Pela
primeira vez fui pra Ribeirão Preto depois de ter me mudado pra São
Paulo – tinha o casamento de um amigo da época do cursinho,
Leonardo. A caminho de Ribeirão, terminei de ler Em busca do
tempo perdido, cujo primeiro
volume, No caminho de Swann, havia
começado a ler nos idos 2003. O livro termina com uma série de
reflexões sobre o tempo e sua passagem, e eu acabei embarcando
nelas, pensando em todos os que passei – todas as pessoas e todos
os eus –, ainda mais que me dirigia para a cidade em que comecei
minha vida “independente”, em que deixava – finalmente! – de
ser filho dos meus pais para ser eu próprio, Dalmoro – até na
escola eu era tratado como filho dos meus pais, e não eles como pais
do Daniel.
O que me chamou a atenção é que, se das vezes que eu chegava vindo
de Campinas, sempre me batia aquela nostalgia, um sentimento confuso
de “já foi o meu tempo aqui, mas ele bem poderia voltar”, ou
melhor, “não adianta voltar pra cá, simplesmente, pois não estou
mais em 2001, mas bem poderia haver novamente a oportunidade de ter
um novo tempo em Ribeirão”; desta feita lembrar de tal sentimento
soou tão distante que quase não parecia ser comigo, não parecia
que eu sentira isso em novembro ou dezembro – não lembro bem
quando fui pela última vez para lá – e, confesso, tive até uma
certa raiva de pensar que por tanto tempo essa foi minha
auto-recepção na então “Califórnia brasileira”, agora
“capital nacional do agronegócio”.
Quarta-feira, quando fora à minha consulta mensal com Aílton,
sensação parecida já havia me assaltado, por outros motivos.
Conhecera Camila não fazia uma semana e parecia sem sentido falar de
como havia passado o mês até o dia em que a conhecera. Pior: eu
tinha dificuldade em lembrar de como me sentira na semana anterior, e
reportava como se falasse de alguém distante.
Em Ribeirão fiquei na casa do Paulo, com quem o encontro é sempre
um sentir-se em casa, como já comentei alhures [j.mp/cG090311].
Estamos em 2012, não mais 2001. Paulo já tem cabelos brancos, eu,
menos cabelo, a av. Jerônimo Gonçalves não tem mais suas belas e
imponentes palmeiras imperiais, o cruzamento dela com a Francisco
Junqueira não tem mais uma árvore enorme – está agora limpa,
luminosa para a passagem dos carros –, a praça Camões segue
aconchegante como há uma década, mas eu agora a freqüento
acompanhado do Paulo e de sua cachorrinha, a Faísca (por sinal, fica
a dica para encalhados de Ribeirão: passear com cachorro na praça).
Fiquei contente com meu descompasso com Ribeirão: parece que depois
de mais de uma década, eu me reencontrei em alguma cidade.
São Paulo, 03 de abril de 2012.
Sem comentários:
Enviar um comentário