Mostrar mensagens com a etiqueta Esquerda. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Esquerda. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Como perder a chance de debater - um exemplo

Acompanhei com alguma atenção as reações meméticas (a pobreza argumentativa com efeitos performativos na formação de opinião e visão de mundo) na minha bolha virtual ao assassinato do cachorro por segurança do Carrefour de Osasco. A depender dos memes que amigos veganos ou simpatizantes compartilhavam sobre o episódio e seus desdobramentos, não é difícil entender porque Bolsonaro e uma série de políticos de extrema-direita venceram os pleitos em 2018 - para além, claro, das manipulações via internet.
De um lado, pessoas comovidas com a violência do segurança contra o cachorro (que, sinceramente, me pareceu mobilizar mais do que quando seguranças do Habib's assassinaram um garoto em São Paulo). Do outro, veganos atacando essas pessoas, taxando de hipócritas, por ficarem condoídas enquanto comem animais mortos. Ao invés de acolher, repelir. Este tipo de reação não é privilégio de veganos, pelo contrário, me parece a tônica da esquerda e do campo progressista nos tempos atuais.
Ao reagir atacando quem mostrou abertura à questão do sofrimento animal, longe de atrair pessoas alheias ao debate sobre o direito dos animais, as afugenta ainda mais. Porém, perdida não foi só a oportunidade de atrair algumas pessoas para a discussão, mas de impor um debate mais amplo à sociedade sobre tratamento aos animais - de rua, domésticos, de laboratório, de abate. O problema de ampliar o debate é ter que responder a questões que aparentemente foram superadas, é ver levantado novamente imbróglios incômodos que haviam sido escamoteados, é ter que escutar o outro, o diferente, é ter uma postura democrática e de aceitação - dentro de certos limites - de posições antagônicas. Quantos de nós já não achou mais fácil negar a conversa apenas por ter ouvido do interlocutor alguma barbaridade, sem prestar atenção que ele apenas repetia um jargão que fazia mais sentido diante de toda a realidade paralela criada pelos meios de comunicação e seu círculo social? Ainda hoje, vejo analistas políticos atacando os 58 milhões de brasileiros que votaram em Bolsonaro, sem serem capazes de perceber que a maioria desses votos foram dados de acordo com o artigo 171 e não com as propostas do então candidato talkey.
Para além de capacidade de ouvir o outro, falta também a boa parte das forças de esquerda e progressistas - aqui individualizadas nos veganos, mas longe destes serem únicos ou privilegiados, reitero - aceitar que política não possui uma verdade - ao menos não uma verdade positiva -, e, consequentemente, aceitar que talvez seja preferível posições mais gradativas do que insistir no tudo ou nada.
A direita já notou que não se pede adesão irrestrita e incondicional de início - manipula para ganhá-la com o tempo, na base do engodo. Começa aceitando a palavra de ordem inicial e depois, aos poucos, vai mudando até chegar, se preciso, no extremo oposto. O "contra o aumento das tarifas" vira "não é só por 20 centavos", que vira "contra a corrupção", que vira "contra os impostos", que vira "fora PT". A tentativa de captura da pauta negra vai na mesma linha, de início, reivindicam que negros e brancos precisam ser iguais para o logo adulterarem a luta por igualdade como realidade dada e defesa do "dia da consciência humana". Sim, é uma estratégia fadada ao fracasso no médio prazo, quando o sectarismo vai passar a excluir quem não aderir integralmente às novas palavras de ordem (de ódio) - mas até lá o estrago já foi feito, a presidenta derrubada, um fascista eleito, direitos e constituição trucidados.
Já que comecei falando de veganos para tratar de algo geral às esquerdas, encerro com uma breve crítica à corrente vegana que predomina em meu círculo social (sei que há várias porque já fui rechaçado do debate na Unicamp quando tentei usar Peter Singer). Não sou vegano, acho uma postura válida e admirável de inserção aberta do sujeito e seu entorno no campo ético-político (por isso incomoda tanto alguém não comer carne, é jogar na cara que todas as ações do sujeito são ações éticas, de responsabilidade), quase uma forma parrhesista de existir. Contudo, é uma postura, um movimento, cheio de contradições e limites de crítica - condição de todo movimento político humano (talvez os dos deuses ou santos não sejam). A principal delas, a meu ver, o desenraizamento da discussão sobre condições sociais dos humanos, antes de tudo - dos direitos humanos para as pessoas. Daí o veganismo, para além de uma postura ética, muitas vezes me parecer como uma postura de distinção social - uma amiga que aderiu não faz muito ao veganismo, sem perceber, certa feita tropeçou no seu argumento: "o direito dos animais vai ser a nova luta de classes", disse. Eu não quis polemizar, mas entendi do meu modo: nova luta de classes não que os animais substituirão os humanos na luta de classes, mas porque serão usados para escamotear a real luta de classes, a exploração do homem pelo homem, a luta entre os humanos de plenos direitos e o exército de reserva. Muitos ex-pobres só muito recentemente passaram a comer carne bovina, coisa que antes era quase exclusivo dos patrões - e agora que sentem terem adentrado o paraíso que viam de longe, são abominados como bárbaros, antiéticos. Em abatedouros, pessoas matam milhares de animais todos os dias não por sadismo, mas porque é uma questão de matar ou morrer - literalmente, pois trabalham para fugir da fome. Ao mesmo tempo, cachorros são mortos todos os dias para virar comida - e não é por hábito cultural, é por fome, mesmo.
Se a esquerda não for capaz de escutar o outro, de acolher o diferente, de compreender o mundo em gradações e diversas cores, certamente vamos perder a batalha para o fascismo.

