Doze
de outubro, dia das crianças. A depender de uma parcela considerável
da população (considerável não por ser maioria, mas por ser
poderosa), em breve estaremos discutindo se as crianças merecem
saidão nessa data, ou apenas no natal. Enquanto nossas
crianças-soldado morrem sem saber o que é infância e sem a
garantia do paraíso por Alá - executados por criminosos com e sem
farda -, religiosos, políticos, empresários (quando não os três
na mesma figura) lavam uns as mãos dos outros com o dinheiro que
toda essa indústria do medo e da punição gera. Na linha de frente,
policiais militares apedeutas que executam e repetem o que o
governador manda, e criminosos televisivos que durante a tarde e a
noite defendem execuções sumárias e destilam discursos de ódio,
encampados pelo direito de "liberdade de opinião", que não
são opinativos (são criminoso), nem são livres (porque passam
longe de ser democráticos). Datena, serviçal de uma das famílias
midiáticas brasileiras que rasgam as leis sem pudores, certa feita
já nos ensinou que a causa da criminalidade é não acreditar em
deus - de onde pode-se deduzir que crianças mortas nas favelas são
ateus, enquano Eduardo Cunha não é criminoso. Sargento Fahur, da PM
do Paraná, em qualquer país em que o Estado Democrático de Direito
é sério, já teria sido afastado de suas funções - ou ao menos de
dar entrevistas.
Que
não seja para um ano ou dois a redução da minoridade penal, o
discurso desses sacripantas televisos, religiosos e políticos é de
uma perversidade pouco notada, mas de efeitos reais. Uma professia
auto-realizável, dada a força dos setores que a defendem. A
justificativa pelo encarceramento de crianças e jovens tem dois
argumentos: eles seriam conscientes de seus atos e, conforme a lei
atual, eles poderiam praticar crimes impunemente. Quanto ao argumento
da consciência, esses senhores ilustrados são de uma desfaçatez
vergonhosa; ou então falta eles serem conscientes da realidade
social, saber que uma pessoa não se faz sozinha, mas a partir das
suas relações - o que não implica em concordar com certa
esquerda-Peter-Pan, para quem a condição social é habeas corpus
suficiente para crimes. Já no argumento da impunidade eles
demonstram sua perversidade.
Ao
dizer em rede nacional, em horário nobre, que menor de idade pode
cometer o crime que quiser que não é punido, além de ser mentira -
por mais que o menor não seja escalado para ingressar o PCC, ele
sofre punições, inclusive de privação de liberdade -, esse
discurso, repetido diuturnamente faz com que muitas crianças - sem
plena consciência de seus atos - acreditem nele e passem a cometer
crimes, crentes de que "não serão punidos". Ao repetir o
discurso da impunidade, Datena, Cunha, Sgto. Fahur e afins estão, na
verdade, chamando jovens e crianças para o crime: "você, jovem
que ainda não completou dezoito anos, que sabe que nunca será nada
na vida, aproveite agora e tente ganhar dinheiro rápido pra ser
alguém. Mas venha logo, antes que você cresça e a polícia te
prenda!". Não é difícil jovens de formação muito precária,
sem perspectivas, sob o bombardeio da publicidade e do consumismo, se
deixarem encantar por esse canto da sereia. Como não são Ulisses
atados ao poste, se afogarão.
Ouvi
dizer que nas UPPs do Rio de Janeiro, a exemplo do que ocorre nas
periferias das grandes cidades brasileiras, o governo distribui balas
para crianças - quareta milímetros. "Quem não reagiu está
vivo", explica o governador Alckmin.
12
de outubro de 2015.
Bandido bom é bandido morto. Mas só quando o bandido é o Outro. |
Sem comentários:
Enviar um comentário