Sem dúvida houve fraude no plebiscito sobre a permanência de Hugo Chávez na presidência da Venezuela: fraude por parte dos oposicionistas que, clara a sua derrota, já antes do plebiscito ameaçavam romper as regras do jogo, para no final, desqualificar o plebiscito, acusando-o de fraudulento, indiferente ao reconhecimento dado por órgãos não muito favoráveis a Chávez.
Nada surpreendente nem chocante, no máximo revoltante (para aqueles que insistem em não aceitar as repetições do mundo como algo natural). A elite latino-americana parece ser igual em todos os países, diferindo somente em suas nuances regionais. Nada que não dê para pô-la toda no mesmo saco. Liberais só na economia, e só quando o liberalismo faz com que seus lucros sejam maximizados, democráticas somente quando ganham as eleições.
Ao ler artigos, entrevistas e reportagens, se tornava claro que esse plebiscito não teria seu resultado aceito pela oposição: os discursos desta eram altamente ideológicos, pouco pautados em fatos concretos e argumentos racionais; era um festival de teoria da conspiração, acusação de volta ao fascismo, ao stalinismo, de cerceamento das liberdades individuais.
A posição de Chávez, é preciso admitir, era tranqüilíssima: por se embasar no apoio das camadas mais pobres (pelo jeito vem daí a acusação de populista: para a imprensa e a elite se tem o apoio da população pobre é populista, se da elite, é estadista), ou seja, na maioria da população, a vitória parecia clara, e foi incontestável (cerca de 15% foi a diferença de votos entre os contrários e os favoráveis ao término seu mandato); mas mesmo que viesse a perder o plebiscito Chávez era o principal favorito às eleições para substituí-lo (apesar que perderia muito da sua força).
Ao meu ver, a acusação mais injusta contra Chávez é a de anti-democrático, advinda principalmente do seu “passado golpista”. Primeiro, se passado é parâmetro para julgar algum governo estamos passando por uma transição comunista no Brasil (a segunda desde 94!); segundo, se Chávez é anti-democrático, não se pode chamar a atual constituição venezuelana de “chavista”, como faz a oposição, visto que em nenhum outro país do mundo há esse dispositivo para a realização de um referendo no meio do mandato presidencial sobre a continuidade do governo sem necessidade de qualquer acusação; e terceiro, uma coisa é fazer oposição a partir de pontos de vistas distintos de um mesmo fato, outra é fazer oposição a partir de mentiras descaradas sobre os fatos. É isso que a mídia venezuelana tem feito e, ao meu ver (e não estou sozinho), o fato da mídia se pautar na mentira seria justificativa suficiente para medidas muito duras contra tais meios de comunicação de massa, o que Chávez não tem nem passado perto de fazer, muito provavelmente porque seria acusado ainda mais pesadamente de autoritário e anti-democrático. Curiosamente é nisso que julgo uma das principais falhas democráticas do presidente venezuelano: a mentira é inimiga da democracia.
Campinas, 18 de agosto de 2004
Nada surpreendente nem chocante, no máximo revoltante (para aqueles que insistem em não aceitar as repetições do mundo como algo natural). A elite latino-americana parece ser igual em todos os países, diferindo somente em suas nuances regionais. Nada que não dê para pô-la toda no mesmo saco. Liberais só na economia, e só quando o liberalismo faz com que seus lucros sejam maximizados, democráticas somente quando ganham as eleições.
Ao ler artigos, entrevistas e reportagens, se tornava claro que esse plebiscito não teria seu resultado aceito pela oposição: os discursos desta eram altamente ideológicos, pouco pautados em fatos concretos e argumentos racionais; era um festival de teoria da conspiração, acusação de volta ao fascismo, ao stalinismo, de cerceamento das liberdades individuais.
A posição de Chávez, é preciso admitir, era tranqüilíssima: por se embasar no apoio das camadas mais pobres (pelo jeito vem daí a acusação de populista: para a imprensa e a elite se tem o apoio da população pobre é populista, se da elite, é estadista), ou seja, na maioria da população, a vitória parecia clara, e foi incontestável (cerca de 15% foi a diferença de votos entre os contrários e os favoráveis ao término seu mandato); mas mesmo que viesse a perder o plebiscito Chávez era o principal favorito às eleições para substituí-lo (apesar que perderia muito da sua força).
Ao meu ver, a acusação mais injusta contra Chávez é a de anti-democrático, advinda principalmente do seu “passado golpista”. Primeiro, se passado é parâmetro para julgar algum governo estamos passando por uma transição comunista no Brasil (a segunda desde 94!); segundo, se Chávez é anti-democrático, não se pode chamar a atual constituição venezuelana de “chavista”, como faz a oposição, visto que em nenhum outro país do mundo há esse dispositivo para a realização de um referendo no meio do mandato presidencial sobre a continuidade do governo sem necessidade de qualquer acusação; e terceiro, uma coisa é fazer oposição a partir de pontos de vistas distintos de um mesmo fato, outra é fazer oposição a partir de mentiras descaradas sobre os fatos. É isso que a mídia venezuelana tem feito e, ao meu ver (e não estou sozinho), o fato da mídia se pautar na mentira seria justificativa suficiente para medidas muito duras contra tais meios de comunicação de massa, o que Chávez não tem nem passado perto de fazer, muito provavelmente porque seria acusado ainda mais pesadamente de autoritário e anti-democrático. Curiosamente é nisso que julgo uma das principais falhas democráticas do presidente venezuelano: a mentira é inimiga da democracia.
Campinas, 18 de agosto de 2004