domingo, 11 de março de 2012

Para que serve uma federação estadual de futebol?

Na década de noventa, me lembro, o campeonato catarinense era um campeonato menor – e não digo por ser do Paraná. Era visível pelo pequeno número de participantes – mesmo atualmente o campeonato só tem duas divisões, a primeira com dez, a segunda com sete times – e pelo papel menor no cenário nacional do futebol local. Até hoje, nunca um time catarinense ficou entre os quatro primeiros do campeonato brasileiro, enquanto o Paraná tem dois títulos, e oito vezes algum time do estado já ficou entre os quatro – sendo que o primeiro a conseguir a façanha foi o Londrina, em 1977.

Em 1989, os dois principais clubes da capital paranaense – Atlético e Coritiba, o Paraná seria criado apenas no final do ano – caem pra série B do campeonato nacional. No ano seguinte, Atlético consegue retornar à elite, e o Operário Ferroviário, de Ponta Grossa, fica muito perto de conseguir a vaga – termina em quinto, apesar de, no geral, a campanha ser melhor do que a do Atlético. Vale lembrar que estamos nos anos dos regulamentos kafkianos do futebol tupiniquim – ainda reproduzido por muitas federações estaduais, não sei se precisava lembrar da Paranaense. A partir de então, o estado sempre teve um time na primeira divisão nacional.

Em 1991, na série B, o Coritiba termina em terceiro, o Paraná, em sexto, o Londrina é décimo primeiro. O Operário, apesar de terminar à frente do Criciúma, foi despachado pra série C no ano seguinte, ao contrário do time catarinense. Na série A, o Atlético perigou cair, mas acabou ficando em décimo sétimo, de vinte clubes.

Em 1993, diante da virada de mesa da CBF, Coritiba consegue voltar à elite, mesmo tendo sido décimo segundo na série B no ano anterior – vencida pelo Paraná Clube –, e Santa Catarina consegue alçar um clube à elite do futebol brasileiro pela primeira vez em cinco anos. Depois de cinco anos, em 1998, o Criciúma cairia para a série B. Em 2001, quando o Atlético Paranaense levantou o caneco, não havia nenhum representante barriga-verde, enquanto havia os três da capital paranaense: o Figueirense subiria aquele ano, junto com o Paysandu. Deixava para trás o Avaí, Joinvile e Criciúma, mas também Londrina e Malutrom. Ou seja, nas duas principais divisões, haviam cinco paranaenses contra quatro catarinenses.

Em 2003, o Brasileirão adota o sistema de pontos corridos – apesar do forte lobby contra da Rede Globo. Desde lá, somando as participações dos clubes, são vinte aparições paranaenses na série A e nove na B, contra doze na A e quinze na B dos catarinenses. Em 2012, cada estado terá apenas um representante na elite do futebol nacional. Em compensação, na série B, serão três catarinenses – Avaí, Criciúma, Joinvile – e dois paranaenses – Paraná e Atlético. Santa Catarina ainda tem um representante na série C, que chegou muito perto de subir pra B em 2011, o Chapecoense. Isso se refletiu no campeonato estadual: o Coxa sobrou no campeonato paranaense – conhecido como Ruralzão – em 2011, enquanto o Figueira, que disputou com o Coxa vaga na Libertadores, acabou em terceiro no catarinense.

A organização dos times, sem dúvida, é fundamental para bons resultados. O Barcelona não é a referência que é hoje por um acaso. O crescimento do Figueirense tampouco se dá sem planejamento. Há um outro fator, contudo, que ajuda a entender a inversão de papéis entre o futebol paranaense e catarinense: o apoio das federações.

A novela do campeonato paranaense da divisão de acesso em 2012 mostra o porquê dessa inversão entre o futebol desses dois estados.

Depois de uma campanha merecedora do rebaixamento, em 2011, não adiantou brigar na justiça desportiva, o Paraná Clube fez jus pelo que jogou e foi enviado para série B do Ruralzão. Eu, ingenuamente, imaginando que a FPF tinha o objetivo de fortalecer o futebol no estado, já via o Paraná numa pré-temporada de luxo: sem a pressão de disputar o título, com times muito inferiores, podendo fazer dos jogos jogos-treinos, poupando os titulares de viagens, e aproveitando pra observar reservas e jogadores da base (que um dia já foi referência e revelou craques do nível daquele que hoje ocupa a prancheta do time). Eu deveria ter me informado mais sobre FPF, Hélio Cury e cupinchas.

Para “não prejudicar” times do porte do Júnior Team, a FPF recusou o pedido de antecipar o campeonato – ela que deveria ter tomado a iniciativa de fazê-lo, sem necessidade de pedido de clube algum. Apenas a título de comparação: a Federação Paulista de Futebol tem suas três divisões principais ocorrendo simultaneamente. Primeiro porque sabe que acavalar o calendário da A2 com a B do Brasileirão prejudicaria clubes como o Santo André. Depois, porque sabe que eventualmente as divisões de acesso podem apresentar jogadores aos clubes principais. Mais: faz acordo com a Rede Vida para transmissão dos jogos da A3 em rede aberta.

