quinta-feira, 25 de junho de 2015

Uma semana fora

Tendo passado uma semana fora, imaginava uma recepção mais festiva de meus gatos ao adentrar novamente em casa. Que nada! Faltou pouco para eu achar que eles sequer me reconheciam. Imaginava que ao menos Mafalda ficaria miando com a cara de quem sofreu todas as dores do mundo, como sói fazer quando volto para casa, no fim do dia, ou me tranco no quarto, de madrugada, e deixo "somente" a sala para os dois. Miou um pouco, assim como o Guile, quase como a dizer "ah, é você", e foram brincar. Tratei de ver pelo lado bom: sinal de que não passaram necessidades - como atestavam os potes de comida e de água ainda cheios -, e que Djalma, escalado para cuidar dos peludos, tratou-os bem - se eu fosse ciumento, talvez achasse que havia tratado bem até demais. Ao dar uma vistoriada no lar, ver se estava em devida ordem, notei que os dois se aproveitaram de minha ausência: não apenas subiram no armário que tento mantê-los longe, como se seviram do papel toalha que estava nele; as plantas fora do lugar que eu havia deixado denunciavam que também tinham caído vítimas da dupla, lascas de um candelabro de pedra-sabão mineiro se misturavam aos brinquedos que eu havia oferecido antes de partir, como luvas e potes de remédios e de balas; algumas pilhas de livros estavam desfeitas; no banheiro, um bom tanto do rolo de papel higiênico estava espalhado pelo chão, pela lavadora, pela caixa de areia; outro tanto ainda estava no rolo, mas devidamente desfiado. Ou seja, tocaram o terror no lar. Ao menos não se rebelaram contra a caixa de areia - fiz questão de olhar pelo lado positivo. Mais tarde me surpreenderia com o fato de os adesivos da parede estarem todos lá - todos os que eles haviam poupado antes de eu partir. Com o passar do dia, fomos nos enturmando novamente, e antes do anoitecer estávamos nas nossas já conhecidas disputas e dança das cadeiras - somos três irriquietos, quando dois parecem sossegar, o terceiro quer se levantar ou quer se ajuntar ou qualquer coisa que impeça que fiquemos mais que quinze minutos parados. À noite, a forma como se achegaram em minha cama, reclamando um canto junto à cabeceira, fingindo não reparar que eu os punha ou nos pés, ou fora da cama, mostrou que, por despeito pelo meu abandono ou esquecimento rápido, não respeitariam tão tranqüilamente os limites impostos. Para piorar: Guile, que sempre se deitava nos pés da cama, sem me incomodar, passou a imitar Mafalda, e querer dormir no meu peito - isso, claro, depois de longo vai e vem dos dois, sempre passando por cima de mim. Sem o hábito de dividir cama, não consegui dormir (se levo mais que dez minutos considero insônia). Com preguiça de pôr a caixa de areia na sala, dou o braço a torcer, pego um cobertor e o travesseiro, e vou dormir na sala. Em pouco tempo sinto estar me irmanando de Hipnos. É quando ouço um chamado não de Morfeu, mas de Mafalda, enquanto Guile, sem cerimônias, tenta achar um canto no travesseiro. Viro pro outro lado, ele reclama, eu também.

25 de junho de 2015


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