quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

Paciência tem limite

Se eu quisesse aumento de juros, medidas para agradar o mercado, aumento do superávit, independência do Banco Central, corte de gastos e outras medidas afins que marcaram o governo FHC, teria votado logo no Serra, ganharia uma orelha de burro, mas ficaria livre do nariz de palhaço.

Se acham que eu estou exagerando, vale conferir FHC: uma biografia não-autorizada, do cartunista Angeli (www.uol.com.br/angeli). Sarney, ACM, muito blábláblá, alianças esdrúxulas, Lula segue direitinho os passos do antecessor. Só falta o Lula dizer explicitamente "esqueçam o que eu escrevi".

Primeiro os mercados elogiaram Lula, agora foi a vez do FHC. FHC?! "O presidente [Lula] tomou decisões muito austeras. Isso parece uma espécie de coroação do que eu disse". Se FHC não mudou de idéia – continua se achando o maior estadista do Brasil, que suas reformas neo-liberais foram frutos de análise e reflexão e era (é) esse o único caminho para o Brasil chegar ao mundo civilizado – só pode o Lula ter mudado.

Claro que mudanças bruscas são difíceis, dado o estado calamitoso e dependente do Brasil entregue ao Lula por FHC, mas onde estão as sinalizações de mudança? Por que aumentar e não diminuir em meio porcento os juros? ACM na comissão de Constituição e justiça? Só faltou chamar a senadora Heloísa Helena e o deputado Babá de neo-bobos. O jornalista Jânio de Freitas, uma das mais lúcidas vozes do Brasil, disse que não podemos acusar Lula de incoerente: ele segue coerentemente a cartilha ditada pelo FMI.

Em editorial, a Folha de São Paulo criticou a falta de um plano de governo. E aquele projeto para o país que o Lula, durante a campanha, dizia ter, onde está? Existia mesmo? Onde estão as reformas prometidas?

Paciência tem limite. A minha chegou ao fim, e creio que a de muitos já está esgotando também. De La Rúa também se elegeu como candidato da esquerda, prometendo reformas, mas preferiu seguir os passos do antecessor. Nós sabemos aonde deu.


Campinas, 13 de fevereiro de 2003

sábado, 8 de fevereiro de 2003

Não à guerra!

Belicistas, capitalistas, direitistas e filhos da puta em geral estão com um sorriso de orelha a orelha, afinal, vem aí mais uma guerra! Mais realistas e mais emocionantes – apesar de não ter sangue – que os jogos de computador, as imagens da Fox vão fazer a alegria de milhares de pessoas. Claro que nem tudo são flores, analistas analisam que essa guerra será curta – uma pena. Todavia, mesmo sendo curta, será considerável o montante de dinheiro gasto (creio que a indústria bélica também esteja contente).

Enquanto o video-game real não começa, nos divertimos com o Bush e sua cara do tio da revista Mad e suas desculpas esfarrapadas para argumentar a tão sonhada guerra: Saddam tem ligação com Bin Laden, tem armas de destruição em massa, oprime seu povo, é um perigo para os Estados Unidos. Curioso também é a falta de memória dele e da imprensa: tanto Saddam quanto Laden são crias dos EUA, da época da guerra fria; as armas de destruição em massa são presentes do Tio Sam, o perigo que o Iraque representa para os Estados Unidos, analisam os analistas, é menor do que dez anos atrás quando Bush pai fez o primeiro ataque ao bigodudo; e quanto a oprimir o povo, finjamos esquecer o apoio estadunidense às ditaduras do Chile, Brasil, Argentina, Iraque... Não entendo porque o Saddam não pode ser simplesmente chamado (e aceito com naturalidade) como “efeito colateral”.

Também não entendo porque tanta insistência em achar uma desculpa para a guerra. Salvo o Berlusconi e o Blair, todo mundo sabe que a guerra vai sair porque a indústria bélica precisa gastar as balas que faz (e como atirar em colegas de trabalho, escola está um tanto demodé, nada como uma guerra, sempre na moda); e que a indústria petrolífera não vê a hora de abocanhar uma das maiores jazidas de petróleo do mundo.

Mesmo que Bin Laden e toda a Al Qaeda se entregue, que Saddam dê a independência aos curdos, que prove que suas fábricas de armas químicas são, na verdade, fábricas de leite em pó (como a destruída tempos atrás pelos “ataques preventivos”), convoque eleições pluripartidárias e ganhe, se converta ao cristianismo e não deixe as petrolíferas do mundo civilizado explorar as jazidas iraquianas a guerra irá acontecer. Com que desculpa? Isso é o de menos. Pode ser a extinção do mico-leão-dourado, por que não? Ou então a explosão da nave espacial, a queda da Nasdaq, a morte da bezerra, qualquer desculpa serve (mande suas sugestões!). Olhando pelo lado bom: enquanto a guerra não começa, nos divertimos com o Febeapá (versão Febeamu) do Bushinho, seus secretários e seu poodle-Blair.

Por que resolvi escrever sobre a guerra, um assunto tão batido? Ora, não é todo dia que surge a oportunidade da nossa opinião ser tão relevante quanto à do Chirac, do Schroeder, do Papa...

Não à guerra!


Pato Branco, 08 de fevereiro de 2003