quarta-feira, 23 de outubro de 2024

Cena urbana

O sinal fecha. Olho à minha direita. Ao fundo, o brutalismo da estação Armênia interrompe qualquer horizonte possível. Já a praça ao lado parece um acampamento de guerra: é um acampamento dos desvalidos, com precárias barracas improvisadas. Pessoas que me aparentam sem horizontes nesta sociedade. Garoa, mas isso não espanta dos bancos os homens que ali passam o tempo (não vi mulheres). Sobre o que será que conversam? Matam o tempo, à espera que este os matem (a morte violenta seria a outra alternativa)? A praça parece uma área proibida a quem não é um miserável, não por imposição deles, mas por medo nosso. No ponto de ônibus da praça, sete pessoas se protegem da garoa. Um homem - um dos "moradores" desse lugar de passagem - se aproxima e tenta cumprimentar algumas dessas pessoas, sem muito sucesso. Passa, então, a dançar estilo o Michael Jackson e tenta novamente cumprimentar as pessoas. Três o fazem, os demais o ignoram ou se afastam. Reparo que o homem veste uma luva preta na mão direita, dessas que se usa em restaurante. Ele pula na frente do carro e começa a dançar para nós. Dura uns trinta segundos sua apresentação. Imagino que vá pedir uma moeda depois disso, mas ele simplesmente sai e vai ao encontro dos seus companheiros de abandono. O sinal abre e a cidade volta a passar indiferente pela janela do carro.



23 de outubro de 2024

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