terça-feira, 7 de maio de 2024

Enfermaria ortopédica [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Volta e meia Goreti se queixa que já é hora de uma nova pandemia. Mandamos ele calar a boca, Meireles até se benze e pede proteção aos seus axés, mas ele não arreda pé:

Poder trabalhar de casa, diminuir o ritmo, curtir um pouco a vida, que não só nas férias.

E as férias, vamos ficar sem curtir, em compensação! - retrucamos.

Não tivemos nova pandemia (não por enquanto), mas epidemia estamos tendo - a de dengue (por sorte, o presidente atual não diz que é só uma gripezinha, um resfriadinho, nem manda a galera acumular água parada em casa). Aqui no nosso setor, ao menos, um outro espectro ronda - infelizmente não é o do comunismo, pelo contrário, está mais próximo do anticomunismo, mesmo -, o espectro da epidemia dos problemas ortopédicos.

Em meu último texto comentei do saci em quarenta e cinco graus no qual Macedo se transformou por um final de semana, graças a um quiropraxista baratinho a que foi. O que esqueci de contar foi que ele travou a lombar brincando com o filho. Antes dele, eu já havia comentado do meu tilt test. Porém, antes de todos, quem inaugurou essa fase foi a colega Bella (que não é de Isabela), que torceu o pé indo para o refeitório (ela alega ser acidente de trabalho, eu não sei nada sobre isso para opinar). Como ela conseguiu tal proeza, ninguém até agora conseguiu explicar - e ela fica brava quando se faz o questionamento nesse tom, só aceita desejos de melhoras e não julgamentos de descoordenada -, mas parece que foi aí que o anjo da lâmpada fio solto, o qual está a fazer vários terem algum quiproquó ortopédico (ok, o meu não foi bem ortopédico, mas poderia ter sido, por isso, entra, e também para efeitos estatísticos e eu poder escrever minha crônica).

Semana passada, Meireles também torceu o pé, mas foi enquanto fazia seu jogging - ao menos um pouco mais nobre torcer o pé enquanto se está correndo, ou quase isso, do que quando se está carregando uma marmita. Não perca a conta, desocupada leitora, desocupado leitor, já foram quatro. Esta semana foi a vez de Carnegie chegar desconjuntado: foi jogar futebol, diz que marcou vários gols, foi o melhor da partida, mas ao chegar em casa, sentiu as costas, e no dia seguinte, travou. Melhor para ele, admito, que está com trinta sessões de fisioterapia, e basicamente vai passar um mês e meio trabalhando seis horas por dia - já discordamos calorosamente sobre isso, e eu insisto que ele saiu no lucro, ao que ele reclama da dor (homem choraminga por qualquer coisa e com isso perde o lado positivo das coisas).

Conversávamos sobre essa maré de azar ortopédico, se alguém teria desconjurado qualquer santo (tipo o Barrichello, que deve ter atropelado um despacho com seu velotrol tunado quando era criança, e desde que entrou na Fórmula 1 nunca mais um brasileiro se saiu bem no esporte; pior: Senna morreu e ele meteu uma parafusada no Massa quando ele estava para ser campeão), se seria influência do El Ninõ, se seria culpa de libra em tensão com Marte, enfim, estávamos buscando o que haveria em comum em todos esses casos, para além da idade, que recusamos em assumir: eu sou a pessoa mais atlética do grupo; Bella (que não é de Isabela) se contundiu caminhando, Meireles, fazendo jogging depois de uma manifestação, Macedo brincando com o filho, Carnegie jogando futebol. A discussão no café ia acalorada quando Macedo deu não bem uma explicação, mas seu veridicto, científico, ao qual não pudemos nos opôr:

Vocês não percebem?! Sedentarismo previne vários problemas de saúde!


07 de maio de 2024


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

sábado, 27 de abril de 2024

Quiropraxia [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]


Depois de passar a semana maldizendo uma dor na costas - mais especificamente na lombar -, Macedo finalmente aceitou a sugestão de Meireles e foi atrás de um quiropraxista (é assim que fala? Ou é quiroprático? Quiróprago? Enfim, um profissional de quiropraxia), deixando de lado a sugestão de Goreti de terapias holísticas - reiki com sanguessugas, para ser preciso; quero dizer, reiki ao mesmo tempo que as sanguessugas, não são as sanguessugas que fazem o reiki, como de início ele deu a entender. 

Achei ambas ideias ótimas e super apoiei a quiropraxia quando Macedo se decidiu por ela, por mais que nunca que pretenda me aventurar por tal senda (nem com reiki, nem com sanguessugas, diga-se de passagem), visto que tenho certa agonia a estalos corporais - o que ainda causa sérias desavenças entre mim e meu Brotinho, que alega se excitar com esses “momentos de crocância”, como ela diz. Na verdade, o apoio se deu mais porque não aguentava mais ele se queixando - que se resolva ou sofra em silêncio!, pensei e não disse, mas agora ele vai saber, ao ler este texto.

Sigamos. A indicação de Meireles era cara e Macedo já pensava em desistir quando numa busca rápida pela internet achei um que havia perto do trabalho e por um bom preço. Decidiu ir logo após o almoço.

Estávamos compenetrados trabalhando (leia-se estávamos fingindo que trabalhávamos enquanto fazíamos algo importante, como conversar por whats ou ler notícias, esperando dar a hora do sextou libertador, ou meio libertador, ilusão de libertação, auto-engano de alguma alegria, aquela sensação de breve respiro, que seja, das duas noites até o próximo dia de labuta). Retomo que me perdi no parêntesis e acho que a desocupada leitora, o desocupado leitor também. Estávamos compenetrados trabalhando quando Macedo retoma com cara de poucos amigos, andando torto. Mas não o andando torto de arqueado, e sim de pés meio de lado, estava estranho, muito estranho, um torto de carro bem mal regulado, de cachorro cujas patas traseiras são mais rápidas e por isso precisa andar com elas ao lado do corpo.

E aí, passou a dor? - perguntou Meireles, fingindo ignorar o estranho jeito que nosso colega se movimentava e mesmo sentava.

Passar, passou, mas agora estou com as costas travadas assim, tendo que andar feito um Curupira de 90 graus.

Meireles não soube explicar o que houve - nós menos ainda -, apenas disse que isso nunca tinha acontecido com o quiropraxista, quiroprático, quiróprago dela. Mas antes de dar a deixa para que Macedo começasse a se queixar, viu a coisa pelo lado bom - ao menos havia parado de doer -, e discordou dele que estava um Curupira de 90 graus, pois ainda estava agudo, iniciando assim a importante discussão de a quantos graus estava nosso colega. Os observadores externos concluimos que devia ser algo em torno de 45 graus - quem sabe até menos. Decidido isso, voltamos todos a ficar compenetrados em nossos trabalhos, comemorando silenciosamente que é sexta-feira e quem vai ter que aguentar Macedo maldizendo o quiroqualquer coisa no final de semana é a Senhora Maceda, não nós.


26 de abril de 2024

PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.