Este final de semana fiz um passeio pelas ruas do Bixiga, na região central da capital. Apresentado como afroturismo, ele é organizado pelo Coletivo Negros do Bixiga, idealizador também do projeto que resultou no documentário homônimo lançado este ano (@negrosdobixiga).
O roteiro não é curto, tampouco longo, porém exige tempo para a imersão pelo bairro proposta por Wellinton Souza, nosso guia e integrante do Coletivo, e poder perceber as sutilezas da relações que se tecem nesse território, um local de resistência em meio a disputas contra a população que o ocupa - em boa medida formada por trabalhadores e estratos mais desfavorecidos da sociedade - vários que moram nos cortiços ainda muito presentes no bairro.
Passando por lugares significativos, conhecidos ou nem tanto, como a Rua Rocha, o sítio arqueológico Saracura Vai-Vai, a Casa do Mestre Ananias, apresenta também alguns recantos absolutamente inesperados, como o Viveiro Comunitário do Bixiga Denuzia Pedreira Bastos, em um pequeno terreno. O roteiro fala também de personalidades negras do bairro (e algumas italianas), como o artista e idealizador do Museu Afro, Emanoel Araújo, os sambistas Geraldo Filme o Pato N’Água (morto pelo esquadrão da morte, em 1968), e outros, além de proporcionar conversas com pessoas que fazem o dia-a-dia do bairro - sem falar dos encontros fortuitos entre o Wellinton e outros moradores, mostrando na prática uma relação muito diferente da que encontro nos bairros de classe média onde residi e resido. Um roteiro que realmente vale a pena fazer!
O que talvez sintetize a atmosfera do bairro seja uma grafiti pelo qual passamos, e que não teve qualquer menção. Um grafiti comum, sem destaque, longe dos painéis com técnica de grafitti que tem ganhado o estatuto de arte e começam a colorir a cidade nas paredes dos prédios - depois de anos sendo reprimidas nos muros.
12 de novembro de 2024