O Facebook, como outrora o Orkut, tem como grande utilidade não
deixar esvair-se o reino da fofoca. Nos põe numa grande aldeia
global (não faço referências aqui a McLuhan), em que bisbilhotamos
a vida de todos, apesar de não conhecermos verdadeiramente ninguém.
Pato Branco, claro, já está conectada à internet, tem Coca-Cola, e
essas coisas básicas – outras novidades, um pouco menos
alardeadas, ainda não chegaram: procurei em quatro super-mercados.
Aqui, porém, além da aldeia global, resta a aldeia local. O
centro da cidade contribui para o encontro. Organizado de forma que
lembra – em partes – shopping centers, com calçadas muito bem
iluminadas, lojas bem cuidadas, bancos para se sentar – que fazem
com que a rua seja mais do que um lugar de passagem, como também de
encontro –, e uma certa assepsia social. Por aqui as listas de
casamento ainda estão nas vitrinas das lojas.
Meus pais têm por
hábito parar em uma dessas lojas e atentar para quem são os
casamenteiros, para ver se tem algum conhecido, ou mesmo para
conhecer nomes novos – esses nomes que os pais, em arrombos da
criatividade, cravam em bebês indefesos para o resto da vida.
Caminhava com eles pela cidade, paramos na referida loja, e nenhum
nome esdrúxulo. Em compensação, um casal trazia nomes conhecidos.
Nomes que me levaram a quinze anos atrás, quando eu tinha meus
quatorze anos, por aí, e costumava ir à casa de um amigo – morava
no décimo andar –, comer esfirra, jogar lixo para janela, só para
ver cair, e assistir ao programa X-Tudo (que na minha casa não
pegava TV Cultura).
O noivo, havíamos estudado junto – os três – em algum cursinho
de inglês. A noiva – cuja irmã, junto com uma amiga, foi das
primeiras a mexer com minha imaginação pré-adolescente – era a
primeira paixão desse meu amigo.
Teve um dia que, cansado dos seus reiterados suspiros apaixonados,
resolvi aconselhá-lo. Propus uma tomada de atitude sumária, do
estilo chega junto e manda ver, sem blábláblá, direto ao ponto. Um
ano mais velho, o aconselhei fazendo uso da autoridade do meu maior
tempo no mundo – o que não queria dizer, em absoluto, que fosse
mais escolado nas coisas do mundo. Seguiu meu conselho, tão crente
nele como no amor e em Jesus Cristo. No dia seguinte voltou me
amaldiçoando solteirisse eterna e com apenas uma das crenças das
que tinha no dia anterior. Ao menos resolveu o meu problema com seus
suspiros.
Ao chegar em casa depois do passeio com meus pais fui, é claro,
bisbilhotar o Facebook. O noivo, filho de uma das famílias-coronéis
da cidade, parece bem mais velho do que é. Seu emprego, não sei
qual é, mas deve ser tocar os negócios da família sem afundá-los
– e creio que tenha competência para isso. Ela, no que trabalha
nem chega a ser importante, já que será esposa de um dos donos da
cidade. Aproveitei e vi o “perfil” desse amigo da infância.
Talvez se meu conselho tivesse dado certo, ou então, mais sensato, se ele não tivesse seguido
meu conselho e tivesse outra sorte, atualmente fosse uma pessoa
diferente, com mais leveza e menos culpa. Entretanto, a contar por
hoje, nem o meu, nem o conselho de quem fosse, teria alterado suas
chances com a guria.
Em tempo: o noivo nunca me pediu conselhos para nada.
Em tempo: o noivo nunca me pediu conselhos para nada.
Pato Braco, 07 de março de 2012.
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