sábado, 18 de agosto de 2001

Carta pra folha: Fundações universitárias

Muito pertinente o debate que a Folha tem trazido à tona acerca das fundações nas universidades públicas. Como aluno da USP, é com preocupação que vejo marcada para o dia 4 de setembro a regulamentação das fundações pelo Conselho Universitário (CO) sem que o assunto tenha sido suficientemente discutido dentro e fora da universidade. A USP poderia dar um exemplo de atitude democrática, prorrogando a regulamentação e ampliando o debate sobre as fundações.

Ribeirão Preto, 18 de agosto de 2001

terça-feira, 14 de agosto de 2001

O autoritarismo na ciência

É difícil desvincular, quando se discute questões científicas, do embate ético. Todo experimento, seja com humanos seja com animais, traz à tona este debate. Até onde o pesquisador tem direito de seguir com seu experimento?

Apesar de todos os entraves postos pela comunidade científica, não são raros os exemplos de pesquisas que ignoram as questões éticas. Não faz um mês, o jornal Folha de São Paulo trouxe uma matéria sobre o interesse de pesquisadores estrangeiros – em especial estadunidenses ligados à indústria (ou melhor seria chamar de máfia?) farmacêutica – em realizar pesquisas no Brasil. O fator motivacional predominante para tal interesse não é a qualidade de nossos cientistas, mas sim a facilidade para se coagir pessoas para servirem de cobaias humanas em experimentos com drogas, na sua maioria voltadas para moléstias dos países imperialistas. Estas pessoas, em troca de uma pequena remuneração, ou muitas vezes nem isso, pela simples preferência em certos exames e consultas, provam drogas sem saber – ou sem se importar – com os efeitos danosos que estas podem trazer ao seu organismo.

Por mais que seja veementemente negado, é do conhecimento de todos, inclusive da comunidade científica – esta que arbitra o que é ético e o que não é – o uso de pessoas de países subdesenvolvidos como cobaias humanas.

Outros dois exemplos que têm tido espaço nos noticiários nos últimos dias são a restrição ao uso de células-tronco em pesquisas nos EUA, e o anúncio de dois cientistas (?) de que tentarão clonar seres humanos. Não vamos nos aprofundas nestes dois tópicos, mas vale ressaltar a importância de se debater essas questões; taxar, simplesmente, de ético ou antiético, ao bel prazer de meia dúzia de cientistas “renomados” é antidemocrático, se não antiético.

Quem não aprende com o passado tende a repetir sempre os mesmos erros. Evitar o debate mais amplo sobre questões como ética, agindo de forma autoritária, é cometer o mesmo erro cometido pela Igreja Católica durante a Idade Média, que pensava que evitando o debate evitaria posições contrárias.

Ribeirão Preto, 14 de agosto de 2001