sábado, 2 de outubro de 2010

Adjetivos

Prescindir de adjetivos num texto – não necessariamente escrito –, sem que esse texto se empobreça é uma difícil técnica, que poucos alcançam, até porque é pouco estimulada – vide a supervalorização da encheção de lingüiça. Não falo em abolir os adjetivos, mas utilizá-los o mínimo possível, apenas quando necessários. Dalton Trevisan é a grande referência nesse estilo.

Por favor, não seja precipitado, ó leitor, em achar que sou contra o uso de adjetivos. Não! Acho que seu uso é importantíssimo para tornar o texto mais leve fluido agradável. O problema é quando são mal empregados ou utilizados em excesso – o que costuma representar a maioria dos casos.

Da minha parte, tento me controlar: sei que se eu soltar a pena, minha descrições acabam por tornar o texto longo piegas choroso cansativo, em suma, chato. Outros momentos, em meus textos opinativos-políticos, peso bem a adjetivação porque sei que, a depender do termo usado, todo o argumento fica obnubilado por uma provocação que torna uma possível discussão em garantida rinha. Diga-se de passagem, esse é um expediente usado por jornalistas para se passarem por vítimas quando já não possuem muito o que falar – Clóvis Rossi, da Folha, me parece o melhor exemplo.

O Rossi, definitivamente, não é alguém em quem me espelho. Porém anda difícil, nestes últimos tempos, maneirar nos adjetivos em meus textos – boçal, idiota, trouxa, palhaço, e por aí vai. Atribuo isso ao meu corrente mau humor, o qual creio ter como uma das causas principais as eleições – essa grande farsa da pseudo-democracia brasileira. Daí minha grande torcida para que amanhã as eleições se resolvam em primeiro turno, todas elas, para encerrar logo essa nossa longa agonia (apesar de curta no tempo), visto que política mesmo, debate de verdade, isso não houve nem haverá.

E já peço desculpas à leitora se meu mau humor persistir uma semana mais: sinal que a justiça eleitoral resolveu me complicar a vida na hora de justificar minha deliberada ausência do meu sagrado dever de votar. Ou que talvez não fossem só as eleições quem pisassem em meus calos.

Pato Branco, 02 de outubro de 2010.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Eleições limpas? O caminho é longo.

Esperava a decisão do STF sobre lei da ficha limpa para escrever esta crônica, porém escrevo sem decisão, mesmo. Não que ela alteraria o que pretendo escrever, apenas o início. Pois bem, das considerações iniciais pensadas, deixo aqui expresso que sou favorável à lei. Entretanto, é uma lei que tem uma eficiência muito pequena. E, pior, repete os vícios do nosso sistema político-partidário.

Nada mais lógico que barrar candidatos condenados pela justiça de serem representantes do povo. Parênteses: se fossem mesmo representantes do povo, por que se deveria ter normas sobre quem pode e quem não pode sê-lo? Fecha. Ela porém vem apenas como punição a quem já cometeu atos ilícitos: sua influência em desestimular outros políticos de seguirem por trilhas similares (e são muitas) decresce à medida que aumenta a sensação de impunidade. Uma lei para longo prazo, portanto.

De qualquer forma, repare que a lei e suas possíveis reverberações se dão em políticos, em candidatos, em pessoas. E com os partidos políticos, o que acontece? Afinal, não existe, no Brasil, candidatura independente. Ora, os partidos fingem que não têm nada a ver com seus quadros, e seguem aceitando e se vangloriando de nomes como Maluf, Collor, Roriz.

A lei da ficha limpa começaria a ter efetividade na cultura política nacional a partir do momento em que estendesse a punição também ao partido que deu abrigo ao infrator, seja na época em que ele cometeu algum crime como administrador público, seja quando concorreu às eleições. Punição que poderia passar por multas, perda do dinheiro do fundo partidário, do tempo no horário da tv, até ao banimento da legenda, a depender do número de foras-da-lei filiados. Isso obrigaria os partidos a serem minimamente criteriosos, se não na admissão dos seus filiados, ao menos na seleção dos seus candidatos e dos seus quadros – afinal, se se trata de partido, porque um bode expiatório resolveria a culpa de todos? Por outro lado, isso poderia dar um pouco mais de força aos políticos para cobrarem dos partidos certa coerência programática-ideológica. Sei que uma lei só não faz a redenção, mas dá uma ajudinha.

Por conta disso, comemoro a lei da ficha limpa, mas não a considero um avanço: apenas um começo – que o caminho para eleições limpas ainda é longo.

Campinas, 24 de setembro de 2010.