13 de dezembro de 2018

terça-feira, 20 de março de 2018

Escuta "policial" e reação estereotipada - um exemplo prático

Eu havia terminado meu texto anterior, "O que conseguimos escutar?", fechara o LibreOffice para deixar o texto decantar um pouco (João Cabral de Melo Neto dizia que para um poema deixava meses ele na gaveta, antes de retomá-lo; como escrevo crônicas, se muito deixo um dia, salvo quando esqueço), e ao entrar no Fakebook me deparo com uma postagem do professor Gilberto Maringoni muito próxima do que havia dito, apenas em tom altamente polemista. A começar que ao invés de pegar um tema secundário - greve dos Correios -, Maringoni foi usar justo o tema candente da semana - a execução da ativista e política Marielle Franco, do PSOL. A balbúrdia foi tanta que ele preferiu apagar seu comentário - por conta disso, não o reproduzo aqui, mas comento assim mesmo.
Na sua provocação, Maringoni leva ao paroxismo as reivindicações de primazia do discurso identitário, vinculando diversos assassinatos políticos da ditadura civil-militar de 64 e da democracia não à oposição ao regime ou aos interesses econômicos poderosos, mas pela questão de identidade - por ser negro, mulher, nordestino, mulher. Por fim, diz que não sabe porque outros haviam sido mortos, se eram do grupo opressor per se - homens, brancos, heterossexuais. 
As reações, desnecessário dizer, foram imediatas e majoritariamente raivosas - poucos questionavam o porquê daquela provocação ou se aquele seria um bom momento, além dos que apoiaram. E pode ser mesmo que o momento para tal provocação tenha sido infeliz, como de algum modo admitiu depois Maringoni: o ar sócio-político atual está mais que carregado, está envenenando - pelo Lula dirão os globoletes e seguidores patos, pelo fascismo estimulado por Globo e pato, dirão os minimamente informados -, com ânimos à flor da pele, o que ressalta ações reflexas ao invés de reflexivas. 
Ao começar a ler a postagem, eu mesmo achei muito estranha, estaria ele querendo dizer realmente aquilo? Ao fim, ficava evidente que não. Quer dizer, evidente após um pouco de reflexão - mas a internet é terra da reação imediata, e isso não orna com reflexão. Maringoni é do PSOL, não é um ex-comunista convertido (como Palocci, Jungman, Freire), não é do PSDB, MBL ou mesmo um obscuro dono de casa desempregado que entre um curso de iluminação e um de marcenaria, enquanto espera ser chamado em concurso, escreve crônicas eventualmente republicadas no Nassif On Line. Uma postagem como aquela com certeza teria algo por trás: ou ele sofrera uma pancada na cabeça, ou tivera a senha roubada, ou dizia muito além do que estava escrito. A postagem vinha sem maiores trabalhos argumentativos, o que já apontava o tom provocativo - pro vocar aquilo que está naturalizado. Análise de contexto, de trajetória do autor, de jogos de linguagem? Boa parte das reações foram como se se tratasse de Reinaldo Azevedo; e as respostas dadas pareciam ser robôs repetindo frases feitas, com pequenas variações: racista, machista, misógino. Isso apesar de não haver tom depreciativo às mulheres ou negros, ele apenas explicitava o que subjaz em certos discursos do ativismo identitário, que faz da trajetória formativa - sem dúvida importantíssima, vital no trajeto de militantes -, causa e consequência, início meio e fim de toda ação e reivindicação política, negando o contexto mais amplo em que se inserem, ou seja, negando o Estado de exceção (declarado ou por omissão) a serviço dominação capitalista, garantidor dos privilégios das elites predatórias do país. Marielle Franco não foi morta em emboscada por ser mulher negra periférica: negros, mulheres, periféricos, homossexuais e outras minorias são mortos aos borbotões todos os dias, sem maior alarde e sem maiores consequências que estatísticas. Marielle, mulher negra e periférica, foi morta por ser ativista contra um sistema no qual se insere o assassinato em série de negros, mulheres, periféricos, etc - teria sido morta mesmo se fosse homem branco.
Talvez realmente o momento de tal provocação tenha sido inoportuno; contudo a reação apenas evidencia aquilo que venho desde muito alertando: a escuta policial para quem está do lado, em busca do infiltrado ou de quem rompe com a pretensa pureza e perfeita harmonia (do movimento ou da sociedade); a negação do pensamento, da reflexão e da crítica; a divisão do mundo entre os do bem e os do mal (ou os do lado certo da história e os do lado errado da história), sem nuances, sem contexto, sem história; a separação bem delimitada e em clara verve de guerra entre aliados e inimigos (que não merecem a condição de humanos, ou seja, não merecem direitos, entre eles o de expressão), não é privilégio de fascistas ou dos que se deixam encantar pelo seu discurso simplista. As esquerdas e as forças progressistas e democráticas precisam urgentemente reagir e desbaratar essa forma de pensar, ou logo nossa escolha será entre mandar aqueles que escolhemos taxar como "bandidos" para o paredão ou para a câmara de gás.

20 de março de 2018.


PS: não que o combo 60 mil assassinatos/ano+polícia MILITAR+narcoestado+prisões brasileiras não possa ser considerado uma terceira via entre o paredão e a câmara de gás, ainda que em doses homeopáticas (não para quem sofre diretamente com toda essa violência, é certo) e sem enunciar claramente do que se trata.

domingo, 18 de março de 2018

O que conseguimos escutar?

