domingo, 2 de março de 2003

O método ou o erro

A caminho da rodoviária, eu escutava a conversa entre duas amigas. Uma era terceiro-anista de medicina, enquanto a outra, caloura da biologia. Dizia a caloura de um experimento que tinha que fazer: calcular quantas gotas havia em 1ml. Enquanto seus colegas se utilizavam de tudo quanto é instrumento para calcular, fazendo contas e contas, tal como o método exige, ela utilizou da pipeta para marcar o um mililitro pedido e com um conta-gotas contou quantas gotas possuía. Sua amiga veterana reprovou: era preciso utilizar o método, e não o jeito mais fácil.

Bem que eu tive vontade de me intrometer na conversa (o que eu não seria o primeiro nem o segundo a fazer), mas como é da minha índole, fiquei quieto. Mas nada como ver a velha e boa visão limitada em ação. A idéia da caloura, apesar de simples, é engenhosa, precisou de raciocínio, coisa que seus colegas não tiveram. E se é possível chegar aos raciocínios apenas com as próprias pernas, para que apelar para o método? Ainda mais quando se está aprendendo. Pois o raciocínio é preciso desenvolver, enquanto para seguir o método basta abrir um livro e seguir as instruções.

Uma pena que a universidade (toda a sociedade, na verdade) ainda valorize tanto o método, em detrimento do raciocínio. E que os alunos por ela formados não tenham coragem suficiente para inovar e contesta-la. Que os poucos resistentes suportem bem a pressão para utilizar o método e continuem fazendo uso dos métodos “simples” que com o raciocínio conseguiram chegar.


Pato Branco, 02 de março de 2003

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2003

Já é um começo....

Finalmente os ministros do PT estão conseguindo unificar o discurso. Anteontem foi o ministro das comunicações Miro "Marinho" Teixeira pregar o fim da indexação para o reajuste das contas telefônicas. Nada mais justo. Isso foi para preparar o terreno para o médico metido a economista Antônio "Malan" Palocci falar ontem aos sindicalistas: nada de indexação dos salários. Motivo: isso pode fazer voltar a inflação. As opções são reivindicar a indexação dos salários à inflação ou ajudar a combatê-la. Talvez o companheiro Palocci não seja habituado a freqüentar esse lugares tradicionais das pessoas comuns, que têm necessidades ordinárias, conhecidos como super-mercados. O único mercado que ele parece conhecer é o financeiro. Na verdade o que ocorre é o oposto: é o mercado que o conhece bem; e nada melhor para as raposas que botar uma galinha tomando conta do galinheiro. Isso vem da segunda guerra, quando judeus eram postos para cuidar dos campos de concentração – diz-se que eram os mais espartanos (conseqüência do medo, talvez?). Voltando ao mercado comum e ordinário que o companheiro Palocci parece desconhecer, os freqüentadores desses distintos estabelecimentos sabem bem que a inflação voltou, que o salário diminui, e muito. Reivindicar que o salário tenha o mesmo (mirrado) poder de compra de um ano atrás não me parece ser a heresia pintada pelo "Neo-Malan", como a opção pelo inferno e não o céu.

Bem sei que o abacaxi recebido dos anos FHC é grande e difícil de descascar, que mudanças bruscas não são a melhor opção, ainda mais quando se dependente dos outros, e já é uma grande, uma gigantesca mudança, que as regras que valem para os pequenos passem a ser impostas também aos grandes, como no caso da telefonia. Mas bem que poderia ter uma sinalizaçãozinha maior de mudanças.


Campinas, 27 de fevereiro de 2003