Dois
mil e quatorze acabou, as eleições, não. É o que dá para deduzir
do artigo da diretora adjunta de redação do Valor Econômico,
Claudia Safatle, em uma análise carente de lastro na realidade
publicado na edição desta sexta-feira, que vocaliza como única
verdade os desejos dos donos dos poderes - apresentados na Grande
Imprensa como "opinião pública", "opinião de
especialista" ou singelamente como "o país".
Diz
ela que "Dilma não pode, ao final de dezesseis anos de governo
do PT, entregar a economia pior do que Lula a recebeu em 2003, sob
pena de condenar o partido à inanição e à morte". O fim do
PT é o que canta a oposição desde o chamado Mensalão, mas o que
se viu foi o desaparecimento do DEM e o enfraquecimento do PSDB.
Achar que o Partido dos Trabalhadores corra perigo de desaparecer é desconhecer sua
história e ignorar o presente. Ainda que perca as eleições, o PT
conta com uma base forte, ainda que menos coesa e engajada do que na
década de oitenta, e por ora nada no horizonte ameaça sua hegemonia
dentro do espectro "progressista" da política tupiniquim
(por favor, entender esse "progressista" em termos
relativos frente as demais forças políticas do país). A explicação
para os reiterados erros de previsão é simples: o Brasil, apesar de
seus milionários e novos ricos com casa em Miami, de seus coronéis
religiosos e midiáticos, segue um país feito de trabalhadores e
trabalhadoras que labutam muito e ganham pouco, cuja preocupação
maior é de suas contas fecharem no fim do mês, e não as do país.
Os "desajustes macroeconômicos" - cuja idéia assume
implicitamente que os modelos neoclássicos correspondem à
realidade, apesar de cada vez mais desacreditados pelos grandes
economistas do mundo -, apresentados como desastrosos, porque
dificultam a transferência de renda aos donos dos poderes, são
secundários, ao brasileiro médio, diante do emprego recorde e do
aumento real dos salários - isso ajuda a explicar a vitória
petista, ano passado. Além disso, os porta-vozes dos poderosos são
incapazes de compreender a diferença que as políticas sociais
petistas fazem, preferindo acreditar na grosseira tese do
bolsa-família como curral eleitoral, enquanto os verdadeiros novos
coronéis da política - os pastores evangélicos e os barões
midiáticos - passam incólume, apenas aumentando seu rebanho de
almas-votantes e zumbis-raivosos.
Quem
corre mais risco com o segundo governo dilmista é a própria: ao
adotar o receituário conservador-reacionário, depois de ter ganho
as eleições com um discurso à esquerda, Dilma corre o risco de ser
abandonada, no fim de seu governo, pelo partido e pelos movimentos
sociais - dizia Maria Inês Nassif, no mesmo jornal, ainda antes da
primeira eleição de Dilma, que ela seria a primeira presidente
menor que o partido desde o início da Nova República. Sob fogo
cerrado da Grande Imprensa, da direita hidrófoba, dos movimentos
sociais e das esquerdas, não será surpreendente se o partido da
situação apresentar um candidato de oposição, tal como o PSDB e
José Serra, em dois mil e dois. O ministério de Dilma dá algumas
pistas nessa direção.
Enquanto
isso, âncoras, colunistas e formadores de opinião da Grande
Imprensa seguem noticiando o que não passa de desejo de seus
patrões, na esperança que uma alucinação coletiva traga de volta
os bons tempos em que eles não eram incomodados pela malta que serve
seus canapés.
01 de fevereiro de 2014.
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