Reconheço que foi inesperada toda a reação à minha última crônica, "Conseguimos ouvir o que fala quem diz 'bem feito aos carteiros'?". No Nassif On Line/Jornal GGN, foram mais de cinquenta comentários, a maioria me criticando e querendo ver os funcionários dos Correios se darem mal - Kassab, Meirelles e cia devem rir muito ao ver zé ninguém batendo em zé ninguém enquanto eles se lambuzam. Contudo, para além do ódio aos carteiros - que eu não entendo e me surpreende -, noto que pus a carruagem na frente dos bois, e não devia perguntar se somos capazes de escutar o outro, e antes, mais simples: somos capazes de escutar?
A ignorância não é fruto de falta de educação formal (isso contribui, mas não é condição necessária, muito menos suficiente), nem privilégio destes tempos pós-modernos. Entretanto, me pergunto o quanto a ausência a conversa "real" (em oposição à virtual) não tem deteriorado uma capacidade desde sempre pouco desenvolvida nestes Tristes Trópicos, que é a arte de dialogar. O quanto a ausência da voz numa discussão nos impede de escutar nuances do discurso do outro (um ceticismo receoso pode soar como uma recusa intransigente na internet), assim como a permissão de dizer o que quiser a qualquer momento que a internet nos dá, sem qualquer limite que não seu tempo e sua paciência, nos conduz ao paroxismo de impedir escutar o discurso do outro. 
Lemos um "textão" no Fakebook ou um artigo na internet caçando os 140 caracteres essenciais e logo despejamos o que está na agulha, sem pensar - um tiro não exige reflexão, exige no máximo reflexo. No exemplo que me cabe, só o título de minha crônica anterior já me toma 64 caracteres, as palavras-chave "greve correios defesa trabalhadores apoiaram o golpe", já me gastam outros 52, "pato ódio desfazer" levam os 24 restantes - telegramas talvez exijam maior capacidade de raciocínio que um twitter. Caçado um "twitter elementar" do texto, é hora de repetir o que se acha - na ilusão (ensinada pela escola) de que repetição seja pensar. E não é por repetir a si próprio que isso se torna reflexão: o fato de ter refletido uma primeira vez para se chegar a uma conclusão não implica que esteja pensando as outras 999 vezes que se repete, até porque, é de se imaginar, que interlocutores e contextos mudem, exigindo repensar a própria estratégia argumentativa, quando não o próprio núcleo do argumento, diante de novas réplicas.
Por uma questão de saúde mental e emocional, e para manter um mínimo de fé na humanidade, evito ao máximo ler comentários de internet, seja onde for. Exceção feita aos dos textos que publico, onde busco interlocutores, com retificações ou ratificações pertinentes; ou mesmo para tentar entender possíveis falhas de comunicação da minha parte. Boa parte dos comentários ao meu texto sobre a atitude para com os funcionários dos correios foi de críticas - o que em si não seria um problema -, porém feitas de uma forma tão crua que deixou evidente que as pessoas não eram capazes de "escutar", de compreender o que elas próprias escreviam - e não creio ser ingenuidade minha acreditar nisso e ao invés de crer que, na verdade, são pessoas da pior índole se fazendo passar de progressistas e/ou esquerdistas. Aquilo que eu havia alertado em meu texto foi exemplificado nos comentários: o ódio fascista, o desejo punitivista de sangue do inimigo a qualquer custo, o "se esteve contra mim sempre será meu inimigo". Curto, grosso, direto, bruto, tosco, ignorante. Mas de uma ignorância que não mobiliza para ampliar os horizontes, uma ignorância orgulhosa de sua própria limitação, que busca afugentar (quem sabe matar?) todo aquele que incomode seus seguros e estreitos limites (e antes que me acusem de neoplatonismo tosco, impressão que esta frase fora de contexto pode passar, sugiro ler meu texto anterior). Me vem a imagem de Bush, ainda que para os dias atuais ele seja um intelectual. Reconheço: quando escrevo um texto como "Conseguimos ouvir o que fala quem diz 'bem feito aos carteiros'?" meu desejo é que me provem o quanto estou equivocado, o quanto meu umbigo não permitiu perceber nada claramente; entretanto, os comentários foram iradas confirmações da minha análise: a forma fascista de (não) pensar está vencendo. E desconfio que as pessoas não estejam se dando conta disso. Logo, se são incapazes de escutar a si próprias, é demais pedir para que ouçam o outro. Resta a força bruta - o "cala-te ou te arrebento".
Três aspectos me chamam a atenção nas respostas recebidas: a ausência de nuances, a petrificação de posições (para a eternidade?) e um mal digerido cristianismo - talvez tendo como raiz uma profunda descrença no ser humano e na humanidade. Meu chamado para um "ouça, entenda, converse, acolha" trabalhadores explorados por um governo ilegítimo, que implica em um chamar aberto mas condicionado para a luta conjunta contra os golpistas, ao que tudo indica foi entendido como um perdoe e aceite tudo - o "dê a outra face" de Jesus. Mais: se uma parte dos funcionários dos correios foram favoráveis aos golpistas, todos os funcionários foram favoráveis, e uma vez que foram favoráveis, sempre serão favoráveis. É seu "locus naturalis", diriam os filósofos medievais: assim como um ex-presidiário sempre será presidiário, não importa que tenha cometido um crime num determinado contexto e pagado sua dívida junto à sociedade, não merece mais confiança, nunca. (Aqui abro um parênteses, não todo desprovido de propósito, para agradecer a educação dada por minha mãe e meu falecido pai: uma educação grandemente desprovida de pré-conceitos, sociais, étnicos, de gênero, ou o que for; nunca aprendi que um negro pobre da periferia seja "do bem", assim como nunca aprendi que um branco rico seja "do mal", nem que uma pessoa não possa mudar, para melhor ou para pior, com os anos, que o diga muitos ex-comunistas). 
Ouso a hipótese de que, para além da forma fascista de enxergar o mundo, a visão estanque de si e do outro possa ser consequência da nova tendência da esquerda, as pautas identitárias. Longe de desqualificar esse tipo de pauta, muito pelo contrário: é de extrema importância que os oprimidos ganhem voz para falar em alto e bom som que além dos aspectos econômicos salientados pelo marxismo, há, sim, questões fenotípicas, identitárias, que geram doses extras de opressão sobre determinadas populações. Contudo, ao se pôr tais pautas como figura de proa, desprovida de visão mais ampla dos jogos de forças que criam e oprimem tais identidades, não é preciso dois passos para incorrer em generalizações e em essencializá-las como estratégia para cerrar fileiras - como afirmar a sororidade acima de qualquer contexto social, como se a opressão à mulher fosse igual em qualquer caso, Carmen Lúcia, Marcela Temer, Marielle Franco e a faxineira negra do mercado que quer votar no Lula e achar um marido que a proteja -, até cair num narcisismo identitário, carente de sempre ter um inimigo bem identificável e da necessidade de reforçar sempre seu predomínio sobre todas as outras pautas.
A escuta passa a ser treinada, então, para encontrar o inimigo, o infiltrado. Assim como não se escuta quem se põe como crítico, cético ou antagonista (atenção! estou falando de gente comum, não de fascistas convictos, como os do blog de mesmo nome), perde-se a capacidade de escutar quem não repete exatamente sua cantilena, espantando possíveis aliados - e mesmo quem diz representar. 
Pior, essa escuta estritamente policial do outro (ou religiosa, do padre ou pastor em busca dos pecados alheios) se volta para si mesmo, porque se escutar pode implicar em dar espaço para discordâncias, fissuras com as generalizações identitárias, o que - dizem algumas correntes - seria o fim de toda a luta identitária e o retorno da opressão mais brutal. A isso se alia a repetição de ideias prontas, tornando assim desnecessário que se escute, uma vez que se sabe o que vai falar. Consequência até natural, uma vez que quem não sabe ouvir não será capaz de falar.
Realmente não era o ponto aonde eu esperava chegar ao iniciar esta crônica, mas temos, ao fim e ao cabo, aquele discurso ideológico da velha esquerda, sintetizado por Harold Rosenberg: "O comunista pertence a uma elite dos conscientes. É, portanto, um intelectual. Mas uma vez que toda a verdade foi-lhe conferida automaticamente mediante a sua adesão ao Partido, trata-se de um intelectual que não precisa pensar (...). Desde que somente ele possui a resposta certa, em toda parte o comunista tenta controlar a atividade dos outros". Por isso, repito o que falei em minha última crônica, com a mesma citação de Bernard Shaw: a necessidade da educação para a democracia: "Toda nossa teoria da liberdade de palavra e de opinião para todos os cidadãos repousa não na asserção de que todo o mundo tem razão, mas na certeza de que todo o mundo está errado nalgum ponto em que um outro tem razão". Porém me resta a dúvida: quantos estão dispostos a porem em risco sua identidade garantida pelo grupo, seus frágeis egos entrincheirados em generalidade heterônomas, e se pôr a escutar a si próprios, seus desejos e seus medos, e se abrir ao diálogo franco com o outro?

18 de março de 2018

quinta-feira, 15 de março de 2018

Conseguimos ouvir o que fala quem diz "bem feito aos carteiros"?

