sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A escolha entre o seis e o meia-dúzia

Está difícil acompanhar o ritmo da campanha presidencial deste ano. Tinha escrito uma crônica na segunda, mas por conta de excesso de afazeres não tivera tempo de passar pro computador. Resultado: o assunto já não é mais o da vez. Assusta, contudo, a forma como o “quarto poder” tem participado das eleições, em muito lembrando 1989. Não critico a imprensa por ser investigativa, critico por ser parcial, e por ser investigativa apenas em momentos que ela julga oportunos.

Escutei há pouco no rádio. Enquanto Dilma Rousseff chama uma das suas principais assessoras quando integrante do governo – a qual só chegou a ministra por influência bem calculada da petista –, de “uma ex-assessora”; do outro lado dessa disputa política de araque, José Serra critica o uso do Estado para fins particulares e de partido, e diz que em 27 anos de vida pública nunca teve problema do tipo – o que talvez até seja verdade, se se ignorar que fez parte do governo FHC e teve Alckmin como seu secretário. Para arrematar concluiu que basta pôr pessoas certas e ilibadas nos cargos que desvios de conduta não ocorrerão mais.

A frase está correta, não tem como discordar dela, mas é assustadora.

Desde quando se descobriu que as pessoas que fazem políticas não são anjos, havendo seguidamente desvios – por ma-fé ou por equívocos naturais ao ser humano –, e se instituiu um sistema democrático representativo, escolher pessoas probas é importantíssimo. Tão importante quanto, porém, é implementar e melhorar sistemas institucionais de fiscalização e controle da conduta dos chamados homens públicos. Ficar na dependência da boa vontade e bom aconselhamento do governante de turno não é um caminho seguro para um país menos corrupto.

Por fim. Muito se tem falado – absurdamente – que a safra de “escândalos” petista aponta para a ruptura do Estado Democrático de Direito, deixando o país a um passo do fascismo. Coincidentemente, uma das características dos estados fascistas do século XX era o personalismo excessivo dos seus líderes, que se auto-apregoavam todas as virtudes humanas – inclusive a de saber tudo sobre seus assessores, a ponto de prescindir de mecanismos legais e institucionais que viessem a cercear toda sua capacidade.

Campinas, 17 de setembro de 2010.

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