segunda-feira, 23 de abril de 2012

Dilma, a gerente nos tempos da política da lição de casa.

A última pesquisa de opinião do Datafolha, que dá à presidenta Dilma Rousseff 64% de aprovação, muito acima dos seus antecessores no mesmo tempo de governo, serve para reforçar uma vez mais a idéia de que a polarização irracional entre PT e PSDB que imprensa, internet e redes sociais alardeiam está superdimensionada. Se somar os que consideram o atual governo regular, Dilma alcança 93% de opiniões favoráveis – o que não implica, nas simulações de segundo turno (!) contra candidatos tucanos, que a atual presidenta consiga reverter automaticamente todo seu apoio em votos.

De qualquer forma, alguém que aprova Dilma votar no PSDB é sinal que não vê diferença substancial entre os partidos. E, salvo no PSDB paulista, não está tão equivocado, não. O grande carro chefe de Lula, o Bolsa Família, atendia a proposta que corria entre muitos economistas neoliberais, de adoção de políticas compensatórias para a devastação do livre-mercado – nada que PSDB não adotaria, ou que não tenha adotado, ainda que mais timidamente. Quanto à sanha privatista tucana, não é demais lembrar que dos primeiros atos relevantes do segundo governo Lula foi a privatização das estradas, como de Dilma, a dos aeroportos. A guinada neo-nacional-desenvolvimentista, aprofundada com a crise de 2008, talvez seja uma das diferenças mais substanciais entre os partidos – mas essa opção de política de governo, para além da esfera de economistas, cientistas políticos e meia dúzia mais preocupados em macro-economia, pouco influencia a visão de grande parte da população sobre um partido, e aqui incluo a parcela que se crê politizada.

Outra diferença mais marcante está entre PT e PSDB paulista, talvez o grande motor da pseudo-polarização que afeta a sociedade, a se crer no que se lê e se vê. E isso por conta, principalmente, de dois caciques do partido: Serra, que desde 2010 abraçou abertamente as propostas mais reacionárias no quesito de costumes; e Alckmin, que tem como política de governo uso sistemático de repressão policial contra populações marginalizadas não-criminosas. Ou seja, a diferença aqui estaria no respeito ou não aos direitos humanos [bitly.com/cG24112]. O terceiro cacique do partido no Estado, FHC, até tentou problematizar em busca de norte menos reacionário – ainda que conservador – ao partido; não obteve respaldo, ao menos em São Paulo. A imprensa, claro, tem seu papel fundamental nesse superdimensionamento, uma vez que, como mostrou Maria Ines Nassif em texto para revista Interesse Nacional [j.mp/J5zd9k], acabou se tornando a base da oposição – o PSDB até anda tentando adentrar nos sindicatos, mas ainda é muito frágil socialmente.

A aprovação de Dilma ser maior do que a de Lula mostra, por outro lado, que a popularidade do ex-presidente vai além da sua figura, foi transferida ao PT no governo federal. Dilma, ao manter a linha mestra de políticas econômicas e sociais do antecessor conseguiu preservar a popularidade entre aqueles que o aprovavam. O extra frente Lula se deve, muito provavelmente, a dois fatores. O primeiro, ao estilo discreto da atual mandatária da República, que se trata, no fundo, da aplicação do slogan de Alckmin em 2006, “O Brasil precisa de um gerente”. O segundo é que, como Dilma possui diploma universitário, quebrou-se a rejeição nutrida por uma parte da população – que por ser letrada e ter um diploma “superior” na parede crê ser instruída e saber ler – contra Lula, que tinha como base unicamente o preconceito e o rancor contra alguém que já foi do populacho se tornar presidente.

Nestes tempos de esvaziamento da política (fruto do fim das ideologias, aliado às políticas neoliberais da década de 90) e guinada conservadora – quando não reacionária –, o “fazer a lição de casa”, como dizem Mirian Leitão e tantos outros “intelectuais” da mesma (diminuta) envergadura, tem sido o suficiente para garantir uma alta aprovação. A política transformada em disputa de escândalos e dossiês não tem se mostrado forte suficiente para mobilizar a opinião pública, ao menos nas pesquisas de opinião. Porque na internet e na Grande Imprensa, temos governos prestes a cair de podre.


São Paulo, 23 de abril de 2012.

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