Vejo algumas postagens no Fakebook sobre a greve dos funcionários dos Correios. O tom geral era de "bem feito, quem mandou apoiarem o golpe?". Alguns tentaram chamar para a realidade: são trabalhadores se dando mal como todos. Outros rebateram, tentaram ilustrar o merecimento da categoria, dizendo que tiveram perdas durante os anos FHC, receberam dos governos petistas substantivas melhoras, mas foram mal agradecidos, e agora merecem pagar o pato. São pessoas que se consideram de esquerda ou progressistas ou críticas - talvez tudo isso. Vejo nesse discurso, contudo, o outro lado da mesma moeda dos que destilam ódio contra petistas e esquerdistas: trocam os alvos, não a forma de "pensar": com o fígado, com base no ódio, na intolerância. Provavelmente se amanhã uma falácia qualquer convencê-los de que o Mal veste vermelho, trocarão de lado nessa "guerra", e ainda terão sua decrepitude elogiada pelos novos pares - vide Lobão.
Se a grande mídia, o sistema escolar, os aparatos ideológicos paraestatais, e as nossas elites do atraso têm sua boa dose de responsabilidade por esse rebaixamento intelectual, a esquerda não pode ser eximida de responsabilidade. Da extrema-esquerda, que sempre tratou a política em termos bélicos - de inimigos e aliados -, à esquerda moderada, que se arrola um poder salvacionista mágico, passando, é claro, pela vanguarda do atraso, a esquerda acadêmica, produtora de discursos críticos importantes na análise e estéreis na prática; e em praticamente todas as vertentes, esse dom da esquerda tupiniquim de criticar o outro, fugir da autocrítica e sempre dividir, nunca unir. 
O "bem feito" para os carteiros é fruto desse caldo: uma educação para o sucesso individual, uma ideologia que pega do cristianismo um deus revanchista e a ideia de culpa (pecado soaria muito religioso), com a necessidade de purgar-se antes de voltar a ser aceito na comunidade das "pessoas de bem", na esquerda chamadas de "pessoas do lado certo da história"; a heteronomia do olhar para a realidade, que não permite perceber nesse outro um próximo - apenas com equívocos diferentes -, e nessa luta uma oportunidade de aproximação. Não há nuances: sempre o lado certo, inteiramente certo, é o meu.
Do argumento de melhora nos anos petitas, não fui atrás dos dados, e tomo como sendo verdade - é factível, dada a trajetória dos governos tucanos e petistas. Tinha um amigo que trabalhava nos Correios nos anos Lula. Lembro claramente do seu desgaste com mobilizações e greves: se houve melhoras, não foi fruto de benevolência petista, e sim de luta dos trabalhadores por seus direitos - aliado à uma maior abertura do PT, é certo. O fato de carteiros terem caído no canto do pato talvez não seja mal agradecimento contra um governo que só os favoreceu por causa de sua luta, e sim o conto do vigário de que com o golpe todos sairiam ganhando sem precisar de tanto desgaste. A deseducação para refletir estava dada, foi questão de ajustar o discurso goebbelsiano.
Assim, temos parte da plateia comemorando as dificuldades dos carteiros, ao mesmo tempo que a outra xinga professores por estarem reivindicando condições dignas de trabalho - como faziam os carteiros década passada. São bodes expiatórios do ressentimento de vidas pobres de vida - são também bodes na sala para distração das massas. Enquanto isso, Kassab, Meirelles e cia (como mostra reportagem da Carta Capital [http://bit.ly/2peYCNn]) são os que lucram com a empresa - até a hora que esse lucro for repassado para a iniciativa privada, para o lucro dos de sempre, e prejuízo também dos de sempre: trabalhadores e usuários dos serviços.
Um dos grandes pontos que nos cabe: como desfazer esse caldo de ódio, como desarticular essa rede de pequenos narcisismos que preferem romper com o próximo por ninharias a cerrar fileiras contra os graúdos, contra os deflagradores dos problemas? Ouso dizer que parte da resposta está em aguçar nossa escuta para o que estão falando, para o que estamos falando e para aquilo que falam a partir do que falamos. Recusar o diferente é entregar uma pessoa talvez com boa vontade, desejo de mudar, para o pato, agora sapo. Quão oprimido, quão odiado se sente alguém que precisa achar alguém para oprimir e odiar também como forma de sentir que existe? (Sim, Paulo Freire sempre vivo, apesar de esquecido pela esquerda). A partir dessa escuta, é preciso investir maciçamente na educação (formal e, principalmente, não-formal) para a democracia - democracia entendida muito além de eleições formais. Como diz Bernard Shaw: "Toda nossa teoria da liberdade de palavra e de opinião para todos os cidadãos repousa não na asserção de todo o mundo tem razão, mas na certeza de que todo o mundo está errado nalgum ponto em que um outro tem razão". E mesmo quando não tem razão, tem suas razões.

15 de março de 2018

sábado, 6 de maio de 2017

A negação como condição da afirmação política (ou, sobre pertencimento e afetos políticos)

Ouvi em entrevistas do professor Vladimir Safatle e do rapper Mano Brown que um dos principais - se não o principal - afeto político de hoje é o medo. Construído por uma mídia conservadora sob medida para partidos políticos conservadores, não é de surpreender que a direita saiba fazer bom uso desse afeto - bom aqui no sentido de uso eficiente e não de uso nobre.
Em dado ponto dessa construção política a partir do medo temos o discurso da segurança. Avançando um pouco e temos o "Rota na rua" malufista, repetido por Genoíno, em 2002; mais uma volta no parafuso conservador e encontramos o "quem não reagiu está vivo", com o qual Geraldo Alckmin legitima tribunais de rua e execuções sumárias extra-judiciais por parte de seus subordinados; descambamos, enfim, na extrema-direita de Bolsonaro, Dória Junior (cria de Alckmin), Dallagnol, MBL e que tais, em que o medo e a reação a ele se transformam em ódio aberto, declarado, estimulado, louvado - explicitado na negação do outro como ser humano, passível de tortura e todo tipo de desrespeito. A eleição de um objeto de ódio gera uma sensação de cumplicidade, camaradagem, pertencimento: afetos perdidos com a modernidade e a decadência da comunidade em favor da sociedade e aprofundado pelo discurso do medo generalizado, que apresenta o homem como lobo do próprio homem.
Isso me veio à mente durante a mesa-redonda organizada para o coletivo de formação do Serviço Pastoral do Migrante. Um ponto bastante acentuado foi a questão de pertencimento, seja do quanto o migrante - temporário ou "permanente" - está ligado à sua terra de origem, quanto dos possíveis novos enraizamentos, formados a partir de laços comunitários, e da rede de acolhida, ajuda e cuidado que a idéia de comunidade enseja. Também foi dito, na fala de Verena Glass, da Fundação Rosa Luxemburgo, sobre o bem viver, que além dessa rede de cuidado (que aponta não como projeto para o futuro, mas num fazer-devir presente), o bem viver seria a negação, o embate com a "monocultura colonial" (expressão assaz feliz) imposta desde os países centrais e papagaiada com entusiasmo nas periferias, como pelas elites destes Tristes Trópicos.
O bem viver como negação me fez lembrar de "Operário em Construção", poema de Vinícius de Moraes, assim como da formação do sujeito conforme a psicanálise, que se dá a partir da negação da criança àquilo que lhe é imposto pelo outro, abrindo caminho para se afirmar como sujeito desejante.
Ainda que muito distantes, a negação do outro da extrema-direita e a negação da monocultura colonial do bem viver me parecem ter em comum tanto um desejo de pertencimento quanto um desejo de se afirmar como sujeito. O ponto talvez esteja em como esses desejos são manuseados em função do projeto político de uma sociedade futura. 
De um lado, mobilizados a partir do medo, o discurso do ódio a garantir limites aparentemente firmes (e tranqüilizadores) entre quem é da comunidade, de confiança, quem é o invasor, perigoso, e afirmar (falsamente) a existência do indivíduo enquanto sujeito no comportamento gregário, no assujeitamento à comunidade (ou ao líder que representa essa comunidade), que passa a ser encarnado como desejo próprio. Manter a ordem e negar qualquer dissenso é a garantia de coesão - não pensar autonomamente e nunca se questionar são as condições fundantes para seguir firme nessa senda.
Do outro lado, ainda que também apelando ao medo, mas principalmente ao medo que traz construir coletivamente um devir que não se sabe o que será (a frase é redundante, mas necessária a estes tempos de "museu do amanhã"), a partir de uma multiplicidade de desejos (de sujeitos), a idéia de pertencimento é menos automática - não há um dentro e um fora bem delimitado. Daí, provavelmente, uma das dificuldades em trabalhar a questão da negação - necessária para afirmação do sujeito -, ficando ora em pontos genéricos, abstratos - como a negação do neoliberalismo -, ora numa negação que nada engendra - o "contra burguês, vote..." -, ora em bodes expiatórios, reduções grosseiras de problemas mais amplos - há sempre um nome da vez, já foi Garotinho, Malafaia, Feliciano, agora é Bolsonaro e Doria Junior -, que servem para catarse, muito pouco para política.
Encerro minha divagação com algo dito por Chantal Mouffe em entrevista ao Le Figaro e reproduzido no site O Cafezinho [http://bit.ly/2sMlhnu]: diz a pensadora que a esquerda muitas vezes é racional em excesso, sendo que política também é feita de afeto, e termina por defender um certo populismo de esquerda, que vise não a exclusão do outro, mas a valorização da política enquanto esfera agonística. Talvez um ponto a se pensar e discutir seriamente seja como trabalhar essa negação necessária, essa criação de um "nós" oposto a um "eles", de modo outro que feito até agora, uma negação que não seja meramente reativa, muito menos que leve à negação do outro enquanto ser humano e abra caminho para o ódio. Uma negação que consiga marcar como "eles", como proscrito, não pessoas, mas práticas, discursos e valores que desumanizam homens e mulheres, uma negação que abra caminho para diversas e contraditórias afirmativas, em que o medo do devir, esse desconhecido que povoa o futuro de tudo e de todos, estabeleça a identidade e a solidariedade que permitem a vida em sociedade, ao mesmo tempo que impele a mergulhar nele de cabeça, para ver o que de diferente pode surgir daquilo que hoje temos e somos.

