Viviany
Beleboni cutucou com vara curta os arautos do ódio - Viviany é a
transexual que apareceu crucificada na décima nona parada GLBTS de
São Paulo, no domingo, dia sete. A reação foi a esperada: “São
pessoas que não tem respeito a ninguém; são pessoas que são
preconceituosas, sim; são pessoas que são intolerantes, sim (...).
Estou indignado aqui com o que aconteceu na Parada Gay de São Paulo.
Estou indignado por terem pegado os símbolos da minha fé, que é a
fé cristã, e exposto publicamente num ato de completa falta de
respeito. Estou falando aqui de pessoas que acham que seu direito é
maior do que o meu direito”, disse, em vídeo na internet, o pastor
e deputado Marco Feliciano. Ele ainda pede a união dos arautos do
ódio travestidos de pastores cristãos, sugere o boicote às
empresas que patrocinam a Parada Gay - assim como um colega seu já
havia pregado o boicote às marcas que tentam se associar a atos de
amor e afeto entre pessoas -, e afirma que há um movimento de
"cristofobia", e que deve ser combatido.
Os
arautos do ódio não podem estar mais errados: o ato de Viviany foi
de extremo reconhecimento de Cristo. Ninguém se põe em uma situação
semelhante à de Cristo, humilhado na cruz, se não reconhece o poder
dessa imagem, se não assume a profundidade da mensagem, se não
compartilha dos princípios. Mesmo que não seja cristã - e tenho
séria desconfiança de que seja -, Viviany assumiu que o
cristianismo é importante, tem uma mensagem que não está sendo
ouvida - muito menos seguida. Não há ali deboche nem provocação
com os símbolos cristãos, Viviany encarna a si própria, e sua
crucificação representa (e acusa) a violência que ela e as outras
travestis e transexuais sofrem diariamente - muitas delas cristãs,
tal qual Marco Feliciano se diz. Se Feliciano acha realmente um
desrespeito o ato de Viviany, pode devolver na mesma moeda: se
fantasiar de transex para desfilar na próxima Marcha pra Jesus. Por
que ele não vai fazer isso? Porque seria reconhecer a importância
dessa questão, desse discurso - e o que ele quer é a sua supressão
total.
O
que realmente perturba os arautos do ódio é que o
grito-feito-imagem de Viviany desafia a palavra deles. Uma transexual
crucificada é a afirmação de que a palavra de Cristo não se
restringe ao que é dito por Malafaias, Felicianos, Hernandez (se é
que Cristo em algum canto disse o que eles pregam): é um grito de
intolerância e de despeito a toda palavra dogmática, a todos os que
se pretendem donos da verdade. Um grito de não me calo diante de
quem manda calar, de não baixo a cabeça diante de quem não me
respeita, de não reconheço nesse seu Cristo o Cristo que é amor e
morreu na cruz pela humanidade. Um grito de revolta contra as
injustiças, como o de Cristo, na sua época, contra os romanos.
Nada
mais ultrajante a um pastor que uma transexual - que ele recusaria
como sujeito com direito à existência, se pudesse - dizer que a
palavra dela tem tanto valor quanto a dele, que o direito dela é
igual ao direito dele. Sim,
Viviany-feita-à-imagem-e-semelhança-de-Cristo (como todos, conforme
o princípio cristão) contesta a pretensa superioridade - civil,
moral, intelectual, espiritual - que Feliciano e sua trupe se
adjudicam, e essa igualdade soa como um desrespeito aos seus
privilégios por serem brancos, cristãos, heterossexuais (sic).
Porém,
melhor que um ateu falar é dar a palavra a um cristão que não pode
ser posto em dúvida quanto à sua fé: “Na missão pastoral tenho
conversado com vários LGBTs que estão pelas ruas da cidade, alguns
doentes, feridos, abandonados. Muitos relatam histórias de
violência, abusos, assédio, torturas e crueldades. Alguns contam
como foram expulsos de igrejas e comunidades cristãs, rejeitados
pelas famílias em nome da moral. Testemunhei lágrimas, feridas,
sangue, fome. Impossível não reconhecer neles a presença do Senhor
Crucificado” - eis o comentário do padre Julio Lancellotti sobre a
polêmica da crucificação na Parada Gay.
O
Cristo de Julio Lancellotti e Viviany Beleboni me representa!
12
de junho de 2015.
Verônica Bolina, outra vítima da intolerância dos cristofóbicos? |
ps:
sobre a "cristofobia", concordo que existe e acho que deve,
sim, ser combatida: já é mais que a hora da Igreja Universal mandar
sua milícia paramilitar lutar contra o Estado Islâmico, que já
matou vários cristãos pelo simples fato de serem cristãos. Que
levem seus líderes juntos - afinal, um verdadeiro líder deve estar
à frente do seu exército.
ps2:
ainda sobre "cristofobia", achei outra colocação do padre
Julio Lancellotti: "A meu ver, sujeito a erro, Cristofobia é
medo de amar os irmãos e irmãs, amar os inimigos como pediu Jesus
Cristo, defender os pequenos, proscritos e evitados, amar os o que
ninguém quer. Jesus caminhou no meio dos pobres e pecadores, os
defendeu e nunca os condenou. Em Mt 25,31-46 Jesus identifica-se com
os que sofrem. Amá-LO é ser semelhante a ele, o resto é fobia!"
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