preciso de um ritmo?

Campinas, 04 de agosto de 2006

quinta-feira, 13 de julho de 2006

Entre quadrilhas

Cada vez mais os políticos brasileiros se encaminham para a seguinte aporia: ou são burros a ponto de perderem no teste de QI para um camundongo (o fato de precisarem de assessores para abrir maçanetas talvez reforce esta tese), ou são realmente mafiosos, corruptos, ladrões, bandidos, assassinos; diferenciando de Marcolas e PCCs pelo fato de usarem terno e não terem sido pegos, ou se pegos, terem tido os meios necessários para contratar bons advogados, comprar juízes, garantindo, assim, sua liberdade e seu currículo ilibado.

A suspeita do presidente da PFL (digo “da” e não “do” porque o PFL há muito se caracteriza primeiramente por ser uma quadrilha e não um partido), Jorge Bornhausen, de que o PT estaria por trás dos ataques do PCC, seria rechaçado como um absurdo, não tivesse o principal nome do partido, o presidente Lula, ter admitido publicamente que o PT é igual a todas as outras quadrilhas; e sua fala não tivesse sido corroborada pela prática da quadrilha nos casos envolvendo a morte de seus integrantes, quando ainda se dizia que o PT era um partido.

Se o PT é igual ao PFL, e o presidente deste, que abrigou e abriga assassinos de diversas qualidades, como Hildebrando Pascoal (o da motossera), levanta a suspeita de que aquele faz o que ele faz, por que razão devemos duvidar de antemão de tal suspeita?

Em tempo: posso estar sendo ingênuo, mas acho que os ataques do PCC estão um pouco além do que “partidos” como PSDB e PT imaginavam pôr em prática como linha auxiliar da política.

Pode ser que a suspeita de Bornhausen seja mera bravata. Contudo, a descrença da população nos políticos, nos partidos e no próprio processo, não permite que alguém de dentro do sistema, que sabe de muita coisa que não pode ir além dos “iniciados”, seja leviano desse tanto, sob o risco de implodir tudo. Apesar de que, tendo em vista a biografia de Bornhausen, não é disparatado imaginar que ele tenha interesse nessa implosão. Não porque ele queira inaugurar algo novo (o único “aperfeiçoamento” que ele parece ser favorável é o da eugenia, levando em conta as declarações anteriores do elemento), mas porque ele quer perpetuar o velho, a republiqueta de bananas onde a cosa nostra pode impor sua lei sob a proteção da polícia e do exército.


Campinas, 13 de julho de 2006