06 de maio de 2017.

O OPERÁRIO EM CONSTRUÇÃO
Vinícius de Moraes. Rio de Janeiro , 1959

E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo:
- Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi entregue e dou-o a quem quero; portanto, se tu me adorares, tudo será teu.
E Jesus, respondendo, disse-lhe:
- Vai-te, Satanás; porque está escrito: adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás.
Lucas, cap. V, vs. 5-8.

Era ele que erguia casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão.
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.

De fato, como podia
Um operário em construção
Compreender por que um tijolo
Valia mais do que um pão?
Tijolos ele empilhava
Com pá, cimento e esquadria
Quanto ao pão, ele o comia...
Mas fosse comer tijolo!
E assim o operário ia
Com suor e com cimento
Erguendo uma casa aqui
Adiante um apartamento
Além uma igreja, à frente
Um quartel e uma prisão:
Prisão de que sofreria
Não fosse, eventualmente
Um operário em construção.

Mas ele desconhecia
Esse fato extraordinário:
Que o operário faz a coisa
E a coisa faz o operário.
De forma que, certo dia
À mesa, ao cortar o pão
O operário foi tomado
De uma súbita emoção
Ao constatar assombrado
Que tudo naquela mesa
- Garrafa, prato, facão -
Era ele quem os fazia
Ele, um humilde operário,
Um operário em construção.
Olhou em torno: gamela
Banco, enxerga, caldeirão
Vidro, parede, janela
Casa, cidade, nação!
Tudo, tudo o que existia
Era ele quem o fazia
Ele, um humilde operário
Um operário que sabia
Exercer a profissão.

Ah, homens de pensamento
Não sabereis nunca o quanto
Aquele humilde operário
Soube naquele momento!
Naquela casa vazia
Que ele mesmo levantara
Um mundo novo nascia
De que sequer suspeitava.
O operário emocionado
Olhou sua própria mão
Sua rude mão de operário
De operário em construção
E olhando bem para ela
Teve um segundo a impressão
De que não havia no mundo
Coisa que fosse mais bela.

Foi dentro da compreensão
Desse instante solitário
Que, tal sua construção
Cresceu também o operário.
Cresceu em alto e profundo
Em largo e no coração
E como tudo que cresce
Ele não cresceu em vão
Pois além do que sabia
- Exercer a profissão -
O operário adquiriu
Uma nova dimensão:
A dimensão da poesia.

E um fato novo se viu
Que a todos admirava:
O que o operário dizia
Outro operário escutava.

E foi assim que o operário
Do edifício em construção
Que sempre dizia sim
Começou a dizer não.
E aprendeu a notar coisas
A que não dava atenção:

Notou que sua marmita
Era o prato do patrão
Que sua cerveja preta
Era o uísque do patrão
Que seu macacão de zuarte
Era o terno do patrão
Que o casebre onde morava
Era a mansão do patrão
Que seus dois pés andarilhos
Eram as rodas do patrão
Que a dureza do seu dia
Era a noite do patrão
Que sua imensa fadiga
Era amiga do patrão.

E o operário disse: Não!
E o operário fez-se forte
Na sua resolução.

Como era de se esperar
As bocas da delação
Começaram a dizer coisas
Aos ouvidos do patrão.
Mas o patrão não queria
Nenhuma preocupação
- "Convençam-no" do contrário -
Disse ele sobre o operário
E ao dizer isso sorria.

Dia seguinte, o operário
Ao sair da construção
Viu-se súbito cercado
Dos homens da delação
E sofreu, por destinado
Sua primeira agressão.
Teve seu rosto cuspido
Teve seu braço quebrado
Mas quando foi perguntado
O operário disse: Não!

Em vão sofrera o operário
Sua primeira agressão
Muitas outras se seguiram
Muitas outras seguirão.
Porém, por imprescindível
Ao edifício em construção
Seu trabalho prosseguia
E todo o seu sofrimento
Misturava-se ao cimento
Da construção que crescia.

Sentindo que a violência
Não dobraria o operário
Um dia tentou o patrão
Dobrá-lo de modo vário.
De sorte que o foi levando
Ao alto da construção
E num momento de tempo
Mostrou-lhe toda a região
E apontando-a ao operário
Fez-lhe esta declaração:
- Dar-te-ei todo esse poder
E a sua satisfação
Porque a mim me foi entregue
E dou-o a quem bem quiser.
Dou-te tempo de lazer
Dou-te tempo de mulher.
Portanto, tudo o que vês
Será teu se me adorares
E, ainda mais, se abandonares
O que te faz dizer não.

Disse, e fitou o operário
Que olhava e que refletia
Mas o que via o operário
O patrão nunca veria.
O operário via as casas
E dentro das estruturas
Via coisas, objetos
Produtos, manufaturas.
Via tudo o que fazia
O lucro do seu patrão
E em cada coisa que via
Misteriosamente havia
A marca de sua mão.
E o operário disse: Não!

- Loucura! - gritou o patrão
Não vês o que te dou eu?
- Mentira! - disse o operário
Não podes dar-me o que é meu.

E um grande silêncio fez-se
Dentro do seu coração
Um silêncio de martírios
Um silêncio de prisão.
Um silêncio povoado
De pedidos de perdão
Um silêncio apavorado
Com o medo em solidão.

