segunda-feira, 15 de julho de 2024

São Luis: primeiras e segundas impressões

Chegamos a São Luís no início da noite de sábado, cruzamos a parte nova da cidade e fomos até o centro histórico, perto da Fonte do Ribeirão, onde fica nosso hostel (que eu ainda chamo por albergue). Não foi possível ver muito nesse trajeto, mas a sensação foi de um pedaço de cidade bonita, com seu casario antigo, mas mal conservado - reforçado pelo comentário de Lia, que me mostrou uma foto da Fonte com um azul forte, ela que hoje está desbotada quase branca -, e sem viv'alma nas ruas. Na hora me lembrei de Cartagena de las Índias, na Colômbia, seu centro antigo super movimentado - de dia e à noite [bit.ly/cG230301]. Na ocasião lamentei que a cidade havia sido usurpada de seus moradores para ser entregue aos turistas. Aqui, nesse instante, me questionei se, diante das condições impostas pelo capitalismo, não seria essa mesma a alternativa para alguma espécie de conservação das cidades e algum tipo de vida - mesmo que artificial - em centros históricos (penso também na região da Sé, em São Paulo).

Na manhã seguinte saímos cedo para conhecer o centro, passar na feirinha de domingo e no Reviver; depois encontraríamos Dedé, tio de Lia, iríamos ao mirante da cidade, no prédio da secretaria da fazenda; ao Palácio Dos Leões, sede do governo do Estado; e ao mercado das Tulhas. De início, reforçou a impressão da beleza da cidade, da necessidade de conservação, e de pouca gente a frequentar o centro. Eu seguia a me questionar: seria o turismo a solução (sem negar sua importância na economia, mas vale lembrar que o turista é antes de tudo um predador)?

Encontramos Dedé - que é geógrafo - na hora da visita ao mirante da cidade. Ele, além de mostrar diversos pontos da cidade e explicar sua formação, desde os séculos passados, até as tentativas de intervenções urbanas recentes, como o Palácio do Comércio, prédio de art decó, próximo à catedral da Sé, a expansão para o norte com a ponte, a partir dos anos 1950, e para oeste, com a expulsão da população mais carente da região central para a abertura das vias expressas. 

O mais interessante nessa apresentação da cidade foi saber que a conservação foi não obra de depressão econômica, como Cartagena de las índias, mas de luta popular pela manutenção de sua cidade também como local de memória; contra a entrega da cidade como um território abstrato para valorização e auto-louvor do capital e enriquecimento das elites de sempre. 

Sem querer ele respondia ao meu questionamento: não, não é só o turismo que é capaz de conservar uma cidade, as lutas populares também o fazem, e fazem-no de maneira ainda mais interessante - porque cheio de vida e histórias, ainda que eventualmente menos aprazível aos olhos dos turistas que por ela passam.


15 de julho de 2024

terça-feira, 25 de junho de 2024

Chamar as coisas pelo nome - máquina caça-níquel [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça]

Caminhávamos para almoçar na Liberdade quando passamos em frente a uma loja cujo ramo eu desconhecia, mas foi o ensejo para Macedo comentar que se sente mais tranquilo agora que a esbórnia, digo, o parlamento está para aprovar o projeto de lei para legalização dos jogos de azar, pois vão poder chamar os estabelecimentos pelo seu nome verdadeiro.

Foi quando reparei no interior da loja. Toda colorida, com várias máquinas de garra, dessas em que você pesca um bicho de pelúcia ou uma bugiganga qualquer. Segui sem entender. Macedo explicou que essas máquinas são sabidamente viciadas, e pouco importa a habilidade do jogador, se não for a vez da garra pegar com força a quinquilharia almejada, não vai trazer nada. Não é o que diz nosso judiciário, nem nossa grande imprensa, mas eles parecem entender desse assunto tanto quanto eu - com a diferença que eu não tenho nenhum interesse oculto com relação a esse tópico. 

A principal discrepância entre essas máquinas e as de caça níquel que abundam nos cassinos clandestinos do mesmo bairro da Liberdade, conforme irmã Makioka, é que o prêmio é em quinquilharia, não em dinheiro - mas depende da sorte de qualquer modo - e não se pode fumar dentro do estabelecimento.

Num país em que a mídia vende loteria como investimento (está no Estadão Investimento!), aposta esportiva como se fosse algo racional (aí tem um sem número de influenciadores, sem falar na mídia corporativa que faz propaganda dos “bets”), nada mais saudável que cassinos infantis com suas máquinas caça-níquel disfarçada de jogo do tigrinho, digo, da garrinha, para treinarmos desde cedo a habilidade de nossas crianças na arte da aposta! Quem sabe no futuro não possam lançar todo um parque infantil, um Las Vegas for Kids, com essa temática também!


25 de junho de 2024


PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.


PS2: Links afins ao tema desta crônica:

https://bnldata.com.br/analise-em-maquinas-de-pelucia-revela-que-existe-programacao-que-controla-o-a-forca-da-garra/

https://www.conjur.com.br/2021-out-27/maquina-bicho-pelucia-nao-jogo-azar-empresario-absolvido/

https://einvestidor.estadao.com.br/webstories/5-loterias-mais-faceis-de-ganhar/