quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Eleições 2018: Guerrilha psíquica para tentar vencer no primeiro turno

Faço minha análise da subida de Bolsonaro nas pesquisas ao estilo do Nassif, ver se consigo ser menos prolixo.
Peça 1: Pesquisa não é eleição
Pesquisa é pesquisa, eleição é eleição, e vale lembrar que os institutos de pesquisa no Brasil são pródigos em erros grosseiros - Aécio que o diga, mas vale lembrar que o Ibope errou por uns 10 milhões os votos de Aloysio Nunes para o senado, e nem citava Young, que acabou em quarto, apenas exemplos de 2014. Pesquisas podem ser manipuladas e ajudam a dar ânimo ou tirar o ânimo de apoiadores de certo candidato.
Peça 2: Adesão ao fascista
Diante do retumbante fracasso tucano, a mídia, seus antipetismo visceral, aderiu à candidatura fascista, que tem em seu projeto a submissão nacional bem ao gosto da rede Globo. O mantra de "as instituições estão funcionando" talvez guarde a ilusão de que será possível controlar Bolsonaro uma vez no poder, sem atentar que sua retirada não implica em um governo mais previsível. [bit.ly/2DTgaZ8]
Peça 3: Golpe branco
A rede Globo (e toda a mídia) é especialista em tentar golpes brancos contra nossa incipiente e precária democracia. Em sete eleições presidenciais, fez uso do que há de mais abjeto para tentar emplacar seu candidato em seis, apenas em 1994 com o Plano Real posto em ação no tempo eleitoral perfeito, não precisou usar de tal expediente. Não tem porque não fazer uso novamente em 2018. Contudo, vale lembrar que suas tentativas de influenciar na eleição tiveram resultado efetivo apenas em 89 e 98 (levar 2006 para segundo turno e perder não conta). Curiosamente, o golpe branco deste ano retoma parte da retórica de 1989, com o antipetismo ganhando apoio por medo do "comunismo" (!?) - além dos motes principais dessa corrente, o falso moralismo contra a corrupção e o ódio a pobre e periférico que "não sabe seu lugar".
Peça 4: Facada da sorte
A facada em Bolsonaro, logo no início da campanha, provavelmente foi o que permitiu a ele se manter onde esteve e se garantir com a segunda vaga para o segundo turno (a primeira vaga, pouco importa se em primeiro ou segundo lugar, desde sempre foi do PT, partido em torno do qual orbita a disputa nacional desde 1989). Sem precisar se expôr, tanto em entrevistas quanto em debates, ganhou blindagem natural de tudo o que diria e tiraria seus votos (seu vice e seu economista deram mostras do que seria Bolsonaro em forma), além de não poder ficar com a pecha de covarde por ter fugido dos debates, como já anunciara. Sem poder ser atacado diretamente, pode reforçar seu discurso de antissistema com os ataques recebidos de todos os demais candidatos [bit.ly/2IA1cWI]. Que erraram na estratégia ao polarizar PT e Bolsonaro, garantindo que ele é o antipetista real, sem essa conversinha de terceira via, de centro.
Peça 5: Segundo turno é outra eleição
Ainda mais quando não há um candidato disparado na frente, 49% dos votos válidos, o segundo turno abre novas possibilidades - em 2006, vale lembrar, Alckmin perdeu três milhões de votos, com relação ao primeiro. Bolsonaro recuperado, se verá forçado a ir aos debates, até para não ficar com a fama de covarde. Exposto, seu discurso moralista e antissistema se desfaz, e é possível que muitos antipetistas menos radicais acabem por optar votar nulo. Por isso as sondagens de segundo turno pouco valem, antes do segundo turno começar para valer. Para Haddad e o PT, uma das questões é tomar as rédeas do discurso do comunismo, explicar o que é e que o partido nunca foi comunista.
Peça 6: A única chance de vitória de Bolsonaro é no primeiro turno
O fascista já dava por perdida a eleição, tanto que cantava golpe, falava em não admitir a derrota. A união da mídia, com apoio explícito de Edir Macedo, é a grande (se não única) chance de vencer o PT: com vitória em primeiro turno, sem exposição do candidato. Dias atrás havia lido a hashtag no Twitter, hoje ouvi conversas no metrô, e fui atrás de alguns vídeos da direita hidrófoba convocando para uma mobilização em busca da vitória em primeiro turno contra o "perigo comunista". Uma amiga me mostrou post de uma transexual, que dizia que queria ir de Marina, mas se via obrigada a votar logo no fascista, para não dar chance ao PT ("bicha burra nasce morta", diziam os gays nos anos 1980, quando sair do armário era sério risco de vida, mais que hoje).