Um silêncio de torturas
E gritos de maldição
Um silêncio de fraturas
A se arrastarem no chão.
E o operário ouviu a voz
De todos os seus irmãos
Os seus irmãos que morreram
Por outros que viverão.
Uma esperança sincera
Cresceu no seu coração
E dentro da tarde mansa
Agigantou-se a razão
De um homem pobre e esquecido
Razão porém que fizera
Em operário construído
O operário em construção.

domingo, 5 de outubro de 2014

Junho x eleições [Eleições 2014]

A quatro dias das eleições, no vão do MASP, na avenida Paulista, alguns jovens fazem campanha para o PSOL, panfletam e discursam. O que primeiro me chama a atenção é que todos ali aparentam, no máximo, vinte e dois, vinte e três anos. A ausência de qualquer pessoa um pouco mais madura me fez lembrar da definição lapidar de Lula, em 2006, para a distribuição de papéis na sociedade do espetáculo: "se você conhece uma pessoa muito idosa esquerdista, é porque está com problema. Se você conhece uma pessoa muito nova de direita, é porque também está com problema". Me pergunto se algum desses jovens será mais que carta marcada nessa encenação que parte da rebeldia sem causa, passa pela contestação legalista e acaba na assunção da inefabilidade do status quo. Se se tornarem conservadores de esquerda - a exemplo do PT ou dos "antigos" do próprio PSOL -, uma elite intelectual, sindical e política com preocupações sociais, que reivindica melhor distribuição de renda e oportunidades, desde que não se mexa no seu status quo, podemos considerar um ganho, dado o atual estado da arte política no Brasil,
O que mais me chamou a atenção, todavia, foi a frase dita pelo adolescente ao microfone, que, no meu ver, aponta o quanto a política partidária e representativa está distante das reivindicações das chamadas jornadas de julho, e o quanto a esquerda tupiniquim organizada em partido é ou fraca ou conservadora (fico com a segunda opção). Dizia o jovem que o período de eleição presidencial era a época para a discussão de idéias para o país. Nada mais equivocado: eleição é época de síntese dessas discussões e apresentação de propostas de governo. A discussão de idéias deve ser feita todos os anos, todos os dias. Não é o que a esquerda partidária brasileira faz (menos ainda a direita): guiada por um calendário externo, ela encampa discussões postas pelo governo, pelo poder, e é incapaz de estabelecer uma pauta própria de discussões - mesmo que sejam discussões derivadas. Aí está a diferença de PT, PSOL e demais partidos para o MST na década de 1990, o MTST nos últimos quatro anos, em especial, e o Passe Livre, ano passado: esses movimentos foram e ainda são capazes de impôr uma agenda ao governo de turno, obrigam o poder a mudar sua rota para debater com o povo organizado, tendo que se pôr, muitas vezes, em situação delicada frente à uma pretensa sociedade organizada, que representa os de cima e tem seu status legitimados pelo poder. FHC não falou em debater a reforma agrária para o MST começar a se organizar, foi o contrário: a pressão do MST fez com que a reforma agrária não saísse da pauta do governo e da Grande Imprensa durante o tucanato. A mesma coisa o passe-livre e a questão da mobilidade urbana: posso estar errado, mas até junho a gestão Haddad investia nos corredores de ônibus e o modal bicicleta estava reduzido aos passeios de domingo - agora Higienópolis e Santa Cecília ameaçam pegar em armas para defender o direito da vaca-sagrada brasileira ir e vir e parar onde quiser.
Hoje tem eleições (escrevo domingo pela manhã), e independente do vencedor, os partidos que compõem nossa democracia devem seguir no seu caminhar de sempre: de costas para o povo, até que ele ocupe as ruas, grite e se faça ouvir. Se forem capazes de ouvi-lo e trazer essas reivindicações para dentro da arena institucional, sem ser pela via da criminalização, será pouco, mas já podemos nos dar por felizes.

São Paulo, 05 de outubro de 2014.

sábado, 13 de abril de 2013

Depois da festa, os corvos.

Nada contra corvos, urubus e aves do gênero. Reconheço que não acho dos pássaros mais bonitos, nem acharia muito interessante se tivesse um exemplar desses em meu quintal – prefiro as curucacas ou maritacas, a depender de que casa falo –, mas são aves que simpatizo. Feito o parênteses introdutório de desculpas, ao texto.

Em meus anos nos bancos de universidade, descobri que honestidade intelectual não é algo lá muito valorizado na academia – ou melhor, todo mundo fala bem, mas nem todos praticam. Quero acreditar que poucos, muito poucos agem de má-fé, e que eventuais lapsos são, antes, aquilo que Freud chamou de ato falho.

Amiga minha me avisou que o pesquisador da USP Silvio Carneiro havia redigido uma resposta pro meu texto “A alta intelectualidade contra o baixo centro”. Entrei no blog, dei um control F, digitei Daniel, não apareceu nada: se confundiu, avisei. Ela insistiu. Tem meu nome, meu blogue, referência ao meu texto? Não. Então não é pra mim. Ela insistiu de novo: é. Ok, fui ver o que o camarada tinha a dizer. Pode não ter sido uma resposta ao meu texto, e sim a um outro texto qualquer (que ele não apresenta), afinal, era bem visível seu convite à inação contemplativa-revolucionária que critiquei.

Achei que cabia uma nova resposta não tanto por o que ele escreve, mas porque em minha crítica ao artigo anterior do Carneiro, havia dito que seu “texto é um belo exemplo do cacoete dessa esquerda parasita de bancos acadêmicos, precária de pensamento”, e noto que não disse outra característica importante: é uma nata acadêmica a quem falta auto-análise e auto-crítica. Faltou também ele levar menos para o lado pessoal – reconheço que meu texto era um tanto agressivo, o que dificulta um distanciamento.

O “novo” artigo, “Depois da festa, os despojos” [http://j.mp/XJkgb4], tem duas partes: na primeira Carneiro se explica, na segunda, se justifica. A primeira serve para ele deixar clara sua erudição aos apedeutas ranzinzas. A segunda, para dizer que ele não é um apático pesquisador revolucionário de gabinete.

Não sei, reconheço que está divertido pegar o exemplo de um pesquisador de uma sigla cheia de letras, que se diz revolucionário, pra mostrar suas contradições. Mas que dá uma preguiça, dá. Se eu tivesse me proposto a ajudar na organização do Festival Baixo Centro – ou qualquer coisa útil – não estaria perdendo tempo com isto. Por falar em Baixo Centro, deixo claro: se no texto anterior falei do festival, de universidade pública e esquerda-intelectual-status-quo, neste falo só dos dois últimos: o Baixo Centro, apesar da torcida contra, conseguiu os fundos necessários para acontecer e está acontecendo, abrindo as possibilidades que comentei – resta saber como serão aproveitadas. Eu e Carneiro estamos aproveitando pra treinar nossa retórica de quem se diz crítico e babar nossa erudição feita de palavras-chaves.

A crítica pela crítica. Diretamente da sua comuna auto-sustentável (onde os integrantes não tocam em dinheiro), Carneiro fetichiza sua inteligência e erudição, “pois o fetiche remete a isto: não importa onde se dê, sequer com quem esteja se relacionando, o fetichista procura seu prazer na construção de um cenário”. O cenário que ele busca é aquele que ele lê, para poder ajustar a realidade à sua visão, e se pôr como ator político esclarecido – dono de uma contemplação iluminada. O autor, tudo indica, queria ver no Festival Baixo Centro a aplicação prática das teorias e críticas do seu grupo de vanguarda. Mas eles não seguem a verdade e isso o frustra. Carneiro vai pondo palavras nas bocas dos organizadores, numa interpretação do que foi dito bastante contestável, ainda mais pelos textos que ele indica (pode ser que ele oculte parte das suas fontes, vai saber, pode ter coisas que ele não consegue rebater). Por mais que não seja o foco, a atual onda de repressões não foram ignoradas no texto de Gabriela Leite. Onde ele viu toda essa rejeição à burocracia cultural? No fato de não pedirem autorização pra ir pras ruas nem se utilizarem da reserva técnica da Fapesp? A ausência de uma tutela incomoda sobremaneira o pesquisador: parece que ele só conhece a autonomia pela hierarquia.

