sábado, 12 de dezembro de 2009

A política partidária é uma coisa muito simples

Houve um tempo em que para entender a política partidária era preciso perder um bom tempo estudando e se informando. Havia os partidos de direita e os de esquerda e os de centro. Havia partidos nacionalistas, internacionalistas e entreguistas. Isso para não falar na miríade babilônica de agremiações esquerdistas: maoístas, leninistas, trotskistas, etc, todos falando a mesma coisa para os leigos mas afirmando que as correntes adversárias eram, no fundo, direitistas travestidos de revolucionários.

Porém, nestes tempos de partidos que os cientistas políticos chamam de “catch all party”, tudo ficou muito simples. Tomemos como exemplo as eleições internas do diretório paulista do PMDB, partido da base de sustentação de Lula, cogitado para ocupar o vice em eventual chapa de Dilma em 2010, cargo que ocupou em 2002, na chapa de Serra, do PSDB, depois de ter integrado a base do governo FHC.

Leio no jornal que o PT apóia a candidatura de Francisco Rossi para a presidência do partido no estado. Rossi, vale lembrar, foi expulso do PDT em 1998 por declarar voto em Paulo Maluf e não em Mário Covas, do PSDB, no segundo turno das eleições para governador daquele ano. Nestas eleições internas do PMDB, o candidato apoiado pelo PT enfrentará o atual presidente do diretório paulista, Orestes Quércia, conhecido de outros carnavais por caçar bois pelos pastos paulistas, e que em 2002 recebeu um atestado de probidade do então candidato da esperança Luís Inácio Lula da Silva, do PT. Hoje Quércia – que tem apoio de Michel Temer, seu adversário no partido, ex linha de frente de FHC, hoje linha de frente lulista, cogitado para vice de Dilma – é serrista, ou seja, apóia aliança do PMDB na eleição para presidente de 2010 com o tucano José Serra, vencido por Lula em 2002. Serra é economista mas foi ministro da saúde nos governos FHC (reconheço que um economista na saúde é muito melhor do que um médico na economia). Nacional-desenvolvimentista, era contrário às políticas neoliberais do ex-presidente, as quais tinham o entusiasmado aval do então PFL, hoje DEM, cujo então presidente – Jorge Bornhausen – chegou a afirmar que o apagão de 2001 foi conseqüência da não privatização da Petrobrás – por breve período denominada Petrobrax. Isso, contudo, não impediu Serra de dar alento ao DEM, partido que definha a cada eleição, ao colocar como prefeito da principal cidade do país Gilberto Kassab. Kassab, todos sabem, foi secretário de Pitta, cria de Maluf. O mesmo Maluf que hoje é da base de sustentação de Lula e que em 1998 tinha sua foto estampada junto à do candidato à reeleição pelo PSDB, FHC. Voltado à disputa atual do PMDB, Quércia admite que Rossi pode, sim, ser candidato ao governo do estado, desde que o partido apoie Requião na sua campanha à presidência. Requião, tido por alguns como o Chavez brasileiro, é do PMDB lulista, e se lançou pré-candidato à presidência em 2010, contrariando os planos de Lula.

Simples, não? Nada de esquerda, direita, programa, propostas, hoje a política se resume a "é meu amigo" ou “estou de mal”, igual criança. Pena que eles mexam com coisas muito sérias.


Campinas, 12 de dezembro de 2009

Publicado em www.institutohypnos.org.br

sábado, 28 de novembro de 2009

Lei antifumo?

Bater no mais fraco é sempre mais fácil que peitar o mais forte. Isso vale não só para briga de criança como também para a política.
Conversava dia desses com meu irmão – estudante de direito e estagiário do Ministério Público – sobre a lei antifumo do Serra (que agora possui uma versão paranaense). Ele comentou que há uma série de ações diretas de inconstitucionalidade contra alei, uma vez que é da alçada federal tratar do assunto. Ou eja, pode ser que a lei caia não só por ser estúpida – como a qualifiquei em crônica passada -, como por ser ilegal.
Me pondo de lado dessa discussão jurídica, da qual nada entendo, questiono qual a eficácia desse tipo de lei na diminuição no número de fumantes (ativos, os passivos é evidente). Quem há muito fuma, não será por ter que ir a um local descoberto que deixará de sentir necessidade de e prazer em fumar. Já os jovens, sempre ávidos por rebeldias bem comportadas, o estigma do cigarro pode ter efeito contrário. Vejam como sou rebelde e não ligo para os olhares reprovadores, pode pensar o jovem de dezesseis anos, isolado num canto enquanto fuma seu cigarro, vestido com uma camiseta da Marlboro, para chocar um pouco mais.
Vivemos em um mundo dominado pela imagem e pela publicidade. Importa o que parece, não o que é. O cigarro não seria alheio a essa dinâmica. Lembro no ensino médio duas amigas fumantes falavam de uma terceira: ela fuma Derby! Coisa de pobre, me explicaram quando perguntei qual o problema.
Mas para Serra, Requião e outros, os responsáveis pelo tabagismo são os bares, a PUC-SP, não os fabricantes de cigarro com seus maços coloridos, sedutores, ou pacotes de seda que lembram embagalens de chicletes. Não seria mais eficiente (mais efeitivo e menos custoso) banir em absoluto a propaganda de cigarro? Não só cartazes ou peças publicitárias, como a própria diferenciação de embalagens: Derby, Marlboro ou Lucky Strike, todas com a mesma caixa marrom-diarréia, por exemplo, a marca em branco, escrita com a mesma fonte e tamanho.
Essa medida, porém, seria bater nos poderosos, em gente com ótimos argumento$ para defender seus interesses. É mais interessante comprar brigas com bares e botecos do que com fabricantes de cigarro e empresas de publicidade. O fato da lei cidade limpa do Kassab não ter sido seguida país afora como a lei antifumo do Serra talvez não seja mero acaso.

Campinas, 28 de novembro de 2009

Publicado em www.institutohypnos.org.br