(livre interpretação da coreografia "Estudos em Chrom.Aqui")
Encontros, desencontros e reencontros com o Outro. Essa foi minha
livre interpretação da coreografia "Estudos em Chrom.Aqui", de Alex Soares, do
grupo Mov'ola, na segunda vez que assisti à apresentação.
Talvez isso ajude a diminuir a coreografia: na primeira vez que a vi,
consegui me deixar levar pelo desfrutar da dança, sem buscar se não
haveria uma mensagem – até pela descrição do programa,
"Estudos em Chrom.Aqui" parece não ter uma mensagem positiva a dizer, no sentido
de ter um discurso que afirma algo: estaria muito mais para um
discurso negativo de embaralhar o quotidiano, deixando ao espectador
a possibilidade de uma outra percepção do mundo, ao fim da
apresentação. Foi essa a sensação que saí da primeira vez: certo
estupor e um repensar muito das minhas opiniões sobre o que vejo e
vislumbro no dia-a-dia.
Talvez foi já com esse repensar efervescendo que vi "Estudos em Chrom.Aqui" esta
segunda vez. E quem sabe por isso eu tenha me atido a detalhes da
coreografia, e me deixado interpretá-la ao sabor do que me soava,
conforme as emoções das minhas últimas vivências.
A coreografia começa com as bailarinas Aline Campos e Natacha
Takahashi dançando iguais, porém a primeira à sombra, a segunda à
luz. Sons de máquina e essa coreografia equivalente me fez pensar se
os caminhos que trilhamos, claramente ou sem saber, não estariam, no
fim, sujeitos à mesma reificação, ao mesmo carregar caixas sem
sentido – como Sísifo.
Entra, então, o terceiro bailarino da coreografia, Woody Santana. Os
três em cena dançam, até que uma das bailarinas, Natacha, se
oculta atrás de um punhado de caixas empilhadas no fundo do palco.
Restam Woody e Aline, que carregam caixas – reais e imaginárias –
da pilha para alguns lugares do palco – Sísifo? Toc? –,
até começarem um duo de tensão e delicada agressividade. Em meio a
essa harmonia que não é sincrônica, um lento escapar de Aline,
como a caminhar pelo espaço. Woody ainda a segura, pelo pé, mas no
fim o que Aline arrasta até um canto do palco – para depois se
retirar – é o corpo inerte de Woody – como se carregasse um peso
morto.
Reaparece Natacha, e o duo agora é de quedas, de sustentar-se com o
Outro, sempre com grande delicadeza, leveza, apesar de haver certa
tensão: uma nova harmonia sem sincronia.
Volta Aline. Em um caminhar hesitante, Woody se apóia em ambas, sem
chão, mas também sem que uma delas – ou as duas – o segure
firme. O próximo passo é um empurrar de Woody – que vai junto –
para a beira do abismo. Há, então, uma disputa por Woody, por esse
Outro que as empurra mas as segura, e Natacha sobra sozinha no palco,
para o solo final. Traz ainda o braço esticado, como a esperar a mão
de alguém que a acompanhe. Vai um tempo até desistir desse apoio
que não vem, e ela recolha o braço. No final, a cada golpe, ela
sente no peito o apagar das luzes e das cores, até que, sem ninguém
que a segure, o corpo pendente pra trás, o golpe final e a escuridão
– a queda solitária, finalmente.
São Paulo, 22 de abril de 2012.
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