segunda-feira, 9 de agosto de 2010

La que le gusta el negro!

Ainda há pessoas que me estranham quando digo que não gosto de jogos de baralho. Principalmente aquelas que sabiam da existência, por quase dois anos, de jogatinas (regadas a muito chimarrão e bolos e tortas e troca de receitas) semanais na minha casa. Os jogos eram Master, Imagem e ação, presidente e mau-mau (praticamente os únicos jogos de cartas dos encontros), nada que justificasse o nome de jogatina.

Acho truco um jogo chato, pessoas gritando me cansam, e a única graça que vejo é tentar quebrar esse clima testosterônico que ele acaba por gerar. Pôquer, quase parece legal. Talvez se algum dia eu tivesse jogado sua versão strip na companhia de mulheres reconhecidas por seus dotes físicos, a história fosse diferente. Como nunca joguei…. Cacheta, acho que é trauma de infância, que sempre perdia pro meu pai, e quando este não jogava, para meu irmão. Os demais – canastra, buraco, sei lá quais outros – sempre achei que podia usar minha memória para guardar coisas mais interessantes, como, sei lá, a ordem das músicas dos discos do Patu Fu.

Porém, mais do que estranhamento, chega a causar certa indignação quando digo que prefiro dominó a cartas. Não que eu ache dominó um jogo legal, emocionante, ele serve mais para ilustrar meu gosto por baralho. Isso até este domingo.

Recém-chegado de viagem, a geladeira vazia, fui ao mercado. No caminho encontrei a Aline, amiga de longa data, que me chamou para almoçar na casa do namorado um almoço cubano. Aceitei de pronto. E lá estava eu comendo comida cubana, ouvindo música cubana, em companhia de dois cubanos que contavam causos não só da ilha como da Rússia, Itália, Brasil, e em companhia de uma série de outros latino-americanos (brasileiros, inclusive), bebendo cerveja galega e comendo chocolate estadunidense. Passado o almoço, os dois cubanos falaram em fazer algo típico da ilha nas tardes de domingo: jogar dominó. Reação geral – minha inclusive – foi um “putz, dominó?”. Mas não adiantou reclamar, logo um deles vinha com o jogo.

Ainda que não tenha chegado a lamentar pelos cubanos não terem Faustão e Gugu, pensei que lhes faltava algo de interessante para fazer – discutir política ou futebol, que fosse –, para terem que ocupar seus domingos com dominó. Mas passada a reticência inicial, lamentei é que no Brasil não se tenha tal hábito. Claro, não é o dominó que eu conhecia. Primeiro que tinha mais pedras – elas iam de zero a nove. Segundo que não havia pescar as pedras que sobravam. Por fim, o que restava era um jogo de análise das pedras e das jogadas dos adversários, sem direito a blefe, com leves pitadas de truco – batidas na mesa, falar o nome das pedras –, mas sem tanto escândalo.

Voltei do almoço decidido a comprar um dominó daqueles para mim, e já avisei meus pais que nas próximas férias se preparassem para passar tardes cubanas. Claro, tive que explicar que não, dominó não é um jogo chato. Não se empolgaram muito, nem acreditaram muito no que eu disse. Certeza que quando eu aparecer com o jogo vão soltar um “putz, dominó?”.

Campinas, 09 de agosto de 2010.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Tecnologia expansiva

Na rodoviária, fiquei sabendo que a moça atrás de mim tinha tentado ligar para todo mundo, mas como ninguém atendera, decidira ir para São Paulo, mesmo, e que era para o pai ligar pra Bruna, avisar para ela deixar dinheiro em cima da mesa, para pagar o táxi.

Dia desses, no ônibus para a Unicamp, vi que o cara ao meu lado era amigo de um garanhão arrasa corações. No mesmo trajeto, em outro dia, soube que o namorado – provavelmente já ex – da moça uns três bancos atrás era um baita de um cafajeste, que tinha traído ela com não sei quem, com não sei quantas. Como não fiquei com inveja do garanhão, também não me condoí pela moça.

Já teve um dia, era final de semestre, que acompanhei os últimos detalhes do cruzeiro que o rapaz ia fazer com a avó (que se tratava de um cruzeiro eu só soube quando ele contou aos amigos que bandejavam com ele).

O quadrinista Alan Sieber certa feita reclamou que tinha o azar de toda sessão de cinema em que ia, a sala estar cheia de bombeiros e enfermeiras, que não podiam desligar seus aparelhos por uma hora e meia.

Pior foi a vez que um médico atendeu ao celular durante a consulta. Três vezes! Eu bem já andava desgostando dele – que era meu médico há uns quatro anos –, e isso no máximo precipitou as coisas. Bom para mim, que passei a freqüentar meu atual homeopata, excelente. De qualquer forma, com sorte ou não, julguei e sigo julgando uma falta de educação dele. E acredito que a recíproca dos médicos para com os pacientes seja verdadeira.

Como também falta de educação acho em ficar sabendo dos detalhes das vidas alheias, sem que eu tenha o menor interesse. Sei que celular é estranho, a gente acaba gritando, mesmo que isso não seja necessário. Porém, faz um tempinho que o aparelho está na mão de (quase) todo mundo, já era hora para se ter uma certa etiqueta no uso dos trambolhinhos, regrinhas elementares para evitar o seu uso anti-social, sem precisar esperar a Glória Kalil escrever, quem sabe, um livro sobre – um “Chiq Celular”.

Enquanto isso, sigo com meu sonho de ter um aparelho que você aperta um botão – e tchum! – interrompe-se o sinal de celular pelo entorno por míseros vinte segundos, o suficiente para a ligação cair.


Pato Branco, 26 de julho de 2010.