sexta-feira, 17 de maio de 2024

Aulas de canto [por Sérgio S., ex-Trezenhum. Humor Sem Graça.]

Cansado de passar vergonha no karaokê, há dois meses decidi fazer aula de canto. O Brotinho foi contra: dizia que a graça do karaokê está justo na vergonha. Discordo veementemente dela, e acho que sua oposição à minha decisão é medo de passar vergonha sozinha, já que ela canta pior do que eu - o que ela discorda. Em tempo, também discordo veementemente de quem acha que a graça de karaokê é cantar música ruim, tipo sertanejo - e falo isso sem fazer juízo de valor, mas com a fria lente da realidade nua e crua -, e já deixei claro aos amigos que se for para ir por essas trilhas nem me chamem, que eu saio no meio e não pago minha parte! 

Karaokê é para a gente brilhar e achar que poderia ser um cantor ou cantora de sucesso - não fosse a triste realidade das quarenta horas -, assim como criança eu achava que poderia me tornar piloto de fórmula um por mandar bem no joguinho World Circuits, no PC (e ainda acredito piamente que só não fui mesmo piloto de fórmula um por falta de herança de meus pais, o que me impediu de desenvolver e mostrar meu talento).

Às aulas de canto, enfim. A professora, preparadora vocal de alguns neófitos da música brasileira que tem despontado, falou que em um mês se pega duas músicas, nos casos mais difíceis, mas em geral são quatro músicas no mês - não necessariamente uma por semana, mas treinaríamos várias músicas nas aulas e ao fim de um mês eu teria um repertório de ao menos duas.

Ela perguntou o que eu gostaria de cantar e mandei meus rockzinhos marotos, de Radiohead a Oasis, passando por Cake, Pato Fu, Fito Paez e Sheryl Crow. E as crianças do CCSP que inventem de chamar isso de música antiga, quando as cantam (menos Fito, que nunca nem devem ter ouvido falar) nos finais de tarde de domingo, em frente ao referido local: são músicas que ouvi quando adolescente/jovem adulto e não estou tão velho assim - apesar dos desmentidos do corpo, e das crianças que cantam em frente o CCSP, que me chamam de “tio irado”, a depender do modelito que estou usando. 

Começamos com três músicas nas duas primeiras semanas. E diante dos meus avanços, a professora achou por bem ficar só com uma - a que mais exige, disse ela, ainda que eu acredite que fosse a mais fácil. Aula vai, aula vem, superada a dificuldade de acompanhar a linha melódica, veio a dificuldade em achar o tom da música. Um mês nessa tarefa inglória e a professora propôs algo inovador: mudar o tom da música! Não diz o ditado que se Maomé não vai até a montanha, a montanha vai até Maomé? E assim foi feito. Já estou quase mantendo o tom na música inteira - o problema vai ser cantá-la no karaokê, já que lá é o tom original.

Em resumo, de três músicas por mês, fiz a professora assumir que será três meses por música. Mas eu sigo firme e forte! E disposto a deixar o Brotinho passar vergonha sozinha!


17 de maio de 2024.



PS: Este é um texto ficcional, teoricamente de humor. Qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência. A imagem também é ilustrativa.

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