O
horror. Se meus gatos falassem, muito provavelmente teriam usado essa
palavra para descrever o que passaram com a utilidade doméstica que
recém comprei. Sentimento bastante contrastante com a curiosidade
que enfiavam seus focinhos enquanto eu abria a caixa e montava o
aparelho - estavam tão interessados que nem notaram que havia o fio
da tomada para eles brincarem. Aparelho montado, ligado na tomada,
firme em punho, ligo o aspirador de pó. Meu irmão havia avisado que
o modelo era barulhento. Eu, contudo, impregnado pela lembrança
ensurdecedora do antigo aspirador de pó da casa de meus pais, achei-o barulhento pero no mucho. Não foi o que acharam Mafalda e
Guile. Ao ligar, se assustaram - melhor: se atemorizaram. Mafalda foi para baixo da mesa e
começou com seu miado curto - quase um latido; Guile correu para
debaixo da cama (na minha última temporada na casa dos meus pais, eles aproveitaram minha ausência para abrir um buraco no forro
da cama e fizeram ali uma cabaninha, na qual passam madrugadas
brincando, quase sem dar trancos que balançam a cama toda). Comecei
a limpeza pelo quarto, e Guile tratou de fugir de seu precário
esconderijo, achando um local seguro sobre a cama: embaixo da
colcha. Mafalda eu não vi até desligar o aparelho - o que não
levou muito tempo, dez minutos, se muito, visto que minha casa tem
trinta metros quadrados.
Limpo o filtro, enrolo o cabo, e guardo o
aspirador num dos poucos lugares ainda vagos na minha casa: embaixo
da pia da cozinha. Vou em busca dos gatos, e tenho certa dificuldade
em fazer as pazes - tenho que agarrar o Guile, que foge de mim como
se eu fosse o próprio aspirador de pó. Já acalmados, notam o
monstro guardado. Mafalda tão logo vê, tão logo sai da cozinha.
Guile várias vezes inspeciona - sempre a prudente distância e cheio
de cuidados. Dois dias depois, quando vou utilizar o aspirador de pó
pela segunda vez, ao me verem com o monstro em mãos, ficam alerta.
Ao soar do estrondo, fogem ambos para um lugar escondido e seguro - embaixo da
colcha -, e só saem de lá depois do som ter cessado há um tempo. O
horror, dá pra perceber em seus corpos.
24 de outubro de 2015
Os irmãos muito bem escondidos em lugar seguro |
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