quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

Quem precisa de armas de destruição em massa?

E o senhor George W. Bush, o novo Nero da nova Roma, já avisou que os protestos pacifistas não irão mudar sua decisão de atacar o Iraque. E a desculpa que o dito cujo (eu iria chamá-lo de toupeira, mas acho que o animal não merece ser ofendido) vai mesmo usar é a das armas de destruição em massa.

Como diz a piada que circula pela internet, não é difícil Bush provar que Saddam tem as famigeradas armas: basta mostrar o recibo. O detalhe é que, se Saddam ainda guarda tais armas, elas já não têm efeito algum há mais de dez anos, pois passou sua validade, dizem os especialistas.

Mas aproveito a sua ânsia por carnificina e sugiro ao nosso ignóbil imperador que faça guerra também contra os países produtores de palitos de fósforo, isqueiros, líquidos inflamáveis, aviões, carros e armas de destruição individual.

Apesar da memória do senhor Bush não ser tão curta quanto a sua inteligência (sabemos que inteligência um dos seus quatro calcanhares de Aquiles), ela também não parece ser muito boa. Seria interessante recordar o distinto que o WTC foi destruído por dois aviões, e nenhuma bomba, que as matança de colegas de trabalho e de aula, que o atirador de Washington não usou arma nenhuma de destruição em massa, apenas armas de destruição individual: revólver, metralhadoras e afins; que os automóveis no Brasil tem os saldos de uma guerra. Agora foi a vez de um sul-coreano (viva a globalização!) mostrar que não é necessário nada além de um isqueiro e um líquido inflamável para matar mais de 120 pessoas e deixar mais de 340 desaparecidas. E isso que ele pegou o finalzinho da hora de maior movimento, imagine se fosse no horário de pico!

É melhor o Bush achar uma desculpinha melhor. A explosão da nave espacial parece ser uma boa. Enquanto isso, vamos torcendo para que o próximo Pretzel do Bush seja fatal! Make love, not war, but kill Bush and his friends!


Campinas, 20 de fevereiro de 2003

terça-feira, 18 de fevereiro de 2003

Será a vida tão vazia?

Fui, finalmente, conhecer a maravilhosa festa de recepção aos calouros, conhecida por chopada. O melhor da noite foi ver que não perdi nada por ter faltado às chopadas que eu poderia ter ido e não fui.

Não sei onde li, mas diz-se que a noite, por toda a sua atmosfera, suas sombras, ajuda as pessoas a se desinibirem. A chopada não me pareceu apenas desinibição, mas uma volta às origens biológicas do homem. Por falar em origens biológicas, ô arrependimento que tive de não ter aproveitado bem o ano de psicologia que fiz, em especial a leitura do livro "O Macho Demoníaco"; de qualquer forma, a aula que prestei atenção me ajudará nesta crônica.

A festa só tinha graça para a maioria porque tinha (muita) cerveja e pinga de graça, cola, maconha e, para alguns escolhidos, cocaína (detalhe, a festa foi paga com o meu, o seu, o nosso dinheiro). Salvo a cola, nada que me surpreendesse. No centro do bar que serviu à comemoração, uma mesa de bilhar, utilizada como palco, onde calouros e calouras se embebedavam e se insinuavam como não fariam caso estivessem sóbrios. As brincadeiras que ali ocorriam, minha mãe classificaria como "baixaria". Mas não foi isso que ouvi com algumas pessoas que conversei: estavam achando muito divertido, legal. Isso, até o palco ser, lentamente, tomado por homossexuais, três homens e três mulheres. Aí ouve alguns que classificaram aquilo como baixaria. Muitos ainda continuavam a achar aquilo o máximo. Até a hora que fiquei ainda não tinha rolado, a exemplo do ano anterior, cenas de sexo explícito, mas isso pouco importa, é mais a título de curiosidade. Ao meu lado, um grupo de quatro amigas, inspiradas no palco, brincavam de se beijar.

Descrevida a cena, passemos às análises. Na aula na psicologia, acerca do livro acima citado, o professor comentara (melhor seria dizer impusera a verdade de) que os machos de uma certa espécie de macacos (que não me lembro agora), gritavam e se excitavam muito, antes de guerrear com outro bando de macacos; a chopada ajuda a tirar qualquer dúvida de que somos descendentes dos macacos. O professor comentara também que em bandos cujas fêmeas eram as líderes, elas se utilizavam do sexo para manter os machos pacificados. Freud também tem em sua teoria o sexo como uma das fontes dissipadoras de energia acumulada (dissipação necessária para o bom funcionamento da pessoa); ponto pra chopada!

Mas não é minha intenção aqui mostrar que o homem lembra muito o macaco ou algo similar. Fiz estas observações apenas para tentar ilustrar um pouco o clima da festa.

Juntando os pontos. Festas como essa (festas em geral) teriam como utilidade liberar instintos e desejos reprimidos, além do uso de drogas. Isso seria muito bom, se no outro dia as pessoas estivessem mais calminhas, ou então, menos preocupadas em taxar fulano ou sicrano de gay, enfim, se a festa tivesse tido a utilidade de catarse; mas no outro dia, volta todo mundo igual: preconceito, violência, brigas.

Quanto ao uso de drogas, não lembro onde li, mas concordo com a idéia de que a humanidade sem as drogas não teria sobrevivido. Mas há usos e abusos. A desculpa para abusos como o de ontem é que deve-se aproveitar a vida, divertir-se. Mas que espécie de diversão é essa que a pessoa não lembra de metade dela no dia seguinte? Que aproveitar a vida é esse que brinca de roleta russa com o futuro?

O abuso de drogas me parece sintomático de uma sociedade doente. Uma sociedade consumista, que prega o prazer a qualquer custo,.que não tem utopias, não possui sonhos, apenas metas mesquinhas e egocêntricas. A dita chopada serve pra (tentar) esquecer que nossa vida não apenas se esvai dia a dia, mas que afunda na latrina em que a pusemos.

Tem gente que acha divertido ver os outros falando besteira, o que não é o meu caos. Sei que um dos meus defeitos é o de ser muito sério, mas será a vida tão vazia?


Campinas, 18 de fevereiro de 2003