Na parte em que se justifica, Carneiro se lembra que faz parte de outro grupo que o Zagaia – do qual sigo com a impressão de que é uma Negação da Negação soft e sem aquela boa revista que o MNN edita –, e é mais do que um pesquisador de um lugar cheio de letras da USP: também faz parte do Cordão da Mentira, o qual faz O evento verdadeiramente transgressor – a carnavalização em bares pra esquerdistas. Não deixa de ter graça ele precisar se explicar, e não deixa de ser amostra do quanto eles promovem ações relevantes e significativas fora do círculo dos próximos e iniciados. Enfim. A seguir, ele se esconde ao encadear uma lista de movimentos dos quais seriam parceiros. Ter grupos que apóiam é ótimo, melhor do que um aglomerado de pessoas tão-somente (o que, segundo ele, é o que acontece com o Baixo Centro). Mas no que esses grupos estão livres do fetichismo (que ele insiste em identificar rasteiramente com dinheiro) que acomete os organizadores do Festival Baixo Centro? Seriam pessoas abnegadas de qualquer conforto material que fazem fotossíntese? E como explicar bares revolucionários que cobram R$ 8,00 a garrafa de cerveja de multinacional que patrocina a escrete canarinho? Não explicou como financia os sambas em bar bacana de bairro de pessoas bacanas, onde desdentado não só não entra, como nem passa em frente. Isso para não dizer no que haveria de essencialmente diferente da sua festa pra do Baixo Centro – além de meia dúzia de pessoas iluminadas ou de uma pequena massa que aprova bovinamente as palavras da vanguarda

No fim, ele ainda precisa se explicar do porquê exercer “atividade de pesquisa”: “para entender as contradições de seu tempo”. Poderia começar por entender as suas próprias e do seu meio (aproveita que estuda psicanálise e procura um): afinal, fetichismo também não é dar vida a objetos inanimados? Por que Caneiro precisa se sustentar no fato de ser pesquisador do LATESFIP-USP para dar legitimidade ao que fala, isso numa sociedade que despreza conhecimentos não livrescos (vide o preconceito com o ex-presidente Lula)? É essa a contestação que ele faz, do alto da sua hierarquia? (não tão alta). Esse batido fetichismo acadêmico, que acha que títulos e participação em congressos são sinônimos de conhecimentos. Por que críticas incomodam – ainda mais de alguém que nem é pesquisador de porcaria alguma – tanto a ponto de ele não as pôr, só a responder, numa apresentação unilateral? Por que precisa pôr tão explicitamente que pesquisa é “atividade”? Não lembro de vendedor dizer: faço atividade de vendas: é óbvio que este faz uma atividade. E por que a prática não pode se tornar práxis sem as luzes dos doutos do marxismo? Que seja mais difícil, isso quer dizer impossível? Por que – além de por preconceito – achar que não é possível contestação num festival aberto como o Baixo Centro? Não sei se é do festival, mas não estava lá há duas semanas: embaixo do minhocão há um cartaz cobrando memória, com o nome de cinco (não lembro agora) desaparecidos políticos durante a ditadura militar. E se a academia e sua esquerda são tão eficientes, por que a USP se fecha cada vez mais pra sociedade? Por que ela se perde em patéticas discussões sobre polícia ou não polícia (patética pela forma que é posta)? Por que sua utilidade, aos olhos da maior parte da população, não vai além do HC?

Eu sigo achando que o mundo é mais vasto que a academia, mais complexo que uma teoria engessada e mal-digerida por seus seguidores, e que ações que rompem com a inércia e abrem possibilidades, mesmo que tais possibilidades não se concretizem, são melhores que disputas de ego em textos que querem apenas manter tudo como está – apesar de seus autores dizerem que são contra.



São Paulo, 13 de abril de 2013.

Daniel Gorte-Dalmoro, além da Casuística [www.casuistica.tk] e do MAP, PEPMA, PQPPFFC, ETZN, mIRC, ICQ, MSN e Facebook, não se lembrou de nenhum outro grupo do qual participou. Exerce a atividade de bon vivant por achar que se tem a oportunidade deve bem aproveitá-la. E segue freqüentando o Baixo Centro, mesmo fora do festival.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

A alta intelectualidade contra o baixo centro

(resposta ao texto “BaixoCentro: uma festa e nada mais”)
I'm only happy when it rains
I feel good when things are going wrong”
Garbage


Duas coisas que sempre me causam admiração em um certo pensamento da esquerda acadêmica brasileira: sua lógica binária e a capacidade preditiva da sua razão. Tais pensadores são capazes de dizer com uma certeza embasbacante se algo é bom ou ruim, se vai dar certo ou não, se é de esquerda ou não, antes mesmo de acontecer – não importa o que. Se não usam métodos econométricos, é por mera falta de familiaridade com eles. É certo que eles têm sido um pouco mais nuançados, talvez fruto da insistência nas leituras de Marx e marxistas, e até admitem que pode haver algo além de esquerda e direita: uma pretensa legião da boa vontade de aspirações esquerdistas, obnubilada pela reificação do capital e acometida do mal da falsa consciência.

Comento aqui o texto do pesquisador do LATESFIP-USP (Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise da Universidade de São Paulo, USP) e membro do Coletivo Zagaia, Silvio Carneiro, sobre o Festival BaixoCentro [j.mp/fBCz12]. O texto é um belo exemplo do cacoete dessa esquerda parasita de bancos acadêmicos, precária de pensamento – fruto, em boa medida, da ausência de interlocutores minimamente dignos na direita –, que vocifera contra o capital (e contra o pai), mas no fundo está satisfeita com sua situação, a ponto de não coadunar com mudanças parciais, em nome da pureza revolucionária: só aceitam alteração no seu status quo quando a revolução chegar – muito cômodo para quem come e bebe bem.

Sustentado por seus anos de estudo e pesquisa, Carneiro (será que devo chamá-lo de doutor Carneiro?) desfila toda sua erudição livresco-revolucionária não apenas para criticar o Festival BaixoCentro – que merece, sim, muitas e pesadas críticas –, mas para desqualificá-lo e desmerecer aqueles que se engajam na sua organização.

Ele começa sua crítica ao festival recorrendo ao conceito de fetichismo: o Festival BaixoCentro, no texto de convocatória de Gabriela Leite, se apresentaria como um espaço livre de relações fetichizadas. Não sei se é exatamente isso que ela quis dizer, mas com um pouco de boa vontade e contorcionismo intelectual, conseguimos acompanhar os malabarismos retóricos de Carneiro para encaixar o mundo na “sua” teoria.

