No alto da ladeira General Carneiro, um homem oferece suas chagas em troca de moedas. Em frente à base da polícia, Testemunhas de Jeová oferecem sua versão do fim do mundo. Sigo descendo, e o que se oferece são produtos populares de um lado e do outro, réplicas de roupas e tênis de marcas e uniformes de futebol com propaganda de bets. Na rua Doutor Bittencourt Rodrigues, uma fila começa a se formar. Seria para o sopão do meio-dia? Noto movimentação bastante incomum pouco depois da entrada de ônibus do Parque Dom Pedro. Diante dessa nova figura, o fundo se destaca. Reparo no viaduto Diário Popular: se tornou a casa para muitas pessoas - as barracas improvisadas com cobertores se enfileiram na área para pedestres. Talvez os expulsos da mal chamada cracolândia. No gramado da alça do viaduto, PM e GCM dão guarida ao rapa, que recolhe restos transformados em pertences. Um homem, ora com as mãos na cabeça, ora apontando para seu colchonete e cobertor, parece negociar com dois PMs que permitam continuar com seus bens. Pouco depois os recolhe e segue acelerado rumo à movimentação incomum, meia quadra adiante. São onze horas da manhã, o frio já se dispersou sob o sol. O rapa segue fazendo seu trabalho sob o olhar vigilantes da polícia da e da guarda. Muitas pessoas, diante do olhar indiferente da cidade, saem enroladas em seus cobertores cinzas, como que tentando ganhar a invisibilidade que a sociedade quer deles.
26 de junho de 2025
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