Enquanto isso, nestes tristes sub-trópicos, em nome de “justiça” e não prejudicar clube algum, a federação prejudica uma das três forças do estado, e ainda pode fazer com que os demais clubes tenha um enorme prejuízo. Conforme levantamento do blogueiro paranista Luis Hansen, se o Paraná fizer respeitar as 66 horas entre duas partidas, o campeonato da Divisão de Acesso, que deveria ir de maio a julho se estenderá até outubro; ou seja, clubes sem receita tendo que arcar com salários pelo dobro do tempo. O detalhe: o Paraná Clube se mexia e praticamente havia conseguido transmissão pela TV, negociando um patrocinador para a competição. A FPF, já em férias, e em respeito à unanimidade, recusou o arranjo.

A conclusão desta breve comparação é óbvia: enquanto Santa Catarina consegue elevar sua representatividade no futebol nacional, com clubes de quatro das oito regiões do estado nas três principais divisão do país; no Paraná, mal e mal restam os três grandes da capital. No próprio estadual, apenas seis, das dez regiões em que o estado é dividido, possuem representantes. O tradicional Londrina, só em 2012 voltou à elite do futebol estadual, e faz uma campanha mediana; o segundo time mais antigo do estado, o Operário Ferroviário, de Ponta Grossa, só não está disputando o rebaixamento no seu centenário porque Paranavaí e Irati assumiram as últimas posições e parecem dispostas a não sair dali. A federação o que faz? Para ajudar o futebol do estado, absolutamente nada: seus diretores devem achar que há coisas mais importantes pra federação cuidar. O que? Aí só eles poderiam responder.


São Paulo, 11 de março de 2012.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Viva os noivos!

O Facebook, como outrora o Orkut, tem como grande utilidade não deixar esvair-se o reino da fofoca. Nos põe numa grande aldeia global (não faço referências aqui a McLuhan), em que bisbilhotamos a vida de todos, apesar de não conhecermos verdadeiramente ninguém.

Pato Branco, claro, já está conectada à internet, tem Coca-Cola, e essas coisas básicas – outras novidades, um pouco menos alardeadas, ainda não chegaram: procurei em quatro super-mercados. Aqui, porém, além da aldeia global, resta a aldeia local. O centro da cidade contribui para o encontro. Organizado de forma que lembra – em partes – shopping centers, com calçadas muito bem iluminadas, lojas bem cuidadas, bancos para se sentar – que fazem com que a rua seja mais do que um lugar de passagem, como também de encontro –, e uma certa assepsia social. Por aqui as listas de casamento ainda estão nas vitrinas das lojas. 
 
Meus pais têm por hábito parar em uma dessas lojas e atentar para quem são os casamenteiros, para ver se tem algum conhecido, ou mesmo para conhecer nomes novos – esses nomes que os pais, em arrombos da criatividade, cravam em bebês indefesos para o resto da vida.

Caminhava com eles pela cidade, paramos na referida loja, e nenhum nome esdrúxulo. Em compensação, um casal trazia nomes conhecidos. Nomes que me levaram a quinze anos atrás, quando eu tinha meus quatorze anos, por aí, e costumava ir à casa de um amigo – morava no décimo andar –, comer esfirra, jogar lixo para janela, só para ver cair, e assistir ao programa X-Tudo (que na minha casa não pegava TV Cultura).

O noivo, havíamos estudado junto – os três – em algum cursinho de inglês. A noiva – cuja irmã, junto com uma amiga, foi das primeiras a mexer com minha imaginação pré-adolescente – era a primeira paixão desse meu amigo.

Teve um dia que, cansado dos seus reiterados suspiros apaixonados, resolvi aconselhá-lo. Propus uma tomada de atitude sumária, do estilo chega junto e manda ver, sem blábláblá, direto ao ponto. Um ano mais velho, o aconselhei fazendo uso da autoridade do meu maior tempo no mundo – o que não queria dizer, em absoluto, que fosse mais escolado nas coisas do mundo. Seguiu meu conselho, tão crente nele como no amor e em Jesus Cristo. No dia seguinte voltou me amaldiçoando solteirisse eterna e com apenas uma das crenças das que tinha no dia anterior. Ao menos resolveu o meu problema com seus suspiros.

Ao chegar em casa depois do passeio com meus pais fui, é claro, bisbilhotar o Facebook. O noivo, filho de uma das famílias-coronéis da cidade, parece bem mais velho do que é. Seu emprego, não sei qual é, mas deve ser tocar os negócios da família sem afundá-los – e creio que tenha competência para isso. Ela, no que trabalha nem chega a ser importante, já que será esposa de um dos donos da cidade. Aproveitei e vi o “perfil” desse amigo da infância. Talvez se meu conselho tivesse dado certo, ou então, mais sensato, se ele não tivesse seguido meu conselho e tivesse outra sorte, atualmente fosse uma pessoa diferente, com mais leveza e menos culpa. Entretanto, a contar por hoje, nem o meu, nem o conselho de quem fosse, teria alterado suas chances com a guria.

Em tempo: o noivo nunca me pediu conselhos para nada.


Pato Braco, 07 de março de 2012.