Peça 7: Antecipar voto útil e forçar desistência dos eleitores do outro campo
Para vitória de Bolsonaro, foi montado uma estratégia de guerrilha psíquica, pela internet e pela mídia convencional. Primeiro, antecipou o voto útil contra o PT,  com o discurso de possibilidade de vitória em primeiro turno. Contribuiu a estratégia equivocada do PSDB (seguida por Ciro e Marina) de pintar o PT como antítese de esquerda do Bolsonaro - logo, Bolsonaro como o antipetista da gema [bit.ly/cG181001]. Com isso, enterra-se de vez as candidaturas antipetitas que não decolaram, e sequer vão saber qual sua real dimensão - Alckmin, Marina, Álvaro Dias. Ciro, ao sinalizar o abandono do pós-petismo (que dividia com Meirelles e Boulos) pelo antipetismo arrisca mergulhar na mesma vala. Ainda assim, apenas a migração de voto não parece ser suficiente, é preciso desestimular o voto que não de bolsonaristas. Eis o segundo momento da estratégia: forçar um aumento dos votos brancos, nulos e abstenções: o factoide político de Moro desta semana seria uma tentativa extra de deslegitimar o sistema como um todo, favorecendo não apenas voto no candidato antissistema mas, principalmente, descrédito e abstenção dos que votaram em candidatos do sistema. Em alguma medida foi a estratégia de 2016, e vale lembrar que vitória em São Paulo de Dória Jr, em primeiro turno, teve quase 10% menos votos que Haddad em 2012, mesmo com base maior de eleitores.
Peça 8: Como ler as recentes pesquisas
As pesquisas que sinalizam crescimento de Bolsonaro e estagnação de Haddad podem ser manipuladas ou não. Pode, de fato, que a estratégia de forçar eleitores antipetistas a antecipar o voto útil já seja palpável; como é possível que os institutos tenham forçado a situação desejada, para criar o factoide e forçar uma profecia auto-realizável. Tão importante quanto é como a mídia adentrou no discurso de "possível vitória em primeiro turno", "empate no segundo turno", "líderes de rejeição", contribuindo para desestimular os votos nos demais candidatos: o discurso subliminar é de que "se não for agora, Bolsonaro ganha no segundo turno". Então, melhor nem perder tempo. Sem falar no discurso de que Bolsonaro ou Haddad são a mesma coisa, então tanto faz quanto tanto fez.
Peça 9: A reação do campo democrático e antifascista
Como disse, em seis oportunidades de golpe branco (sete, se contarmos o caso Procunsult de 1982), a Globo teve sucesso apenas em dois, e nos primórdios da nossa democracia, sendo que o de 1998 por omitir informação (da eminente quebra do país) que por forçar um factoide. A estratégia não é garantia de vitória, mas não se deve descuidar, e é preciso reação das forças democráticas, populares e antifascistas. Ainda espero uma postura à altura do momento por parte de Ciro. Como assinalou Luis Costa Pinto em seu Fakebook, esperamos que Ciro não siga os passos de Marina e destrua toda sua história de vida pública por ressentimento. A ver como se comportará no último debate. Porém, o principal para evitar a vitória fascista é a mobilização das pessoas comuns, mobilização de base, das mulheres que foram às ruas, e de todos aqueles que se dão conta do que significa a vitória de Bolsonaro. Partir para a conversa, na internet e no boca a boca, com parentes, amigos, conhecidos e desconhecidos, tentando convencê-los a votar em algum candidato que não o do PSL. Algo na linha "não se precipite, marque qual sua real opção no primeiro turno, para dar força a esse projeto político para negociar no novo governo, e no segundo turno, ouça com atenção as propostas do Bolsonaro, para ver se ele é mesmo uma opção viável". Para o voto de protesto, cabe campanha para Cabo Daciolo. A questão é: manter a mobilização, partir para o corpo a corpo, em busca de votos para quem quer que seja, que não Bolsonaro. O segundo turno é outra eleição, e Haddad é favorito, até pela precariedade do fascista.

03 de outubro de 2018

Sem comentários: