O presidente Lula chamou governadores e ministros e num ato simbólico de força e intimidação do congresso nacional, levou suas propostas de reforma da previdência e tributária. O que dá o tom às reformas é seu caráter imediatista, preocupado antes de tudo em fazer caixa, como salientou a Folha de S. Paulo. Um ponto muito controverso dentro do próprio PT é a taxação dos inativos. Alguns deputados e senadores do partido estão se rebelando contra a proposta; o presidente do partido, José Genoíno (o neo-defensor da “Rota na Rua”), e o presidente da república já avisaram que quem votar contra será expulso do partido: dizem que a bancada deve ser coerente com o partido. Interessante é que em 2001 um pré-candidato a presidência da república, um tal de Lula da Silva, assinou um documento que condenava a taxação dos inativos como um ato injusto e imoral.
O que mudou de 2001 para 2003 no PT? Absolutamente tudo: de oposição o partido virou situação. Essa polêmica da taxação dos inativos – e muitas outras que já ocorreram neste início de ano – me faz lembrar uma aula de história do cursinho. Era sobre o período imperial brasileiro, e o professor Fernando Gelfuso, ao falar do bipartidarismo (liberais e conservadores) e a sua alternância no poder, fez o seguinte comentário: nada mais conservador que um liberal no poder e nada mais liberal que um conservador na oposição. O Brasil de 2003 apenas não é mais bipartidário, mas pelo que se percebe neste início de governo, tudo o que o PT criticava até 2002 ele está fazendo em 2003, e tudo o que PFL, PSDB falavam ser impossível fazer quando eram governo, eles cobram do PT.
Como se vê, alguma coerência no sistema político brasileiro há, infelizmente.
Campinas, 03 de maio de 2003