quinta-feira, 17 de junho de 2010

A greve 2010

A Unicamp tem pego pesado contra os funcionários grevistas nesta greve de 2010. Pesado não por recusar a negociar aumento além dos 6,7%, mas na resposta aos ataques que o sindicato tem deferido contra a instituição.

No seu portal (www.unicamp.br) há uma lista de reportagens sobre o quão bom é trabalhar na universidade e quantas pessoas não o querem. Há artigos de professores criticando grevistas e ocupacionistas. E as reiteradas notas do Cruesp, o conselho dos reitores, afirmando que o aumento acima da inflação é parte de um programa de valorização da carreira, sem comprometer o orçamento das universidades paulistas. Até que pondo é verdade, não entro no mérito.

Os grevistas, claro, acusam o reitor de intransigente. Mas perto da greve de 2004, quando o atual todo-poderoso da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, era o reitor da Unicamp e presidente do Cruesp, a evolução política da universidade é gigantesca.

Apesar de ser uma greve pequena, fraca, mal articula e apenas de funcionários, a Unicamp tem se dado o trabalho de rebater os argumentos. Em 2004, o portal da universidade simplesmente não noticiava nada, absolutamente nada, da greve, até a ocupação da reitoria e, dias depois, o piquete em frente ao Bandejão. Foi só com o uso de expedientes extremos que foram não só abertas as negociações com funcionários e professores numa greve longa e forte, como admitida que havia na universidade um litígio político pendente. E que quando admitiu, de pronto desqualificou o movimento, sem entrar no mérito das reivindicações, chamando professora do IFCH para taxar de fascista o ato de ocupação da reitoria – num anacronismo que uma intelectual não poderia cometer.

Da greve deste ano. A reivindicação pode ser justa, mas a forma de pressão é equivocada. Serve para animar o que resta de uma esquerda carnavalesca (que imagina que greve é carnaval), demonstrar a fraqueza do movimento, e isolar ainda mais o sindicato. O problema é que, dado o tiro errado, se a elite sindical retroceder sem conseguir as reivindicações, terá cravado mais um prego no caixão – a cova, ela já cavou há tempos, não é fruto da contratação de tercerizados. Enquanto não se decide se perde ou perde, o sindicato dá mais força às críticas vindas dos setores mais conservadores, que questionam por que pagar o quanto se paga a um funcionário da Unicamp, se se pode contratar um tercerizado – muito mais eficiente – por um terço do custo. Essa disputa, não será com greves dispensáveis que se conseguirá reverter.


Campinas, 17 de junho de 2010.

A copa

Enquanto os patriotas bissextos discutem porque os guerreiros-evangélicos-cervejeiros sob o comando do general ascético Dunga penam para ganhar da seleção que empatou com o Atlético Sorocaba, e que salvo nos cifrões só são capazes de encantar ufanistas de quinta a la Galvão, a copa 2014 vai mostrando a que veio aqui nestes tristes trópicos.

Ela, que de início não teria dinheiro público para além da infra-estrutura, tem se resumido a uma disputa sobre quem e onde será a sua abertura. São Paulo, Belo Horizonte ou Brasília? No Morumbi, ou em algum novo elefante branco, como o Engenhão? Uma das propostas já vem até com o aumentativo do famigerado desperdício do Pan: Piritubão.

As discussões sobre infra-estrutura? Quase acontecem. E por conta disso são tão decisivas como para o resultado de um jogo são os quase gols. Melhoria do sistema de transporte aéreo e terrestre? Eventualmente se discute sobre, sempre centrando a discussão nos cifrões: tantos milhões para o trem-bala, que só ficará pronto para depois da copa, outros tantos para um novo aeroporto ou para ampliar Viracopos. E no resto do país? Acesso aos estádios, transporte público, questões urbanísticas? Disso, ainda não ouvi palavra, salvo reportagens apontando problemas e críticas.

Das autoridades, é crença que tudo se resolve em cima da hora. E talvez seja assim, na hora dá-se um jeito. A questão é a que custo. Há ainda a questão da violência, sempre tratada de maneira muito leviana por políticos e imprensa, e que por ora não teve tratamento diferente do habitual. O que não é de todo mal, ao menos para grandes empresas, visto a chegada da maior multinacional do ramo de segurança, a G4S. Cifrões, sempre eles, como a nossa seleção.

No andar da carroça, em 2014, não será surpresa se além da grande quantidade de dinheiro público jogado no ralo, vermos turistas chegando atrasados a jogos, por conta de congestionamentos e seleções européias desembarcando aqui com coletes a prova de balas: uma bela jogada de anti-marketing!

Campinas, 17 de junho de 2010.