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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Tikal, a altura do tempo [Viagem à Guatemala]

 Três vezes por semana costumo ir à pé para o trabalho - são quarenta minutos de caminhada. Todos os dias subo os sete andares até onde trabalhava (uma semana antes das férias fomos transferidos para o vigésimo quarto andar). Isso para dizer que não estou tão fora de forma e que o passeio a Tikal é mesmo exigente, como subir as escadas até o templo IV, de setenta e cinco metros (os vinte e quatro andares que pretendo começar a subir todos os dias), depois de já ter subido outros três templos e o observatório astronômico, de alturas consideráveis, sem falar nos templos mais baixos, mas com degraus grandes, que forçam ainda mais as pernas. Ademais, ao fim, meu relógio marcava  doze mil passos, o que dá entre oito e nove quilômetros.

Tikal é a maior ruína maia da Guatemala, com milhares de construções - muitas delas ainda por escavar.

À chegada, apenas o vislumbre dos fundos do templo do Jaguar já impressiona. Impressiona é pouco, não acho palavras para descrever a sensação de quando vejo o paredão de pedras com sua cúpula por entre árvores, enquanto o guia Carlos ainda dá explicações gerais sobre a organização da cidade. Eu preciso de silêncio para processar - e há um tipo de silêncio ali que não é feito de ausência de sons. E mesmo agora é difícil pôr em texto (minha capacidade como escritor é limitada, ainda mais por não ser poeta). Se eu fosse minimamente místico, eu poderia me referir à energia do local - porque, sim, há algo que impacta para além do racional: um local grandioso demais, com histórias demais, com detalhes demais, com mistérios demais para eu dar conta de entender minimamente a importância com minha vida estreita de classe média remediada.

Fundada ainda antes da era comum, vivendo seu apogeu no período clássico da cultura maia (200 a 900 dC), e abandonada logo em seguida, Tikal chegou a ter trinta mil habitantes internos, numa população total de duzentas e cinquenta mil pessoas. Conforme Carlos, a cada cinquenta e dois anos (quando o calendário solar e o lunar-religioso se encontram) se suplantava o tempo e o templo anterior, por um mais largo e mais alto. É de se imaginar quantas gerações não construíram seus templos sobre outros ali, e qual tamanho não teria se a cidade tivesse persistido.

Nas décadas de 1950 e 60 foi escavada por missões científicas estadunidenses da universidade de Pensilvânia que, claro, saquearam o que encontraram, de objetos quotidianos e rituais a frontões de templos. Restaram os templos - porque não deu para levar. Mas um deles, o de face sul na praça central, me conta Carlos, desmoronou por conta dos túneis das escavações científicas. O Ocidente agindo como Ocidente - Lia diria: branco fazendo branquice. 

Desse desmoronamento é possível ver outras camadas de construções, com suas máscaras grandiloquentes: os novos templos eram construídos sobre os antigos, sem destruí-los, apenas adicionando novas camadas. 

Ainda na praça central, subi no templo das Máscaras, com cerca de quarenta metros de altura. Tratava-se de um local que era exclusivo para sacerdotes e do seu alto dá para sentir o poder dessa posição: abaixo pessoas diminutas, à frente, fazendo vez ao seu tamanho, o templo do Jaguar. E no horizonte, a floresta e o peso de milhares de anos de história.












05 de dezembro de 2025