domingo, 1 de fevereiro de 2015

Eleições 2014, ainda - ao menos na Grande Imprensa.

Dois mil e quatorze acabou, as eleições, não. É o que dá para deduzir do artigo da diretora adjunta de redação do Valor Econômico, Claudia Safatle, em uma análise carente de lastro na realidade publicado na edição desta sexta-feira, que vocaliza como única verdade os desejos dos donos dos poderes - apresentados na Grande Imprensa como "opinião pública", "opinião de especialista" ou singelamente como "o país".
Diz ela que "Dilma não pode, ao final de dezesseis anos de governo do PT, entregar a economia pior do que Lula a recebeu em 2003, sob pena de condenar o partido à inanição e à morte". O fim do PT é o que canta a oposição desde o chamado Mensalão, mas o que se viu foi o desaparecimento do DEM e o enfraquecimento do PSDB. Achar que o Partido dos Trabalhadores corra perigo de desaparecer é desconhecer sua história e ignorar o presente. Ainda que perca as eleições, o PT conta com uma base forte, ainda que menos coesa e engajada do que na década de oitenta, e por ora nada no horizonte ameaça sua hegemonia dentro do espectro "progressista" da política tupiniquim (por favor, entender esse "progressista" em termos relativos frente as demais forças políticas do país). A explicação para os reiterados erros de previsão é simples: o Brasil, apesar de seus milionários e novos ricos com casa em Miami, de seus coronéis religiosos e midiáticos, segue um país feito de trabalhadores e trabalhadoras que labutam muito e ganham pouco, cuja preocupação maior é de suas contas fecharem no fim do mês, e não as do país. Os "desajustes macroeconômicos" - cuja idéia assume implicitamente que os modelos neoclássicos correspondem à realidade, apesar de cada vez mais desacreditados pelos grandes economistas do mundo -, apresentados como desastrosos, porque dificultam a transferência de renda aos donos dos poderes, são secundários, ao brasileiro médio, diante do emprego recorde e do aumento real dos salários - isso ajuda a explicar a vitória petista, ano passado. Além disso, os porta-vozes dos poderosos são incapazes de compreender a diferença que as políticas sociais petistas fazem, preferindo acreditar na grosseira tese do bolsa-família como curral eleitoral, enquanto os verdadeiros novos coronéis da política - os pastores evangélicos e os barões midiáticos - passam incólume, apenas aumentando seu rebanho de almas-votantes e zumbis-raivosos.
Quem corre mais risco com o segundo governo dilmista é a própria: ao adotar o receituário conservador-reacionário, depois de ter ganho as eleições com um discurso à esquerda, Dilma corre o risco de ser abandonada, no fim de seu governo, pelo partido e pelos movimentos sociais - dizia Maria Inês Nassif, no mesmo jornal, ainda antes da primeira eleição de Dilma, que ela seria a primeira presidente menor que o partido desde o início da Nova República. Sob fogo cerrado da Grande Imprensa, da direita hidrófoba, dos movimentos sociais e das esquerdas, não será surpreendente se o partido da situação apresentar um candidato de oposição, tal como o PSDB e José Serra, em dois mil e dois. O ministério de Dilma dá algumas pistas nessa direção.
Enquanto isso, âncoras, colunistas e formadores de opinião da Grande Imprensa seguem noticiando o que não passa de desejo de seus patrões, na esperança que uma alucinação coletiva traga de volta os bons tempos em que eles não eram incomodados pela malta que serve seus canapés.

01 de fevereiro de 2014.

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