Puxa-saquismo de resultado. Começou a rolar um zumzum no setor de que doutora Sabujinha teria uma proposta de emprego melhor. Sempre disposta a fazer o que os chefes mandam, sem se incomodar com o que seja, nem de passar por cima dos colegas, além de ser uma doutora em sua área, sua possível saída levantou um sinal amarelo da chefia, sempre afeita a funcionários submissos e acríticos. A suspeita ganhou mais corpo com uma série de reuniões entre a chefia e ela. Por fim, ela segue na empresa - por enquanto.
Fica, porém sem promoção. Diz a rádio peão que é por ter pouco tempo de casa - contudo os doutores sabujinhos que a antecederam conseguiram-na em igual tempo, ou seja, o problema de fato é ela ser mulher. Mas, para não sair de mãos abanando, ou melhor, para ficar de mãos abanando, no lugar da promoção ela ganhou uma reduflação: diminuíram as atividades e responsabilidades que ela tinha - que já eram parcas, por mais que se queixasse.
Claro, trabalhos não somem, alguém precisou ficar com a bucha. Ficou para Carnegie, que se recusou a aceitar, diante de tudo o que já tem para fazer. Sem ter como argumentar contra fatos, a chefe jogou para mim, que não tive como alegar nada e só me restou aceitar - frustrando meus planos enunciados em crônica anterior. Na disputa pelo mais vagal do setor, um a zero para a doutora Sabujinha. Fato curioso: como que esqueceram Macedo, que é quem sempre recebe as demandas sem dono, e as aceita, mesmo estando sobrecarregado?
Puxa-saquismo profissional. Tal qual o último doutor Sabujinho, doutora Sabujinha sabe que é importante fazer uma moral com os colegas - ao menos aqueles que ela ainda não enfiou uma faca nas costas.
Ela, que já era bem relacionada, desde que decidiu permanecer, passou a ser a pessoa mais simpática do setor - para grande amargor dos que já sentiram suas botas de alpinismo no lombo.
Aproveitou a deixa de um grupo para apostar na loto para, inspirada no nobre colega Goreti, organizar uma macarronada com galeto - e mostrar para a chefia proatividade e capacidade de liderar um grupo. Claro, nem todos foram convidados: aqueles que já a enfrentaram ficaram de fora - este escriba entre eles.
Dos que foram convidados, a maioria topou. A data: quinto dia útil do mês, dia em que os funcionários, alegres pelo salário que pingou na conta, saem para comer fora, como se não tivesse o mês todo pela frente.
Assim, foram para o refeitório munidos de três potes de macarrão - um de penne, um de fusilli e um de espaguete -, dois potes de molho - vermelho e branco - e quatro airfryers para o galeto. De modo que na hora de preparar o almoço coletivo eram seis micro-ondas (havia um sendo utilizado por um funcionário de outro setor) e quatro airfryers ligados simultaneamente no mesmo disjuntor. Claro, óbvio, o disjuntor caiu. Não sem antes queimar quatro dos oito micro-ondas e três airfryers.
As reações foram diversas. Alguns, que já caíram no papinho da colega, ficaram consternados por ela; os que tiveram seus eletrodomésticos queimados estão com raiva, e os demais, que não tinham nada a ver com a história, estão simplesmente revoltados - até porque a empresa já avisou que não irá comprar novos aparelhos tão cedo. Assim, as filas para esquentar a comida, que já eram grandes, aumentaram ainda mais, chegando a passar de meia hora!
E se o povo ficou emputecido com ela, por ferrar o horário de almoço, os chefes, que nunca almoçam no refeitório, devem ter achado o gesto genial. Para os colegas, ela estragou o almoço, para a chefia, serviu um banquete de proatividade.