domingo, 2 de março de 2003

O método ou o erro

A caminho da rodoviária, eu escutava a conversa entre duas amigas. Uma era terceiro-anista de medicina, enquanto a outra, caloura da biologia. Dizia a caloura de um experimento que tinha que fazer: calcular quantas gotas havia em 1ml. Enquanto seus colegas se utilizavam de tudo quanto é instrumento para calcular, fazendo contas e contas, tal como o método exige, ela utilizou da pipeta para marcar o um mililitro pedido e com um conta-gotas contou quantas gotas possuía. Sua amiga veterana reprovou: era preciso utilizar o método, e não o jeito mais fácil.

Bem que eu tive vontade de me intrometer na conversa (o que eu não seria o primeiro nem o segundo a fazer), mas como é da minha índole, fiquei quieto. Mas nada como ver a velha e boa visão limitada em ação. A idéia da caloura, apesar de simples, é engenhosa, precisou de raciocínio, coisa que seus colegas não tiveram. E se é possível chegar aos raciocínios apenas com as próprias pernas, para que apelar para o método? Ainda mais quando se está aprendendo. Pois o raciocínio é preciso desenvolver, enquanto para seguir o método basta abrir um livro e seguir as instruções.

Uma pena que a universidade (toda a sociedade, na verdade) ainda valorize tanto o método, em detrimento do raciocínio. E que os alunos por ela formados não tenham coragem suficiente para inovar e contesta-la. Que os poucos resistentes suportem bem a pressão para utilizar o método e continuem fazendo uso dos métodos “simples” que com o raciocínio conseguiram chegar.


Pato Branco, 02 de março de 2003

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