O ponto que deixaria descarado o fetichismo da mercadoria no evento seria o uso de dinheiro para financiá-lo – o mecanismo do crowdfunding seria apenas um novo disfarce para “toda merda da mercadoria”. Pode até ser, realmente o Festival BaixoCentro não me pareceu em nenhum lugar ter como objetivo ao término do evento o fim da mercadoria. Entretanto, o destaque para o financiamento individual, sem apoio de ONGs ou empresas ou leis de incentivo ou reservas técnicas, talvez seja para deixar claro que não há um direcionamento externo, um balizador explícito de até onde podem ir as atividades e as críticas do evento. A principal fonte de restrição seria a “consciência reificada” de seus participantes, ignorantes que não conhecem a verdade, pois não decoraram Marx, Gramsci, Lênin, Lukács, Debord, Mumford, Castells, Jacobs; para quem adorno é aquilo com que se enfeita o corpo (como os índios fazem), e não a prateleira (como fazem os intelectuais). Não creio que seja má-vontade dessas pessoas, antes falta dessa predisposição para passar horas em leituras e seminários enfadonhos e estéreis. Será que não estariam dispostos a conversar? (Conversar! não ter uma aula ou palestra). Carneiro não sugere nada no lugar do crowdfunding para levantar o dinheiro necessário. Saques e expropriações forçadas da propriedade capitalista? Assaltos a bancos? Bolsa Fapesp e reserva técnica? (Mas quantos atenderiam as exigências tecnocráticas da fundação?) Salários pagos pelo Estado (porque, afinal, capitalismo de Estado não segue a lógica do capital)? Ou será que ele crê que o amor pela revolução já é suficiente para realizar um festival? Se é assim, por que o Zagaia nunca fez nada parecido? Samba em barzinho na Vila Madalena parece estar um tanto aquém do Festival BaixoCentro.

A segunda parte da crítica é à falta de objetivos claros e específicos do Festival BaixoCentro, sua proposta aberta e permissiva. O Festival, pelo que entendi (não sou nem conheço ninguém da organização, acompanho das redes sociais, tão-somente), se propõe a ser um espaço de encontro, diálogo e trocas; e não um serviço de alistamento de revolucionários bovinos a serviço de uma vanguarda esclarecida (afinal, são da USP), e isso parece inadmissível para nosso revolucionário de gabinete: tanto esforço para nada? (Lembre-se, o pensamento binário). Uma ocupação colonialista que não é para os propósitos da revolução (porque aí colonização vira libertação). Ele chega até a fazer uma extemporânea e descabida referência ao MST.

Discordo dos motivos, mas concordo com a crítica de Carneiro sobre a visão dos organizadores sobre o local, no seu quotidiano. A impressão que se tem é que eles só conhecem o baixo centro das notícias da imprensa: têm uma visão preconceituosa, abstrata. Parece que falta percorrerem, em diversos horários do dia e da noite, as ruas da região. Para muita gente, o baixo centro não é um local de passagem; o baixo centro não é só concreto e asfalto: é uma região rica. Se não rica de dinheiro, rica de tipos, de culturas, de vivências, de “mundão”. E essa riqueza se dá justo pela diversidade das pessoas, de classes, de etnias, de renda que freqüentam o lugar – é uma região bem mais rica que o conjunto de baladinhas assépticas da Vila Madalena, em que se depara com um público uniforme. Aumentar ainda mais a diversidade do centro deveria ser objetivo de qualquer pensador de esquerda, libertário ou democrático, apenas. Se os organizadores ainda não se deram conta disso, nada faz crer que estejam fechados a esse tipo de crítica, de diálogo. Então por que não chamá-los para discutir juntos a região, enquanto flanam pelas “feiras” da avenida São João, pelos nóias da rua do Boticário, pelos inferninhos da rua Aurora, pelos flertes gays da avenida Dr. Vieira de Carvalho, pelas travestis da rua Rego Freitas, pela babel da avenida Rio Branco? Por que essa região deveria seguir interdita para os manos do Grajaú, os playboys de Tatuapé, os alternativos da Augusta, os intelectuais da Vila Madalena, os engravatados que trabalham no local durante o dia?

Chamar para o diálogo? O texto de Carneiro – e todo o histórico das nossas elites intelectuais – deixa em dúvida se sabe fazer isso: dialogar não é pegar pelo braço e falar: é assim que se faz, da minha forma é a certa. É fazer críticas, observações, propostas e aceitar que o outro, mesmo sem ser doutor, pesquisador, mestre, bacharel, possa ser sujeito dotado de vontade e discernimento para aceitar ou recusar o que fala alguém cheio de títulos – e mais, é ouvir esse outro “ignorante” e saber que há o que aprender com ele, que se pode concordar ou discordar dele. Dialogar, verbo reflexivo: só se dialoga quando ambos estão dispostos a mudar suas convicções, suas posições – fora disso é debate, é mesa redonda, é colóquio, é palestra, é aula, é a academia.

Carneiro não quer o diálogo, o que ele quer então? A inação, a contemplação amarga do que há – que satisfaz o ego dos teóricos críticos, por serem capazes de verem a realidade para além do véu do fetichismo e da falsa consciência. Se for imprescindível a ação, monta-se uma mesa redonda em desagravo ou apoio, organiza-se um colóquio, escreve (mais) um texto; se não, deixar tudo como está, para ver se piora, para ver se acontece algo – aquilo que o grosso de nossa esquerda acadêmica há tanto tempo propõe. Pequenas mudanças não os interessam e as grandes eles não são capazes.

O Festival BaixoCentro pode ser reificado, fetichizado, pode não questionar a essência do capital, pode não propôr a revolução, pode ser falha ao esquecer das “populações autóctones”, ao se centrar na oferta de produtos culturais; mas ele tenta fazer algo, tenta sair dessa inação necrófila, dessa contemplação desesperançosa. Ele tateia perguntas, ele ensaia saídas, ele abre a possibilidade de mudanças – que a academia, ressentida e rancorosa, tenta sufocar. De minha parte, ao invés de me vangloriar da certeza do fracasso, eu prefiro arriscar a errar. Ao invés da amargura passiva que só aceita que se seja feliz depois da revolução, prefiro protestar contra o capital “com o amor erótico presente em ações lúdicas, estéticas e simbólicas”. Sou a favor das experimentações que abrem o devir para inesperados!


São Paulo, 03 de abril de 2013.

Daniel Gorte-Dalmoro nunca fez nada de útil ou que presta. O mais perto que chegou disso é ser agitador e editor de uma revista eletrônica de “artes antiartes heterodoxias”, a Casuística [www.casuistica.tk]. Já foi membro do MAP, PEPMA, PQPPFFC, ETZN, mIRC, ICQ, MSN e Facebook. Tem um blogue [www.comportamentogeral.blogspot.com] e pros seus pais e na bilheteria dos cinemas diz que é estudante.


ps: não conheço, não faço idéia de quem seja a pessoa Silvio Carneiro. Estou aqui numa discussão entre atores políticos.

ps2: esta resposta só foi publicado hoje, dia 03 de abril porque tomei conhecimento dele ontem.

ps3: Antes de acharem que o texto do Carneiro puxa uma discussão sobre a ocupação dos espaços públicos, vale lembrar que ele, na verdade, continua: quem inicia o debate, através da ação, é o BaixoCentro.