A última pesquisa de opinião do Datafolha, que dá à presidenta
Dilma Rousseff 64% de aprovação, muito acima dos seus antecessores
no mesmo tempo de governo, serve para reforçar uma vez mais a idéia
de que a polarização irracional entre PT e PSDB que imprensa,
internet e redes sociais alardeiam está superdimensionada. Se somar
os que consideram o atual governo regular, Dilma alcança 93% de
opiniões favoráveis – o que não implica, nas simulações de
segundo turno (!) contra candidatos tucanos, que a atual presidenta
consiga reverter automaticamente todo seu apoio em votos.
De qualquer forma, alguém que aprova Dilma votar no PSDB é sinal
que não vê diferença substancial entre os partidos. E, salvo no
PSDB paulista, não está tão equivocado, não. O grande carro chefe
de Lula, o Bolsa Família, atendia a proposta que corria entre muitos
economistas neoliberais, de adoção de políticas compensatórias
para a devastação do livre-mercado – nada que PSDB não adotaria,
ou que não tenha adotado, ainda que mais timidamente. Quanto à
sanha privatista tucana, não é demais lembrar que dos primeiros
atos relevantes do segundo governo Lula foi a privatização das
estradas, como de Dilma, a dos aeroportos. A guinada
neo-nacional-desenvolvimentista, aprofundada com a crise de 2008,
talvez seja uma das diferenças mais substanciais entre os partidos –
mas essa opção de política de governo, para além da esfera de
economistas, cientistas políticos e meia dúzia mais preocupados em
macro-economia, pouco influencia a visão de grande parte da
população sobre um partido, e aqui incluo a parcela que se crê
politizada.
Outra diferença mais marcante está entre PT e PSDB paulista, talvez
o grande motor da pseudo-polarização que afeta a sociedade, a se
crer no que se lê e se vê. E isso por conta, principalmente, de
dois caciques do partido: Serra, que desde 2010 abraçou abertamente
as propostas mais reacionárias no quesito de costumes; e Alckmin,
que tem como política de governo uso sistemático de repressão
policial contra populações marginalizadas não-criminosas. Ou seja,
a diferença aqui estaria no respeito ou não aos direitos humanos
[bitly.com/cG24112]. O terceiro cacique do partido no Estado, FHC,
até tentou problematizar em busca de norte menos reacionário –
ainda que conservador – ao partido; não obteve respaldo, ao menos
em São Paulo. A imprensa, claro, tem seu papel fundamental nesse
superdimensionamento, uma vez que, como mostrou Maria Ines Nassif em
texto para revista Interesse Nacional [j.mp/J5zd9k], acabou se
tornando a base da oposição – o PSDB até anda tentando
adentrar nos sindicatos, mas ainda é muito frágil socialmente.
A aprovação de Dilma ser maior do que a de Lula mostra, por outro
lado, que a popularidade do ex-presidente vai além da sua figura,
foi transferida ao PT no governo federal. Dilma, ao manter a linha
mestra de políticas econômicas e sociais do antecessor conseguiu
preservar a popularidade entre aqueles que o aprovavam. O extra
frente Lula se deve, muito provavelmente, a dois fatores. O primeiro,
ao estilo discreto da atual mandatária da República, que se trata,
no fundo, da aplicação do slogan de Alckmin em 2006, “O Brasil
precisa de um gerente”. O segundo é
que, como Dilma possui diploma universitário, quebrou-se a rejeição
nutrida por uma parte da população – que por ser letrada e ter um
diploma “superior” na parede crê ser instruída e saber ler –
contra Lula, que tinha como base unicamente o preconceito e o rancor
contra alguém que já foi do populacho se tornar presidente.
Nestes tempos de esvaziamento da política (fruto do fim das ideologias, aliado às políticas neoliberais da década de 90) e guinada conservadora – quando não
reacionária –, o “fazer a lição de casa”, como dizem Mirian
Leitão e tantos outros “intelectuais” da mesma (diminuta)
envergadura, tem sido o suficiente para garantir uma alta aprovação.
A política transformada em disputa de escândalos e dossiês não
tem se mostrado forte suficiente para mobilizar a opinião pública,
ao menos nas pesquisas de opinião. Porque na internet e na Grande
Imprensa, temos governos prestes a cair de podre.
São Paulo, 23 de abril de 2012.
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