No
dia em que se completava um mês da sua perda, estava tristonho e
resolvi ir caminhando para a aula. Passava pelo Brás e vi um
ambulante vendendo uma camiseta do Pica-Pau com o nome da sua irmã –
você iria dar risada s'eu ta presenteasse (como me chamaria de
acadêmico agora, por usar “ta”). À noite havia sonhado de novo
com sua ausência. Diferentemente da outra vez que tive sonho assim,
neste não havia pessoas ou locais familiares, não havia alguma
alusão cinematográfica. Havia um quotidiano qualquer pelo qual eu
circulava tentando segurar o choro (nem sempre conseguindo), por não
ter mais a sua alegria, não ter mais você para compartilhar as
pequenas banalidades, coisas que passariam batidas, muito
provavelmente, não fosse você ter me ajudado a me aprimorar o olhar
para esses tipos de miudezas. Foi um sonho também diferente do
último que tive contigo, há dez dias, no qual você estava
presente: subíamos a Augusta pelo seu lado preferido (o direito),
nos aproximávamos da esquina com a Antônio Carlos – a qual
seguidamente parávamos para bebericar uma cerveja (e você fumar) e
olharmos o movimento –, eu te abraçava e dizia: “Puxa, Misson,
como sinto sua falta”. Você não respondeu nada, porque antes meu
celular tocou, com a mensagem de uma amiga, que perguntava de algo
relacionado a você. Apenas outra de uma série de coincidências que
nesse último mês abalaram minhas (des)crenças. Contra meu
ceticismo, queria crer que há um além, que poderíamos ainda ter
algum contato, e que essas coincidências fossem um sinal da sua
presença. Mais certo, porém, que seja apenas minha dor tentando
aliviar o vazio no meu dia-a-dia deixado pela sua partida. É tarefa
diária reafirmar a mim mesmo a aceitação e o conformismo com sua
perda (há algo mais para fazer?), ainda assim, no fim do dia, me
custa a acreditar: você se foi mesmo? Se eu te mandar um sms
contando da moça de gorro no Folias, você não vai responder? Ao
abrir meus emails não terá um seu lá, com grandes questões
existências em meios a pequenos eventos quotidianos na sua escrita
gostosa de ler? No fim deste dia, no mercado, enquanto ensaiava esta
crônica e me dava conta de que era capaz de lembrar em detalhes o
dia vinte e oito de agosto, começa a tocar Ira!, “Vida Passageira”
– outra coincidência. Queria contá-la para você, para que
tirasse sarro da minha breguice.
Pouco
antes, quando eu subia a Augusta, ao passar pela esquina do sonho,
fiz como tenho feito sempre que passo por ali: cruzo os braços
contra o corpo num abraço imaginário e digo em silêncio: “puxa,
Misson, como você faz falta”.
São
Paulo, 28 de setembro de 2013.